DOSE DE FÉ | São Paulo de Tebas

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Primeiro eremita de que se tem registro na História da Igreja, São Paulo de Tebas morreu com 113 anos e foi sepultado por Santo Antão

Hoje é dia de São Paulo de Tebas, eremita. Por ser o primeiro ermitão de que se tem registro na História da Igreja, ele também é chamado São Paulo, o Primeiro Eremita.

Nascido na Tebas egípcia, em 228, Paulo provinha de uma família nobre e muito rica. Perdeu os pais aos 15 anos e tornou-se herdeiro de toda a sua fortuna, pois sua única irmã já havia se casado com um rico nobre da região. No entanto, seu cunhado arquitetava para eliminá-lo e ficar com todos os seus bens.

Quando Paulo estava com 22 anos, seu cunhado denunciou-o por ser cristão, e o jovem precisou fugir para o deserto para não ser morto. Caminhou sem rumo até encontrar uma gruta que havia sido esconderijo de falsificadores de moedas nos tempos da rainha Cleópatra. Acabou se estabelecendo por lá, onde passou a viver em plena contemplação. Até os 53 anos, bebeu água de uma fonte contígua e se alimentou das frutas que encontrava por ali. Quando estas escassearam, todos os dias um corvo aparecia sempre no mesmo horário trazendo-lhe meio pão. Assim Paulo viveu todos os dias de sua longa vida.

Quando o eremita estava com 113 anos, em outra parte do deserto, Santo Antão, que então estava com 90 anos, sentiu-se chamado a vagar até encontrá-lo. Ele não sabia muito bem quem procurava, senão “um fiel servo de Deus”. Vagou por muito tempo, sendo muitas vezes assediado por demônios, que apareciam em formas monstruosas e lhe indicavam os caminhos errados, fazendo-o desviar-se de seu destino. Santo Antão persistiu em sua caminhada, até que uma loba indicou-lhe a gruta onde vivia Paulo.

Os dois ermitões, quando se viram, cumprimentaram-se pelo nome como se conhecessem há muito tempo. Naquele dia, o corvo apareceu com um pão inteiro para que eles dividissem. Os dois oraram e conversaram por muito tempo, como almas irmãs. No dia seguinte, Paulo revelou ao amigo que ele fora enviado para sepultá-lo, pois era chegada a sua hora. Pediu-lhe para que fosse buscar o manto do Bispo Atanásio, de Alexandria, no qual seu corpo deveria ser envolvido. Santo Antão cumpriu a tarefa em três dias. Quando chegou à gruta, Paulo havia acabado de morrer, mas ele pôde ver sua alma sendo elevada ao Céu, cercada de Anjos, dos Apóstolos e dos Profetas.

Santo Antão embalou o corpo de Paulo com o manto de Santo Atanásio, e levou para si o que era do amigo eremita. Teve dificuldades para encontrar um local para o sepulcro, mas foi acudido por dois leões, que o guiaram até um lugar propício, e os animais mesmos cavaram a sepultura. Naquele lugar, Santo Antão erigiu uma igreja.

“Santo Antão, o Abade, e São Paulo, o Primeiro Eremita” (1634 – 1660), de Diego Velásquez, exposto no Museu do Prado, em Madri

O culto a São Paulo de Tebas espalhou-se rapidamente no Oriente. No século XI, o imperador bizantino Comneno transportou suas relíquias para Constantinopla. Em 1240, elas foram levadas para Veneza, quando a veneração pelo santo eremita já se espalhava pelo Ocidente, sobretudo a partir da Ordem dos Monges Paulinos, surgida na Hungria em 1215.

Brasão da Ordem de São Paulo de Tebas

 Em 1381, o rei Luís I, da Hungria, comprou parte das relíquias e as levou para o Mosteiro Paulino de Budaszentlőric. Em 1523, o rei Luís II conseguiu a outra parte das relíquias (a cabeça de São Paulo de Tebas), que se encontrava no Castelo de Karlstein, na Boêmia, e uniu as relíquias em um só lugar. Infelizmente, durante os ataques dos turcos otomanos à Europa, ainda no século XVI, as relíquias se São Paulo de Tebas foram perdidas. Presume-se que foram destruídas, mas não sua memória, até hoje bem viva especialmente na Europa central e entre as igrejas do Oriente.

São Paulo de Tebas, rogai por nós!

 

A morte de São Paulo de Tebas

Quando a hora de Paulo, um ermitão,
ia chegando, um Anjo foi buscar,
muito além no deserto, Santo Antão,

que ao ouvir uma voz a lhe chamar,
sem mais pelo ermo afora viajou.
No meio do caminho, a lhe assediar,

com diversos demônios se encontrou,
que queriam fazê-lo se perder,
mas enganar-se ele jamais deixou,

e seguiu sua via sem temer.
Finalmente, ao raiar de um belo dia,
uma loba ele viu aparecer,

a lhe indicar a verdadeira via
para enfim encontrar quem procurava.
Quando chegou, bradou com alegria,

e Paulo, que ansioso o aguardava,
volveu no mesmo tom, e se abraçaram,
e logo, ali já se desenrolava

alegre reunião, em que papearam
como velhos amigos tão queridos.
De noite, após a hora em que cearam,

Paulo enfim revelou os pretendidos
desígnios de Deus para a jornada:
“Já tenho muitos anos transcorridos

aqui no mundo, amigo, e está marcada
minha partida em breve. Em Sua infinita
misericórdia, Deus fez-lhe a chamada

para vir sepultar-me, é o que Ele dita.
Esta foi a razão de tua viagem,
esta é a razão final da tua visita!

Porém, arruma agora a tua bagagem,
viaja a Alexandria e traz-me o manto
do Patriarca Atanásio, que é a roupagem

que devo usar no sepulcral recanto.”
Antão partiu imediatamente,
escondendo do amigo um breve pranto,

e três dias depois, fez-se presente,
trazendo o que lhe fora encomendado,
e viu subir, gloriosa e esplandecente,

a alma de Paulo, que ia rodeado  
de Anjos e Santos, e Jesus também,
de José e de Maria acompanhado,

indo-se embora para o Céu além.
Antão se pôs de joelhos a rezar,
e quando terminou e disse “Amém”,

chegaram dois leões, que a cavoucar
puseram-se, e uma cova na medida
fizeram para Paulo ele enterrar.

O eremita vestiu a requerida
vestimenta no corpo e o sepultou,
e após sua derradeira despedida,

pra casa, agradecido, retornou.

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