BRUNA TORLAY丨Por que eu não gosto de políticos

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

Não é nada pessoal. Juro. Eu gosto de pessoas que eventualmente se tornam políticas. De forma misteriosa, não perco o apreço pela pessoa, embora passe a evita-la quando põe a veste de política. Toda vez que a abordo enquanto política, me arrependo. A resposta é previsível; a sinceridade, limitada; a virtude, obscura. A tal ponto a simulação e a dissimulação colam na veste.

Fico impressionada com a paixão que algumas pessoas sentem por políticos mesmo sendo sistematicamente enganadas por eles todos os dias da semana; em público e no privado; por razões justas ou mesquinhas. É de uma generosidade impressionante, da qual eu, em minha infinita miséria, não consigo participar.

Ontem recordei a pior experiência que eu tive no campo da política. Ver-me cúmplice de uma prece vazia de amor e repleta de vaidade; rezada na porta de um palácio de um governante por um bando de exasperados pela salvação horizontalmente desconfortável que a política propicia. Foi um horror. Desde aquela data, evito ativistas ardentes de fé como o drácula foge do alho.

Talvez haja sim um ponto pessoal. Sócrates foi gratuitamente condenado à morte por um punhado de políticos cujo objetivo existencial máximo era marcar o poste da Acrópole com seu xixi. Provavelmente, isso inaugura a rivalidade permanente entre os amantes da verdade e os farejadores do poder.

Alguém recordará a batida citação extraída de Platão: “O pior castigo, para quem não quer assumir um governo, é ser governado por homens piores que ele”. Nada mais fora de contexto. A frase é parte de um argumento e não faz sentido fora dele. O argumento inteiro é bom e diz respeito a homens virtuosos, ou seja, ao inverso dos nossos políticos.

O pior castigo para quem sabe que um governo é necessário, mas que a maior parte dos homens usa essa necessidade contra outros homens, corrida esta que, pela dita razão, insiste em rejeitar; o pior castigo para esse tipo de pessoa é ser chamado por homens bons a, por eles, afundar na lama do castigo infernal que é a vida política sob o triunfo do pragmatismo Trasimaquiano.

A política brasileira contemporânea não tem nada a ver com dever, amor ao próximo, valores, bem comum, solução de problemas e redução de conflitos. Tem a ver com o interesse deplorável de políticos de quinta categoria que matam e morrem para permanecer ali sugando até a última gota o sangue, suor e lágrimas de pessoas cujas dores ignora — por não conhecê-las ou tendo-as conhecido.

Talvez haja saída; talvez não. No entretempo, confesso que a vida é curta demais para pensar nisso o tempo inteiro. Ontem fiz a besteira de abrir o jornal. Um bando de inocentes segue preso porque alguns idiotas assim o desejaram; o que me fez lembrar que um dos homens mais sábios e prudentes da história foi, até ele, incapaz de escapar às garras da mesquinhez propriamente política. Não há inteligência que vença o mau-caratismo, quando ele resolve, de toda forma, se impor.

“Ah, e no que você acredita, então?” Na compaixão de pessoas sinceras por aqueles presos. E em nada mais.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2023

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor