BRUNA TORLAY丨Uma guerra de cada vez

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

Hoje é o dia primeiro de um ano que pode vir a testemunhar a terceira guerra mundial, ou pelo menos um conflito em larga escala com potencial para balançar o mundo durante um ano ou mais. Há, entretanto, quem julgue o mandato presidencial brasileiro de um presidente que já assume com a impopularidade elevada o maior de nossos problemas. Não que inexista relação entre essas coisas.

Lula é aliado aberto do partido comunista chinês e da autocracia de Putin. A Rússia, que alguns anticomunistas autoproclamados conservadores passaram a admirar e a defender desde uma besteira dita pelo ex-presidente (segundo ele próprio, movido à diplomacia em prol dos fertilizantes), é aliada da Venezuela, o narco-estado chamado Venezuela, cujo presidente é confrade de Lula e deve comparecer à sua posse.

Os problemas maiores que o mundo enfrenta hoje são o partido comunista chinês sob Xi Jin Ping e a persistência do comunismo soviético na fórmula atualizada do eurasianismo (ortodoxo em aparência e homicida na prática) da FSB e Vladimir Putin. Eis onde mora a confusão que tende a desencadear uma terceira guerra.

“Ah, o globalismo europeu-norte americano!” Bom, esse aí nós conhecemos. É aquele comunismo soft dos social-democratas – oligopólios; regulamentação; cosmopolitismo de boutique movido a propaganda; diluição das liberdades individuais e das territorialidades, etc. Por outro lado, Putin é um globalista anti-globalista, ou seja, uma força autoritária que conhece a concorrência e a repudia – que tipo de iliberal suporta concorrência; que espécie de anticristo ama ao próximo como a si mesmo?

Da mesma maneira que os globalistas usaram a China, a China usou os globalistas. Mas uma relação pragmática, e não ancorada em alinhamento de valores, é necessariamente dinâmica. Amanhã, se a China tiver dinheiro e força militar o bastante, pode rever as relações.

E o Brasil com isso?

O Brasil tem sido espiritualmente insignificante na grande guerra civilizacional fermentada no XIX, marcante no século XX e aparentemente adormecida no século XXI, sob o manto enganoso de conflitos menores e isolados. Nosso exército é fraco, deteriorado, sem armamentos e composto por brasileiros volta e meia mais comprometidos com motivações individuais que qualquer outra coisa. São pessoas tocando a vida como funcionários públicos. É evidente que a política da neutralidade se imponha. Não há outra opção. Não temos, como povo, capacidade de ser relevantes. Imaturidade e egotismo são o cerne de nossa identidade.

Daí o desespero da esquerda caviar em 2019, diante de Bolsonaro; e a histeria espantosa de pessoas suscetíveis demais à propaganda em 2023, diante de um Lula subindo a rampa. Nós nos preocupamos tanto com nossas mazelas justamente por não percebermos o tamanho de nossa insignificância. Espiritual, sobretudo; geopolítica, por consequência.

“Alimentamos meio mundo!” Trunfos, cada nação tem os seus. A relevância política é consequência do que fazemos com nossos trunfos. Digam-me então os senhores: o que fazemos com nossos trunfos? Quem somos nós diante do mundo? “A sede do Foro de São Paulo!”, poderia dizer um comunista assumido. Certo, somos um polo da influência russa, então. O polo de influência russa na américa. Um satélite de um dos piores problemas do mundo. Uau!

A vida humana transcorre em paralelo a uma série de guerras infinitas; cada qual movida por engrenagens especiais. Essas guerras todas de que somos testemunhas tem por matriz uma outra, travada internamente; e é quando essa não se resolve que as exteriores se multiplicam.

Qual é a mais grave? Qual é a maior? Qual, a mais urgente?

Reduzidos ao egotismo infantil dos espíritos apequenados, nunca teremos capacidade de discernir. Daí que, na iminência de um conflito nuclear de dimensões inéditas e estragos inimagináveis, no médio e longo prazo, metade do Brasil esteja vidrada na hipótese de um politiquinho oportunista como o atual presidente mudar para sempre a nossa vida; e a outra metade comemorando a partida de um presidente fragilizado, que amarga a humilhação de ter insistido em negociar com inimigos.

Melhor faríamos se travássemos uma guerra de cada vez, a começar pela matriz eterna que transcorre dentro de nós, a única capaz de revelar o que buscamos, sem destroçar a sombra do que nos tornamos. Uma proposta de ano novo possível, embora demasiado árdua aos homens, a ponto de haverem preferido desacreditar a crucificação e confiar a psicopatas a fórmula da bomba atômica.

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