BRUNA TORLAY丨O Sucesso dos Sofistas ontem e hoje

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

Sofistas fazem sucesso porque agradam um número imenso de pessoas, ainda que essas mesmas pessoas não gostem de se referir àqueles que admiram como sofistas, em vista da conotação pejorativa associada ao termo. Examinemos o sucesso dos sofistas.

Circula por aí um conselho em vídeo do professor Olavo de Carvalho sobre os resultados de toda ação motivada por emoções. Segundo o professor, quem age sob a influência de emoções fortes está fadado à derrota. Ele tem razão, sobretudo no que diz respeito às discussões.

Sabe a réplica motivada por sentimentos que uma afirmação desencadeia? A pessoa sente uma indignação louca ou qualquer paixão violenta e vocifera alguma coisa, como que de modo a empurrar para fora da alma o juízo que a machucou. O interlocutor sabe porque diz o que diz. O reativo sente que precisa dizer qualquer coisa. Um apresenta argumento. Outro, expressa uma emoção. Obviamente, o segundo não tem chance contra o primeiro.

Não é assim que debatem os sofistas. Não são presas da emoção, mas seus caçadores. Não caçam as emoções controversas que desencadeiam reações de oposição, mas aquelas que desencadeiam conforto, encantamento e auto-satisfação. Os sofistas são pródigos em lidar com a confirmação de crenças, mas imbuídos de uma habilidade verbal que escapa à audiência. Sua arte é adular, daí a capacidade de despertar os sentimentos mais deliciosos, levando plateias à loucura.

O ser-humano recai o tempo inteiro nos sete pecados capitais. Um deles é a soberba. Gostamos de perceber que estamos certos. Não significa que isso seja verdade. Mas o sofista fala como se aquilo que julgamos correto (as crenças que dão base ao nosso pensamento) fosse a expressão da mais límpida verdade. Ele nos faz sentir sábios; nos faz sentir grandes; nos faz sentir superiores.

Eis porque os sofistas fazem sucesso. Seria injusto atribuir-lhes a glória inteira, considerando a relevância da fraqueza moral da audiência no fenômeno. Mais tolo um homem, maior o deleite em sentir a grandeza de sua inteligência, cujas ideias, vejam só, são idênticas àquelas tão bem modeladas pelo arauto da verdade que colhe admiração e silêncio.

Nomear os sofistas em evidência hoje seria arriscado, contudo, uma vez que seu sucesso é tão duradouro quanto nossas emoções. Num minuto são tudo para nós; noutro, já os esquecemos. O que importa é a vasta quantidade desses grandes faladores à disposição, de modo que nossa grandeza infinita seja para sempre lindamente louvada.

Qualquer semelhança com a arte do pai da mentira é mera coincidência.

Por último, vale indicar que sofistas de outrora se viram em maus lençóis com Sócrates, Platão e Aristóteles, assim como os de hoje, para quem esses velhos chatos chamados filósofos não passam de uns estraga-prazeres. Eis que o afirmam jocosamente; e a plateia vai à loucura.

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1 COMENTÁRIO

  1. Prefiro o termo “filódoxo”. Afinal, “filodoxia” é palavra dicionarizada.

    O sofista é oposto ao filósofo na condição de professor. Mas o contrário de filosofia é filodoxia — o amor à opinião.

    O sofista é um professor de técnica. Ele arma o filódoxo com as ferramentas necessárias para manipular as pessoas.

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