MURALHA DE LIVROS | O Bem e o Mal na Muralha de Páscoa

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Nesta Muralha que antecede a Festa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, Sumo Bem que venceu o Mal com Seu sacrifício, destacamos seis obras que nos conduzem à elevação da inteligência e do espírito, e uma que, desde sua publicação, vem gerando o caos no mundo e contribuindo para a perdição de um sem-número de almas.

No entanto, todas estas obras – as boas e a má – são importantes instrumentos para a compreensão dos caminhos do Bem e do Mal neste mundo, e das escolhas que devemos fazer com a liberdade que nos é dada pelo amor de nosso Criador.

Confira os lançamentos a seguir, e uma abençoada Páscoa!

Destaques

O grande destaque da semana é da Sétimo Selo, História da Literatura Brasileira, de Luciana Stegagno Picchio.

A obra constitui um dos mais abrangentes panoramas das letras brasileiras ao longo dos séculos. Com maestria, a autora não se limita apenas a traçar, desde a colonização até as expressões contemporâneas, toda a evolução da literatura brasileira, mas também analisa e avalia escritores e movimentos, sem jamais destruir-lhes a personalidade poética. Em autênticos ensaios, sua abordagem destaca aspectos novíssimos e busca sempre compreender, no sentido mais amplo, quanto um outro homem, mesmo distante no tempo e no espaço, confiou às palavras. É uma história estética da literatura em que a divagação teórica e o exibicionismo erudito não tomam o lugar do conhecimento factual (fundado em bibliografia exaustiva e modelar) nem o anacronismo doutrinário da realidade histórica. Graças a uma visão de conjunto raramente encontrada entre nós, História da literatura brasileira é uma obra essencial para a compreensão de nossa cultura.

Leia a seguir um trecho da obra, sobre São José de Anchieta:

“Barrocos em sua recusa das unidades aristotélicas, os textos dramáticos de Anchieta inserem-se, por outro lado, no gênero do auto religioso de que Gil Vicente se constituíra o paradigma. E como na obra do dramaturgo português, para aí convergem diabos e santos, anjos e personificações alegóricas, Cristo e a Virgem, soldados e mercadores, mas também índios e padres jesuítas, coletivamente empenhados numa girândola verbal de nítida ascendência gilvicentina. Os diabos têm nomes tupis (Saraiúva, Aimbirê, Guaixará) e surgem em cena pintados de vermelho, emplumados e tatuados, falam tupi, fumam e se embriagam, declaram-se antropófagos e assassinos, adúlteros e luteranos. As alegorias falam em espanhol e português: tudo temperado com o saboroso latim macarrônico de Gil Vicente.”

Outro destaque é um lançamento da Texugo, O dragão do meu pai, de Ruth Stiles Gannet.

O livro conta a história de Elmer Hélice, um garoto que encontra na rua uma gatinha falante e decide acolhê-la em casa. Apesar da recusa de sua mãe em deixar que ela fique, o menino e a felina se tornam amigos. Ao descobrir que Elmer sonhava em “voar pra onde der na telha”, a gata compartilha um segredo: um bebê dragão está aprisionado na Ilha Selvagem e, se fosse liberto, poderia voar com ele para onde o menino quisesse. Incentivado por essa revelação e em busca de sua própria independência, Elmer foge para a ilha armado apenas com sua mochila contendo itens peculiares, com os quais ele precisará se defender das feras terríveis que encontrará pelo caminho para, então, alcançar o seu objetivo.

O dragão do meu pai é uma história atemporal que encanta crianças e adultos com sua mensagem de amizade, coragem e superação. A aventura de Elmer e Boris é uma jornada emocionante que nos ensina a importância de lutar pelos nossos sonhos e ajudar os outros.

Esta nova edição brasileira, esgotada há muito tempo no Brasil, partiu de uma iniciativa de Marcela Saint Martin, que, em parceria com o Cedet, lançou nesta semana a Biblioteca Marcela Saint Martin, que visa a trazer ao nosso mercado editorial importantes obras da literatura infanto-juvenil que nunca foram publicadas, ou que estão esgotadas, ou que carecem de edições e traduções melhores.

Confira abaixo um trecho do prefácio escrito pela professor Saint Martin:

“Na primavera de 1947, uma jovem nova-iorquina de 24 anos decidiu terminar uma história, que havia começado anos antes, sobre um filhote de dragão mantido prisioneiro numa ilha. O narrador da história – um garoto por volta dos seus dez anos – conta as aventuras de seu próprio pai, Elmer Hélice, quando este era menino e resolveu fugir de casa para viver a maior aventura da sua vida.

A autora era Ruth Stiles Gannet. Após ler o manuscrito em voz alta para a sua família, seus pais recomendaram que tentasse publicá-lo. Embora essa não fosse sua intenção inicial (ela teria escrito a história apenas para se divertir), aquela pareceu-lhe uma boa ideia. E, para sua surpresa, a obra foi aceita pela Random House, uma grande editora de livros infantis.

O editor, embora reconhecesse o potencial da história, decidiu enviar cópias dela a uma escola pública de Boston, a fim de avaliar a reação das crianças. A experiência foi um sucesso, e a obra foi, enfim, publicada – ainda que um dos professores tenha afirmado tratar-se do ‘fruto de uma mente enlouquecida’.

Pois esse ‘fruto de uma mente enlouquecida’ ganharia, no ano seguinte (1948), um dos prêmios literário mais importante dos Estados Unidos: a prestigiosa Medalha Newbery, concedida a livros infantis notáveis – e nunca deixou de ser editado desde então.”

Também merece destaque um importante lançamento da Molokai,a Coleção Bento XVI: Homilias e Angelus. O box reúne em 6 volumes todas as homilias e discursos do Angelus do querido Santo Padre falecido há pouco mais de um ano.

As homilias do Papa Bento XVI, dominicais e dos dias comuns, são instrumento que ressoa o mais puro Evangelho. Nos conturbados anos iniciais do século XXI, cujo pecado é ordem vigente, as palavras do papa alemão firmam-se no aconselhamento por orações diárias, por uma vida dedicada à glória de Deus, sacramentos e devoção mariana.

Nos textos de Angelus, o Papa, atento aos atalhos tortuosos que o mundo escolheu, sem ressalvas, mas cheio do amor de Cristo, manteve-se enfático apontando o caminho único que conduz a humanidade à mínima paz social, à preparação para a consolidação do Reino de Deus.

A Coleção Bento XVI, segundo os próprios editores, traz ao público “um legado cujos frutos germinam até hoje, nesta verdadeira renovação católica: o retorno à sua essência tradicional.”

Outros lançamentos

E se o assunto é catolicismo e tradição, Centro Dom Bosco trouxe nesta semana um importante lançamento: Sou eu, o acusado, quem devia julgar, de D. Marcel Lefebvre.

Dom Lefebvre (1905 — 1991) foi um arcebispo católico francês que se notabilizou pela resistência às reformas da Igreja Católica instauradas pelo Concílio Vaticano II. Foi uma personalidade polêmica e controversa e um dos promotores do movimento tradicionalista católico. É sobretudo conhecido pela fundação da Fraternidade Sacerdotal de S. Pio X, que se dedica à formação de padres e ao apostolado na forma pré-conciliar. Este lançamento do Centro Dom Bosco registra seu testamento espiritual, em que se condensam os principais pontos de contestação do eminente religioso francês contra diversos erros pós-conciliares.

Também pelo Centro Dom Bosco, o quarto volume das Obras Completas da Irmã Amália de Jesus Flagelado – vidente de Nossa Senhora das Lágrimas: O bom combate. Sobre esta obra, registrem-se as impressões do Professor Raphael Tonon, historiador e pesquisador das aparições de Nossa Senhora das Lágrimas:

O amor às coisas sagradas, a confiança filial em Deus, a caridade ao olhar para as necessidades do próximo e compadecer-se dele, a capacidade de renúncia dos próprios gostos e o cumprimento fiel dos deveres de estado são alguns dos temas abordados nesses sagrados colóquios aqui transcristos, que nos ajudarão a percorrer o nosso caminho de santificação pessoal. […] Por isso, a obra que o leitor tem em mãos é um farol para clarear os passos nos caminhos turvos de nossas vidas e conduzir-nos a uma decisão firme pela nossa própria salvação. […]

Que Nossa Senhora, a sedes sapientiae, nos conduza neste combate, em que a espada é Elamesma. Lutemos para que Cristo reine em nós!”

E, se falamos em catolicismo, a Ecclesiae lançou nesta semana mais uma obra de um dos católicos mais lidos e queridos, G.K. Chesterno: Os usos da diversidade.

Com o humor que lhe é peculiar, Chesterton declara, logo na abertura desta coletânea de ensaios, que a seriedade não é uma virtude, dando o tom leve e divertido dos textos que se seguem, originalmente publicados em suas colunas semanais no The Illustrated London News e no New Witness. Neles, o Príncipe do Paradoxo aborda uma variedade de temas, desde postes de luz até o livro Emma, de Jane Austen; desde porcos como animais de estimação até o mormonismo e a seita Ciência Cristã — ensaios não necessariamente relacionados, mas que continuam encantadores mesmo ao discutir assuntos sérios.

E após seis excelentes e edificantes obras, fechamos esta edição da Muralha com uma de conteúdo pernicioso e consequências catastróficas – e, justamente por isso, de leitura tão necessária. Trata-se do Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, lançamento da Edições Livre.

Independente de nossa posição política, devemos compreender o impacto que Marx e o Manifesto do Partido Comunista tiveram. Desde sua publicação, a sociedade ocidental tomou rumos diretamente influenciados pela ideologia presente nesta pequena obra. Por isso, a Livre trouxe ao púbico esta nova edição do Manifesto, com todos os prefácios já escritos por Engels e Marx – importantes textos que, para quem não entendeu a essência maligna do livro, deixam bem claras as intenções dos autores.

 

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