São Martiniano queria ser eremita, mas, para fugir das constantes tentações, fez-se andarilho
Hoje é dia de São Martiniano, eremita e peregrino.
Nascido na Cesareia, região da Palestina, Martiniano viveu durante o século IV. Desde pequeno alimentava a vocação religiosa e, aos 18 anos, mudou-se para uma comunidade de eremitas, vivendo em uma cabana simples. Sua fama de santidade e sabedoria espalhou-se rapidamente, e ele passou a ser procurado por muitas pessoas para aconselhamento espiritual.
A fama de Martiniano chegou a Cloé, uma jovem bonita e leviana que apostou com um grupo de amigas que poderia seduzi-lo. Disfarçada de maltrapilha, Cloé pediu para passar a noite em sua morada. Ele consentiu, indo dormir isolado em outro cômodo. No entanto, no meio da noite, Cloé apareceu-lhe em roupas sedutoras. Martiniano, enxergando além de sua beleza exterior, viu nela uma alma triste e, após pregar-lhe a palavra de Deus, converteu-a. Cloé, depois disso, foi viver no Convento de Santa Paula, em Belém.
Naquela noite, no entanto, o jovem eremita sentiu-se tentado por um momento. Para fugir de novas tentações, isolou-se em uma ilha. Mesmo assim, a tentação continuou a persegui-lo quando apareceu por lá uma jovem náufraga chamada Fotinia. Para evitar nova queda, Martiniano cedeu à jovem suas acomodações e fugiu da ilha a nado. Conta a tradição que dois golfinhos, enviados por Deus, ajudaram-no a chegar em terra firme em segurança.
Depois dessa segunda experiência, Martiniano tomou a decisão de tornar-se um andarilho, vivendo da caridade alheia até o fim de seus dias. Faleceu em Atenas, no ano 400, quando parou para descansar em uma igreja. Um padre, prevendo que ele iria morrer logo, ministrou-lhe os últimos sacramentos, e Martiniano pôde partir em paz.
São Martiniano, rogai por nós!
As aventuras do andarilho Martiniano
Quando atingiu sua maioridade,
Martiniano, jovem palestino,
querendo consagrar-se à santidade,
na solidão selou o seu destino
e foi viver como eremita santo.
Porém, a santidade do menino
a muitos atraiu como um encanto,
e procurado ele era noite e dia,
por gente que conselhos e acalanto
ia buscar de sua sabedoria.
Um dia, uma moçoila impenitente,
Cloé chamada, quis sua alma pia
prostituir, e sorrateiramente,
de pobre maltrapilha disfarçada,
pediu-lhe abrigo, e o jovem, piamente,
à pervertida concedeu pousada.
Naquela noite, a víbora esgueirou-se
cabana adentro, e sedutora, e ornada,
tentou tentá-lo, e entanto, deparou-se
com sua alma em decomposição
após admoestada, e então, chocou-se,
e com ele, ajoelhada em oração
à vida santa, enfim, se converteu.
Porém, Martiniano em tentação
caído havia, e quando percebeu,
decidiu pra mais longe se mudar,
e a uma ilha deserta se moveu.
No entanto, novamente a lhe tentar
o diabo decidiu, quando outra bela
mocinha fez na praia ali aportar,
e a nado ele fugiu, sem remo ou vela.
Jesus, porém, do pobre apiedado,
mandou-lhe dois delfins pra da esparrela
poder sair seguro e preservado.
Tomou, em terra firme, a decisão
de nunca mais ficar estacionado
à espera de uma nova tentação,
e assim, Martiniano se tornou
um santo peregrino em oração
constante, enquanto o mundo viajou,
até que um dia, exausto o andarilho,
de tanto caminhar, enfim, cansou,
e repouso encontrou c’o Eterno Filho.
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