DOSE DE FÉ | Tomé

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Em destaque no Evangelho de São João, o Apóstolo São Tomé nos inspira disponibilidade, coragem, humildade e fé no seguimento a Nosso Senhor

Hoje é dia de São Tomé, Apóstolo.

Natural da Galileia, Tomé foi um dos 12 Apóstolos escolhidos por Jesus. Seu nome quer dizer “gêmeo” (“didymus” em grego), o que faz supor que ele tivesse um irmão gêmeo. Ele acompanhou Nosso Senhor em Seus três anos de vida pública. Após receber o Espírito Santo em Pentecostes, pregou na Pérsia, na Síria e depois nas Índias. Há quem diga que esteve na América, e, mais precisamente, aqui no Brasil, onde era conhecido por “Sumé” entre os índios da Capitania de São Vicente.

Tomé ganha especial destaque no Evangelho de São João, em três passagens. Na primeira, quando Jesus segue para Betânia, onde irá ressuscitar seu primo Lázaro, e alguns dos Discípulos chegam a questioná-Lo, por temerem que o Mestre estaria perto demais de Jerusalém, onde era procurado pelos chefes judeus, que queriam matá-Lo. O Apóstolo, decidido, pronuncia-se: “Vamos nós também, para morrermos com ele” (Jo 11, 16). Este episódio marca duas características importantes de São Tomé a serem imitadas por nós: disponibilidade e coragem no seguimento a Deus.

A segunda passagem refere-se à Santa Ceia. Quando Jesus prediz aos Apóstolos Sua partida próxima, explica-lhes: “Para onde eu vou, vós conheceis o caminho” (Jo 14, 4).  Tomé então intervém: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14, 5) Isso abre a oportunidade para Nosso Senhor, em resposta, fazer Sua famosa definição: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.” (Jo 14, 6) Além de mostrar humildade do Apóstolo em assumir sua ignorância e não ter vergonha de se expor diante de Deus nessa condição, nesse episódio Tomé é quem abre a brecha para Revelação de Jesus como o Caminho. E, novamente, aponta para a vontade do seguidor em segui-Lo.

A terceira passagem, mais emblemática, refere-se à falta de fé do Apóstolo em não crer na ressurreição de Jesus. Tomé, cético, afirma: “Se eu não vir em Suas mãos o lugar dos cravos e não puser meu dedo no lugar dos cravos e minha mão em Seu lado, não crerei.” (Jo 20, 25) E quando, oito dias depois, o Ressuscitado apareceu no Cenáculo, com Tomé presente, mostra-lhe Suas Chagas e o convida para tocá-Las, o Apóstolo exclama: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28) É então que Jesus diz outra frase emblemática do 4º Evangelho: “Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram.” (Jo 20, 29)

“A dúvida de São Tomé” (1601 – 1602), famosa tela de Caravaggio sobre o Apóstolo

Aqui, novamente o Apóstolo abre uma brecha para a catequese de Cristo sobre a importância da verdadeira fé, que dispensa provas. Nenhum de nós esteve com Cristo como Seus Seguidores, nenhum de nós viu-O em pessoa, mas devemos crer n’Ele para obtermos Sua Graça.

Ainda, é importante assinalar que a atitude de Tomé (que ainda não havia recebido o Espírito Santo) nesse último episódio remete às nossas próprias fraquezas de fé. Assim como o Apóstolo, assim como Moisés e Aarão e tantos outros santos, nós já duvidamos de Deus e do poder de Sua Graça. Mas importa que, como Tomé, tenhamos a humildade e a força para reconhecer esse fraqueza e, como ele, exclamarmos com todo nosso amor o mesmo que ele há dois mil anos.

É interessante ainda assinalar o que Bento XVI registra sobre esse episódio: “O caso do Apóstolo Tomé é importante para nós por três motivos: primeiro, porque nos conforta em nossa insegurança; segundo, porque demonstra que toda dúvida pode levar a um resultado mais luminoso do que qualquer incerteza; e por fim, porque as palavras que Jesus lhe dirigiu nos lembram o verdadeiro significado da fé madura e nos encorajam a perseverar, apesar das dificuldades, em nossa jornada de adesão a Ele.” (Os Apóstolos, p. 121)

São Tomé foi martirizado na região de Malabar, na Índia, onde sua pregação estava ocasionando milhares de conversões. Líderes hindus, diante daquele “incômodo”, mataram-no com lanças.  No Século XVI, quando os portugueses chegaram àquele país, descobriram a cripta onde está sepultado o corpo do Apóstolo, bem como suas relíquias, um pouco de sangue coagulado e um pedaço de uma lança que o feriu de morte.

O milagre do tsunami

Em dezembro de 2004, quando um tsunami devastou a região de Malabar, a Igreja de São Tomé, onde se encontram suas relíquias, permaneceu intacta. Segundo uma tradição local, o Apóstolo teria fincado um poste em frente ao lugar onde fica a igreja, afirmando que as águas do mar jamais ultrapassariam aquela marca. O poste lá se conserva até hoje e, diante dos fatos, não há do que duvidar.

Basílica de São Tomé, em Madras, onde o Apóstolo está sepultado

Que a coragem, a disponibilidade em seguir ao Senhor, a humildade e a fé de São Tomé nos inspirem sempre. Quando nos sentirmos fracos e vacilantes na fé, chamemos por ele:

São Tomé, rogai por nós!

 

Lição de Fé

Baseado no Evangelho de São João

 

Quando contaram que Jesus vivia

após Sua morte, o Apóstolo Tomé

não quis crer na Verdade que não via:

 

“Eu quero ver feridos mão e pé,

quero tocar a chaga do Seu lado,

e nas feridas pôr o dedo até!”,

 

assim disse ele, cético e aprumado.

Porém, após uns dias, novamente

a Seus amigos o Ressuscitado

 

apareceu, glorioso e esplandecente,

a expor as Santas Chagas a sangrar,

e assim disse ao Discípulo descrente:

 

“Eis-me aqui, podes ver, podes tocar.”

Tomé, todo tomado de estupor,

caiu no chão de joelhos a exclamar:

 

“Meu senhor e meu Deus!”, e com amor

Jesus repreendeu-lhe: “Tu és bendito

porque viste e então creste em teu Senhor,

 

no entanto, não se esqueça o que ora é dito:

muito mais bem-aventurado é

aquele que acredita sem ter visto!”

 

E pela mão puxando São Tomé,

ergueu-o para Si e o abraçou,

e assim termina esta lição de Fé

 

que o Amado Apóstolo nos registrou.


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2 COMENTÁRIOS

  1. (…)”E pela mão puxando São Tomé,

    ergueu-o para Si e o abraçou,

    e assim termina esta lição de Fé”

    Que a coragem, a disponibilidade em seguir ao Senhor, a humildade e a fé de São Tomé nos inspirem sempre. Quando nos sentirmos fracos e vacilantes na fé, chamemos por ele:

    São Tomé, rogai por nós!

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