Modelo de vida monástica, Santo Antão foi tentado diversas vezes, apanhou de demônios e viveu até os 105 anos
Hoje é dia de Santo Antão, ou Santo Antônio do Deserto, monge e eremita.
Nascido em 254, em Conam, no Egito, Antão era filho de cristãos prósperos proprietários de terras. Aos 20 anos, perdeu os pais e ficou responsável pelas terras da família e por cuidar da irmã. Apesar de cristão, buscava sentido para a vida, até que, em uma missa, escutou a passagem do Evangelho de Mateus XIX:21: “Se queres ser perfeito, vai vende seus bens, dá aos pobres e terás um tesouro nos Céus, depois vem e segue-me”. Depois disso, vendeu todos os seus bens, entregou sua irmã como virgem consagrada e foi morar em uma caverna no deserto, levando uma vida de orações e sacrifícios.
Mesmo se isolando no deserto, Antão era procurado por muitas pessoas em busca de aconselhamento espiritual e orações. Aos poucos, atraiu para perto de si discípulos que iam morar em cabanas ou cavernas próximas à sua. Como o número de discípulos crescia muito, ele resolveu se retirar para mais longe ainda, vivendo em quase total isolamento por 18 anos.
Em duas ocasiões Antão deixou seu isolamento e se dirigiu a Alexandria: em 311, para animar os cristãos perseguidos pelo imperador Maximiano, e em 335, para combater a doutrina ariana, que negava a divindade de Cristo, e animar os cristãos e se manterem fiéis à Sã Doutrina.
Quando estava com 55 anos, foi procurado por muitos de seus discípulos que insistiam em que ele fundasse uma comunidade de monges, e acabou cedendo, sendo que cada um deveria viver isolado em sua própria caverna ou cabana. Assim foi feito, os monges moravam perto uns dos outros, e em apenas alguns momentos de oração durante o ano se reuniam. Paradoxalmente, quanto mais Santo Antão buscava o isolamento, mais era procurado por pessoas que vinham de todas as partes buscando aconselhamento espiritual.
Uma das peculiaridades da vida de Santo Antão são as tentações pelas quais passou. Assim como tantos outros santos, foi especialmente escolhido pelo diabo para sofrer terríveis tentações que, vencidas uma a uma, atestavam o poder e a glória de Deus. Uma das tentações mais famosas de Antão refere-se à uma ocasião em que ele se encontrava orando em um túmulo, e foi assediado e espancado por demônios. Saiu de lá carregado por seu assistente e dado como morto, mas recobrou a consciência e pediu para voltar ao local onde havia se encontrado com os demônios. Lá, desafiou-os, e os mesmos apareceram como feras que se puseram a lhe dilacerar a carne. No entanto, no meio do suplício, uma luz brilhou no local e afugentou todos os demônios. A luz emanava do próprio Cristo, que curou todas as feridas de seu leal servo.
Considerado o mais ilustre modelo de monge da Idade Antiga, Santo Antão morreu em 356, aos 105 anos, cercado de discípulos que rezavam por ele. Sua relíquias encontram-se preservadas na Igreja de Santo Antônio de Viennois, na França.
Santo Antão, rogai por nós!
Santo Antão e os demônios
Orando estava Antão numa caverna,
quando por mil demônios foi cercado,
e lhe puxando o corpo pela perna,
surraram-no e o deixaram desmaiado.
Achou-o seu Donato, que o levou
pra junto de outros monges, e foi dado
como morto, no entanto, ele acordou
e corajoso, altivo e decidido,
à caverna maldita retornou.
Chegando lá, feroz e destemido,
desafiou os demos novamente,
e em pouco já era ouvido um alarido
de bestas que violenta e mortalmente
suas carnes todas lhe dilaceraram,
mas eis que um brilho intenso de repente
ali se fez, e os cruéis se acovardaram
e desapareceram, e de Antão
as carnes destroçadas se curaram,
e quando, abrindo os olhos, salvo e são,
pôde ver por detrás daquele brilho,
a lhe acenar com Sua chagada mão,
glorioso, a lhe sorrir, o Eterno Filho.
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