DOSE DE FÉ | Hildegarda de Bingen

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Mística, pregadora, diretora espiritual, taumaturga, exorcista, cientista, compositora e escritora, Santa Hildegarda de Bingen foi especialmente escolhida pela Providência como um instrumento de santificação

Hoje é dia de Santa Hildegarda de Bingen, virgem, mística e Doutora da Igreja.

De família nobre, Hildegarda nasceu no Castelo de Böckekheim, na região do Reno, na Alemanha, em 1098. Aos 8 anos, foi enviada para ser educada pelas monjas beneditinas no Mosteiro de Disibondenberg. Ficou sob especial cuidado de uma monja chamada Jutta, com quem aprendeu as primeiras letras e foi apresentada ao modo de vida das beneditinas. Aos 12 anos, Hildegarda foi aceita como noviça naquele Mosteiro, e com 16 já fazia seus votos perpétuos. Em 1136, quando estava com 38 anos, assumiu a direção do Mosteiro como Superiora.

Hildegarda já tinha visões divinas desde criança, mas ela mesma registra que não eram de grande importância. No entanto, em 1141, aos 42 anos, teve uma visão realmente significativa: “Os céus se abriram e uma luz ofuscante de excepcional fulgor fluiu para dentro de meu cérebro. E então ela incendiou todo o meu coração e peito como uma chama, não queimando, mas aquecendo… e subitamente entendi o significado das exposições dos livros, ou seja, dos Salmos, dos Evangelhos e dos outros livros católicos do Velho e Novo Testamentos”.

Sim, a monja recebeu, diretamente de Deus, uma infusão de conhecimento sobre o significado da Escritura e de todo o conteúdo da fé. Ao mesmo tempo, uma voz ordenou-lhe por três vezes: “Oh mulher frágil, cinza de cinza e corrupção de corrupção, proclama e escreve o que vês e ouves”.

A partir de então, ela começou a descrever e ilustrar suas experiências místicas, totalizando 26 até 1551. O resultado de seus registros é a obra Liber scivias Domini. Com o auxílio de São Bernardo de Claraval, com quem ela se comunicava por cartas, Irmã Hildegarda teve suas visões oficialmente reconhecidas pela Santa Sé no Sínodo de Trier (1447 – 1448).

Obedecendo a uma visão do ano de 1448, ela deixou o Mosteiro de Disibodenberg junto com outras monjas, para revitalizar o antigo Mosteiro de Rupertsberg, onde se instalaram definitivamente a partir de 1150. Com muita dificuldade, conseguiu revitalizar o Mosteiro, e começou a corresponder-se com personalidades importantes do clero e da nobreza da Europa. Ainda nesse período, em 1558, começou outra importante obra, o Liber vitae meritorum (Livro dos méritos da vida), em que a monja examinou os vícios e as virtudes da vida humana.

Em 1560, recebeu uma autorização especial para pregar (o que não era próprio das mulheres) e viajou por diversas cidades as Alemanha e da França nessa missão apostólica. Em 1163, após terminar o Liber vitae meritorum, passou a trabalhar em sua mais importante obra (que só seria terminada em 1774, pouco antes de sua morte), e que fecha sua grande triologia, o Liber divinorum operum(Livro das obras divinas), um vasto painel de toda a criação divina, que aborda três temas principais: o mundo da humanidade, o mundo além e a história da salvação desde Adão e Eva até o Juízo Final. 

Em 1165, ela fundou mais um Mosteiro, o de Bingen, para poder acomodar o crescente número de monjas que se juntavam à Ordem sob seus cuidados. Naquele Mosteiro, ela operou suas primeiras curas milagrosas, assim como exorcismos. Em 1170, já idosa, empreendeu mais algumas viagens pela Alemanha, obedecendo a mais uma visão. Pregava contra os vícios do clero e contra as heresias de seu tempo, sobretudo a dos cátaros.

Os últimos anos de vida de Santa Hildegarda foram de acentuado declínio de sua saúde e problemas administrativos com o Mosteiro de Bingen, devido a um injusto mal entendido com o clero de Mongúcia – o que felizmente foi resolvido antes de sua morte, em 17 de setembro de 1179.

Doutora com mérito

Canonizada em 1584, por Eugênio XIII, Santa Hildegarda foi proclamada Doutora da Igreja por Bento XVI em 2012. O título é mais que meritório. Além de sua trilogia teológica aqui já mencionada, ela também foi uma grande estudiosa das ciências naturais, escreveu tratados de medicina cujo conteúdo, em grande parte, tem validade até hoje.

Além disso, a monja alemã aprofundou-se na música e na poesia, tendo produzido inúmeras peças de beleza inestimável. Ela foi, inclusive, uma das grandes renovadoras do canto gregoriano em seu tempo. Ainda produziu 2 tratados hagiográficos (um sobre a vida de São Disibodo e um sobre São Ruperto), 4 obras exegéticas, esboçou uma língua artificial com alfabeto próprio, e deixou extensa correspondência, com cerca de 400 cartas.

A vida de Santa Hildegarda, mística e monja contemplativa que ao mesmo tempo, por determinação divina, fez-se pregadora, diretora espiritual, taumaturga, exorcista, cientista, compositora e escritora, revela que ela foi especialmente escolhida pela Providência como um instrumento de santificação nas mais diversas frentes. Sem ela, o século XII certamente não teria o mesmo brilho. Que a consciência inspirada dessa santa monja seja modelo para nossos espíritos.

Santa Hildegarda de Bingen, rogai por nós!

 

A Visão de Hildergarda

 

Perdia-se Hildegarda em adoração,

a contemplar a essência de Jesus,

quando ofuscou-lhe a vista intensa luz,

que lhe entregou do Céu uma visão.

 

Recebeu de uma vez, por infusão,

toda a ciência pertinente à Cruz

e à Fé, de um golpe só, que se traduz

como beatífica revelação.

 

Com aquela ciência, ela pregou,

e escreveu, e compôs, e exorcizou,

e curou, sempre serva do Senhor,

 

a quem se submetia por amor,

por toda a vida, em todos os momentos,

em Suas Mãos, seráfico instrumento.


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