SANTO CONTO | A Ascensão

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Baseado nas visões da Beata Anna Catarina Emmerich


Um último abraço

Com cinco dos Apóstolos Ele chegou na casa de Lázaro naquela tarde. Lá se encontravam Sua mãe e outras santas mulheres, e todos se alegraram quando O viram entrar. No entanto, enquanto bebia água e contemplava o sol no jardim da casa, os cinco começaram a chorar. Pouco antes Ele lhes havia anunciado Sua partida próxima. Olhou-os apiedado, e disse-lhes, enquanto apontava para Sua mãe:

Por que chorais, queridos irmãos? Vede esta mulher, que não chora.

Eles olharam para Maria, e naqueles olhos tão doces e tão serenos encontraram conforto, e Pedro e João sorriram. Enquanto isso, Ele trocava Suas últimas palavras com Lázaro. No abraço de despedida, falou-lhe:

– Fica em paz, irmão, e sê firme em tuas tribulações. Abraça teu fardo e segue o caminho do mar com tuas irmãs quando for a hora. Saberás para onde ir. A paz seja contigo!

Enquanto Ele saía, os outros seis Apóstolos, junto com outros seguidores, O esperavam na porta. Lá dentro, Lázaro orava com o coração confiante, cheio do Espírito Santo.

Jantar com os amigos

Naquela tarde Ele andou por muitos caminhos, sempre ensinando aos que O acompanhavam. À medida que o sol avançava para o poente, muitos iam ficando tristes, apreensivos, ansiosos. Não queriam separar-se d’Ele. Perguntavam-se como seriam as coisas depois. Com os corações pesados, inquietavam-se.

Três, no entanto, iam serenos: Maria, que seguia com aquele mesmo semblante que consolava quem a olhasse nos olhos, e Pedro e João, que traziam os corações leves e sorriam, confiantes.

Quando a noite já se aproximava, chegaram a uma casa onde foram recebidos com os sorrisos largos de José de Arimateia e Nicodemos:

– Mestre! Sê bem-vindo! Sede bem-vindos todos!

– A paz seja convosco. Vamos cear.

Havia peixe, pão, legumes e vinho em abundância, e todos comeram e beberam com alegria. Ele continuou ensinando quase o tempo todo, e todos O escutavam com atenção, procurando gravar em seus corações cada uma de Suas palavras. E, naquela noite, todos homens e mulheres que O acompanhavam esqueceram suas angústias e temores, e a separação que se aproximava.

Noite adentro

Quando deu meia noite, Ele fez um sinal a Pedro, trocou com ele algumas palavras, e abraçou e beijou o querido Apóstolo. Logo em seguida, despediu-se dos anfitriões e saiu com os onze. Pouco depois, seguiu-os Maria e, depois dela, os demais. Ele refazia o caminho que pouco tempo antes havia trilhado quando fora recebido como rei em Jerusalém. E continuava, parando aqui e ali, a ensinar quase todo o tempo.

Pouco antes do amanhecer, chegaram todos juntos ao Cenáculo, em cujo interior apenas Ele, os onze e Maria entraram. Esperava-os uma mesa com um pão e um cálice de vinho. Sua mãe sentou-se diante d’Ele, e os demais em torno. As roupas de todos então se transmutaram em vestes cerimoniais – as de Pedro, episcopais, diferenciavam-se das dos demais Apóstolos. E então, assim como na refeição que antecedera Seu sacrifício, Ele abençoou o pão, partiu-o e distribuiu entre os Seus, e tomou o cálice, abençoou o vinho e passou-lhes. E aqueles pequenos pedaços de pão brilhavam como Seu Corpo Glorioso, e o vinho tinha o fulgor rubro de Seu Sangue. Conforme os onze e Maria comiam e bebiam, seus espíritos elevavam-se, e todos eles pareciam rejuvenescer e tornavam-se todos mais belos.

A mãe 

Naquele dia Ele ainda instruiu os Seus em muitas outras coisas, e, quando caiu a noite, ensinou-lhes sobre o batismo e a bênção da água. Confirmou Pedro, diante de todos, como Seu Prelado neste e no outro mundo, e, chamando Maria para perto de Si, apontou aos presentes e disse, de maneira semelhante ao que fizera na Cruz:

– Mulher, eis os teus filhos.

E, apontando para ela, falou aos discípulos:

– Filhos, eis vossa mãe e intercessora.

Pedro então inclinou-se diante dela, e todos o imitaram. Ela também curvou-se levemente, e os abençoou. Naquele momento, por alguns instantes as roupas dela transmutaram-se novamente: seu manto tornou-se azul celeste, e sua cabeça foi cingida por uma coroa.

A partida

Pela manhã Ele seguiu pelas ruas de Jerusalém. Trilhava o caminho de Sua Paixão, ainda ensinando quase todo o tempo. Às vezes,  em determinados locais, parava por longos minutos. Nestes momentos, ficava em silêncio.

Quando passou pelo Monte Calvário, várias multidões começaram a ajuntar-se e a segui-Lo, rumo ao Monte das Oliveiras. Lá, ainda ensinou por bastante tempo, mas nem todos acreditaram n’Ele. Subiu então ao alto do monte, com pés ligeiros que os discípulos não puderam acompanhar. Quando chegou a uma pedra no topo, olhou com carinho para os onze, que se esforçavam para alcançá-Lo, e fez a todos um sinal de bênção. Começou então a resplandecer, e logo já brilhava mais que a luz do sol, e mesmo diante daquela luz tão intensa, todos podiam vê-Lo perfeitamente, sem que ficassem cegos. Lá embaixo, os que ainda duvidavam passaram a crer, e prostraram-se por terra.

Do alto veio então uma luz de mesma intensidade que a d’Ele. Aos poucos, ele começou a se elevar rumo ao céu. E todos ali viram um sol sendo envolvido por outo sol. E assim Ele foi subindo, ficando distante, até sumir.

Os presentes passaram algum tempo como que em transe, ainda fascinados por todo aquele resplendor. Quando foram se dando conta do que acontecera, muitos voltaram a prostrar-se por terra e dar graças aos Céus, e muitos outros caíram em desalento. Os mais simples, choravam como crianças.

O alento

Mais tarde, estavam os onze reunidos novamente no Cenáculo, e com eles algumas outras dezenas. A tristeza voltou a abater-se sobre eles. A sensação de um enorme vazio, de um desamparo sem remédio, tomava os corações de muitos.

Mas, naquele momento, Maria ergueu-se, e todos voltaram seus olhares para ela. Encontraram em seus olhos alento, conforto, segurança. Em seu sorriso, amor. Finalmente, compreenderam: Ele estava com o Pai, no Alto. Alegraram-se, e nenhum outro peso voltou a sondar seus corações.


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