DOSE DE FÉ | Martiniano

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

São Martiniano queria ser eremita, mas, para fugir das constantes tentações, fez-se andarilho

Hoje é dia de São Martiniano, eremita e peregrino.

Nascido na Cesareia, região da Palestina, Martiniano viveu durante o século IV. Desde pequeno alimentava a vocação religiosa e, aos 18 anos, mudou-se para uma comunidade de eremitas, vivendo em uma cabana simples. Sua fama de santidade e sabedoria espalhou-se rapidamente, e ele passou a ser procurado por muitas pessoas para aconselhamento espiritual.

A fama de Martiniano chegou a Cloé, uma jovem bonita e leviana que apostou com um grupo de amigas que poderia seduzi-lo. Disfarçada de maltrapilha, Cloé pediu para passar a noite em sua morada. Ele consentiu, indo dormir isolado em outro cômodo. No entanto, no meio da noite, Cloé apareceu-lhe em roupas sedutoras. Martiniano, enxergando além de sua beleza exterior, viu nela uma alma triste e, após pregar-lhe a palavra de Deus, converteu-a. Cloé, depois disso, foi viver no Convento de Santa Paula, em Belém.

Naquela noite, no entanto, o jovem eremita sentiu-se tentado por um momento. Para fugir de novas tentações, isolou-se em uma ilha. Mesmo assim, a tentação continuou a persegui-lo quando apareceu por lá uma jovem náufraga chamada Fotinia. Para evitar nova queda, Martiniano cedeu à jovem suas acomodações e fugiu da ilha a nado. Conta a tradição que dois golfinhos, enviados por Deus, ajudaram-no a chegar em terra firme em segurança.

Depois dessa segunda experiência, Martiniano tomou a decisão de tornar-se um andarilho, vivendo da caridade alheia até o fim de seus dias. Faleceu em Atenas, no ano 400, quando parou para descansar em uma igreja. Um padre, prevendo que ele iria morrer logo, ministrou-lhe os últimos sacramentos, e Martiniano pôde partir em paz.

São Martiniano, rogai por nós!

 

As aventuras do andarilho Martiniano

 

Quando atingiu sua maioridade,

Martiniano, jovem palestino,

querendo consagrar-se à santidade,

 

na solidão selou o seu destino

e foi viver como eremita santo.

Porém, a santidade do menino

 

a muitos atraiu como um encanto,

e procurado ele era noite e dia,

por gente que conselhos e acalanto

 

ia buscar de sua sabedoria.

Um dia, uma moçoila impenitente,

Cloé chamada, quis sua alma pia

 

prostituir, e sorrateiramente,

de pobre maltrapilha disfarçada,

pediu-lhe abrigo, e o jovem, piamente,

 

à pervertida concedeu pousada.

Naquela noite, a víbora esgueirou-se

cabana adentro, e sedutora, e ornada,

 

tentou tentá-lo, e entanto, deparou-se

com sua alma em decomposição

após admoestada, e então, chocou-se,

 

e com ele, ajoelhada em oração

à vida santa, enfim, se converteu.

Porém, Martiniano em tentação

 

caído havia, e quando percebeu,

decidiu pra mais longe se mudar,

e a uma ilha deserta se moveu.  

 

No entanto, novamente a lhe tentar

o diabo decidiu, quando outra bela

mocinha fez na praia ali aportar,

 

e a nado ele fugiu, sem remo ou vela.

Jesus, porém, do pobre apiedado,

mandou-lhe dois delfins pra da esparrela

 

poder sair seguro e preservado.

Tomou, em terra firme, a decisão

de nunca mais ficar estacionado

 

à espera de uma nova tentação,

e assim, Martiniano se tornou

um santo peregrino em oração

 

constante, enquanto o mundo viajou,

até que um dia, exausto o andarilho,

de tanto caminhar, enfim, cansou,

 

e repouso encontrou c’o Eterno Filho.


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