Análise de J.R. Nyquist
“A Rússia fez, inicialmente, tudo o que pôde para garantir que esses desentendimentos pudessem ser resolvidos de maneira pacífica. Contudo, os agentes de Kiev conduziram duas operações sancionatórias naqueles territórios; e, aparentemente, estamos testemunhando uma terceira escalada. Todos os anos… o povo vivendo naqueles territórios tem sido literalmente torturado por constantes bombardeios e bloqueios”.
Vladimir Putin, 21 de fevereiro de 2022
O presidente Vladimir Putin passou meses instalando tropas russas em torno da Ucrânia, nos três flancos. Claro, ele disse que a Rússia não iria invadir a Ucrânia; e muitos acreditaram nele. Na semana passada, quando o porta-voz de Putin anunciou que as tropas russas estariam se retirando, também acreditaram nele. Mas as tropas não saíram de seus postos. Elas se moveram para mais perto da fronteira com a Ucrânia. Em seguida, alegou-se que os ucranianos fizeram uma coisa errada; muito errada. Desse modo, as tropas russas não foram para casa como anunciado. Elas ficaram em posição; e na segunda-feira, Putin decidiu invadir a parte leste da Ucrânia. E agora ele pede à Duma permissão para usar a estrutura militar russa para atacar forças de fora do país. Alguns analistas inteligentes acreditam que uma invasão geral da Ucrânia começará em breve.
Putin oferece todo tipo de justificativa para sua invasão contra a Ucrânia: ele diz que os EUA implementaram um golpe nesse país e tomaram o poder. Também afirma que os ucranianos estariam cometendo genocídio contra grupos étnicos russos instalados no leste da Ucrânia. Reclama que o Ocidente prometera não admitir nações do Leste Europeu na OTAN[i], mesmo que não tenha sido firmado nenhum tratado ou acordo formal a esse respeito. Putin ainda alega que a Ucrânia não seria um país de verdade, e sim, uma “criação de Lenin.” (Falso.) Desse modo, ela não teria o direito de existir. Instigando ainda mais esse tumulto, Putin sugere que o fim da União Soviética fora ilegal.
Dado o testemunho de inúmeros desertores, e um senso estratégico das coisas, parece que Moscou sempre planejou retomar a Ucrânia, ainda que apenas para reconstituir a União Soviética. Há algo de inevitável nessa aliança entre Moscou e a China comunista, a República Democrática da Coreia, Cuba e outros países comunistas. Alguém se importou em prestar a atenção nisso? Não. Estavam todos muito ocupados com seu “dividendo da paz”, parabenizando-se pela “vitória” na Guerra Fria. O retorno da Ucrânia à União e a restauração do bloco comunista nunca deixaram de fazer parte das estratégias.
Quando as pessoas vão acordar? A esquerda continua enganando e a direita continua iludida. Ambas têm suas próprias narrativas e as duas sempre estiveram erradas. Como podemos deixar esse constrangimento para trás? Até agora os picaretas da conspiração estão culpando as elites ocidentais pela guerra. Ainda que ela tenha começado por ordem de Moscou, após a reunião de Putin com o líder chinês, Xi, em 4 de fevereiro. A maioria das pessoas nunca perceberá o que isso significa estrategicamente; isto é, que estamos agora na última fase do longo plano levado a cabo pelo bloco comunista. E isso quer dizer que uma emboscada está sendo organizada.
Os poderes comunistas, contudo, vivenciam um dilema específico nesse momento. Após enganarem todos por décadas, como farão com que as pessoas percebam que eles falam sério desta vez? E se não puderem, como um saqueador de estrada, convencer o Ocidente a se render pacificamente com a arma em punho? Nas circunstâncias presentes, o Ocidente está ameaçando impor sanções à Rússia por conta da invasão à Ucrânia. Sanções? Aos novos donos do mundo? (Mas então, alguém percebeu quem são esses novos donos?)
Se os Estados Unidos colocam sanções à Rússia, os russos falam em lançar um cyber ataque devastador contra eles. Em resposta a isso, o presidente Biden prometeu retaliar à altura. O que acontece, então? Um agravamento mais profundo? Provavelmente. Há algum jeito de evitar uma guerra mais ampla no ponto em que estamos? Como isso seria possível dada a dinâmica exposta?
Nossos bancos, empresas, sistema de trocas nunca deveriam ter dado a Moscou créditos, tecnologia ou vantagens comerciais. Nossos líderes nunca deveriam ter admitido a entrada da China na Organização Mundial do Comércio. Após vinte anos, quais os benefícios dessa abertura pós Guerra Fria em direção a Pequim e Moscou? Estamos agora na iminência de uma guerra no Leste Europeu, sem saber se ela irá escalar ou não.
O governo de Putin tem, nas últimas semanas, ameaçado a Finlândia, Suécia, Polônia e os Países Bálticos. Ele sabe que a OTAN está fraca e foi subvertida. Sabe que os EUA estão fracos e despreparados para uma guerra. E ainda, Putin tem a China como aliada. Por que ele deveria temer qualquer um deles? Ele pode ameaçar e fazer barulho, sim. Mas pode também cumprir essas ameaças. Ele está poderoso agora. Ele construiu uma estrutura militar e se gaba de estar “espalhando armas e postos de combate que não têm paralelo ao redor do mundo”. A Ucrânia convocou seus reforços de última hora. Se a Rússia atacar rapidamente, a mobilização virá muito tarde. O chão não está congelado, mas lamacento. O céu está encoberto com a previsão de chuva para Kiev hoje. A blindagem russa virá mais lenta. Mas o que mais será delongado? A Ucrânia está sendo abandonada porque os EUA e os outros aliados não se prepararam, não levaram a sério as ameaças russas. E agora estamos alimentando o crocodilo na esperança de que ele nos devore por último.
Hoje, as forças russas supostamente iniciaram o “silêncio de rádio”. Algumas fontes dizem que uma guerra decisiva começará em poucas semanas. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi informado de que uma invasão russa completa, envolvendo ataques aéreos e de mísseis, pode começar nas próximas 48 horas. O ministro das relações exteriores da Ucrânia, tentando se agarrar ao último recurso, disse que a Rússia está pronta para atacar e que há apenas um curto período para convencê-la do contrário (isto é, para que o Ocidente se declare disposto a defender o país).
Os líderes russos podem estar alegando cinicamente que a Ucrânia os provocou e que a OTAN os traiu, mas eles são os verdadeiros traidores. Eles passaram por cima do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário. Do Tratado Sobre Forças Convencionais na Europa. Até a OTAN se livrou de milhares de armas táticas nucleares e os russos mantiveram 20.000 dessas armas. Bom, agora só nos resta testar para saber. Assista à Ucrânia.
Postado em 23 de fevereiro de 2022
ENTREVISTA COM O PROJETO OPPENHEIMER RANCH
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NOTAS E LINKS:
[i] Ver M.E. Sarotte, Not One Inch: America, Russia, and the Making of the Post-Cold War Stalemate. A pesquisa de Sarotte mostra que nenhuma promessa do tipo fora feita a Moscou. Na verdade, Moscou assinou tratados que trouxeram a OTAN para mais perto das fronteiras russas.
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Meu sentimento é que teremos uma escalada desta guerra sim, sem nenhuma capacidade do Ocidente de frear esse absurdo por ter perdido tempo discutindo besteiras, destruindo-se por dentro… O próximo passo do bloco comunista Sino-Russo, será o ataque a Taiwan. Esse treco não acabará bem, sanções não adiantarão absolutamente nada.
A Europa está na mão dos russos, depende do fornecimento de gás…. Com líderes fracos e um povo mais preocupado com o que tem no meio das pernas, em breve estarão falando russo.