BRUNA TORLAY丨Domínio dos corpos e libertação da alma

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

Porque o exemplo de Monteiro Lobato contra Getúlio Vargas nos ajuda mais que megafones em manifestações esparsas

É uma torração de saco fora de série observar a multidão de idiotas que acreditam piamente ter alguma influência num jogo de poder cujos atores principais reduzem todas as peças coadjuvantes a peões. São coadjuvantes redutíveis a peões que se apresentam como diretores de samba-enredo. A alma, ou algo parecido com ela, serve A um conjunto de atos físicos completamente destituídos de sentido, claramente repercutindo ordens exteriores àquelas que poderiam emanar de suas consciências.

Como eu disse semana passada, em política moderna, ou se maneja, Ou se é manejado, uma vez que o horizonte pragmático reduz todos os peões do jogo político a instrumentos com maior ou menor utilidade, a depender da jogada em mente.  

Diante desse teatro do autoengano, tomo distância do manicômio generalizado para me ocupar de reunir mais ingredientes potencialmente relevantes à compreensão do que acontece. Ainda assim há quem me pergunte: “como não fazer nada?”, certos de que o “fazer alguma coisa” seja necessária e radicalmente distinto de qualquer busca sincera que alguém decida empreender.

Eis o marxismo em plena forma, embaixo das bandeiras, roupas e cabelos de “patriotas” em busca de transformar a realidade diante de si. O espírito revolucionário é realmente a constante principal de nossa história política recente, como afirmou o cientista político Silvio Grimaldo cinco anos atrás.

Os marxistas e seus herdeiros são terrivelmente modernos, no sentido que transformar a realidade é sinônimo de rearranjar o lugar das coisas na ordem do mundo, quando não os princípios dessa ordem, de modo a trazer à tona um ordenamento novo. A legitimidade da revolução (passar o trator sobre uma ordem existente) reside na ideia, absolutamente central a todo materialismo filosófico, segundo a qual toda ordem é posterior e dependente da ação humana, sendo unicamente o caos correspondente à origem primeira de todas as coisas.

Como o caos originário é a premissa essencial do materialismo filosófico (doutrina cujo cerne é a ausência de inteligência ordenadora principal no mundo), qualquer instabilidade surge como cenário ideal para imposição de uma ordem específica. O marxismo não teme a instabilidade; apenas almeja dominá-la toda vez.

Ao que tudo indica, é o que deve acontecer com as multidões que insistem em recusar a ordem imposta pelos donos da lei. Subversão não é um problema para a esquerda. Eis aí um tipo de ingrediente com o qual eles lidam às maravilhas, tirando dele todo o partido possível. Dominando os meios materiais de ação dos “subversivos”, isto é, dominando seus corpos, o braço esquerdista se dá por satisfeito. Essa coisa chamada alma é irrelevante para manejadores de forças da natureza.

Daí minha insistência em que a tarefa principal a todo ser-humano que rejeite a cultura marxista, os princípios marxistas e os ingredientes de sua receita revolucionária seja, no final das contas, e em primeiríssimo lugar, libertar sua própria alma das manias, cacoetes e automatismos integrantes do modo esquerdista de fazer do homem um osso; um coadjuvante; um peão; um instrumento de utilidade variável a depender da jogada sobre o tabuleiro político.

Por que é urgente? Não; mas porque nos dá uma vantagem cuja medida, para o adversário, é impossível prever, destruir ou instrumentalizar.

Já leram “O escândalo do petróleo e do gás”?, de Monteiro Lobato? Ele mostra ali que Getúlio Vargas agia contra o interesse nacional e em favor de cartéis. Monteiro Lobato, pasmem, foi preso sob a era Vargas justamente por criticar abertamente essa política. Fez da cela um escritório e prevalece, hoje, como autor canônico de legado inestimável. Por 90 dias, dominaram o peão do seu corpo; já a alma…

Libertar a própria alma das manias, cacoetes e automatismos integrantes do modo esquerdista de reduzir o poder de uma personalidade não é urgente; mas nos dá uma vantagem cuja medida, para o adversário, é impossível prever, destruir ou instrumentalizar.

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2 COMENTÁRIOS

  1. É um longo caminho, bem sei disso. Nos últimos anos tenho estudado, mas isso só foi possível depois que tive acesso à Internet e aos livros. Cansei de procurar bons livros e nada encontrar nas livrarias, isso há 2 décadas atrás quando ainda morava em São Paulo, o que perdurou até Olavo de Carvalho tirar do limbo grandes autores. Imagine a situação das pessoas distantes dos grandes centros! Já fui a muitas manifestações, detesto os palanqueiros, mas em todas havia gente muito lúcida e consciente e na minha percepção, os que gritam, apesar da alienação, estão no mínimo expressando que há algo muito errado. Quanto aos corneteiros que anunciam soluções milagrosas, estes farão isso sempre e em qualquer circunstância.

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