SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | “Precipitar é Retroceder”

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Afirmação:
“Temos que sair dos quartéis e focar os protestos nos políticos.”

Comentários:
É um absurdo ser contra os protestos!
Jamais aceitarei a situação passivamente!

I

Uma das coisas que faço como trabalho é escrever. Confesso, porém, que chego a duvidar da minha capacidade de transmitir mensagens por escrito.

Os exemplos acima são ilustrativos, mas bem próximos do que efetivamente ocorreu na semana passada no Instagram. Parece haver uma barreira intransponível entre o que acho estar dizendo e aquilo que meus interlocutores entendem.

II

Cá estou eu, agora, tentando outra vez. Ninguém pode me acusar de não ter persistido.

Escrevo hoje, por partes, para facilitar a leitura.

III

As pessoas estão ansiosas por mudanças. Entendo, mas entre querer e poder há uma distância.

Mudanças políticas, ainda mais essas que ansiamos, passam por um processo de amadurecimento antes das condições para que ocorram surjam. Processos, por sua natureza, têm revés. Não há uma evolução linear. São caminhos cheios de indas-e-vindas.

Não se pode perder o foco no primeiro percalço.

IV

A Direita brasileira nasceu ontem. Politicamente, estamos em condições similares a 2013.

Nós não temos uma base sólida, organização, instituições. Temos algumas lideranças políticas, algumas personalidades de mídia, alguns grupos de ação, e bastante presença nas redes sociais.

Isso é pouco. É muito pouco. Por isso, nossa posição é frágil.

Devido à fragilidade da nossa posição, o que está ocorrendo não é nada fora do normal. Repito: tudo o que se passa é normal.

V

Mas tu achas justo, então?!

Claro que NÃO!  Justiça e normalidade são coisas bem diferentes. É normal e injusto.

Eles podem se exceder. Nós não podemos. Não preciso gostar de um fato para reconhecê-lo como fato. O fato é que há uma desigualdade, e nós somos o lado mais fraco.

VI

Eu sei que nós gostaríamos que fosse diferente. Eu sei que a gente gostaria que tudo mudasse AGORA.

Mas não vai mudar agora. Para que as coisas mudem, nós temos que estar mais fortes.

VII

Para que as coisas mudem, por exemplo, nós precisamos convencer uma parcela importante da sociedade que atualmente ainda é contra nós. Ninguém fez mais força para atrair essas pessoas para o nosso lado que o Alexandre de Moraes, mas é pouco.

Nos quatro anos de governo, se fez pouco ou nada para convencê-las. Portanto, não deveria surpreender ninguém que muitas dessas pessoas não tenham sido convencidas.

Entendei: enquanto estivermos à frente dos quartéis, a chance de as convencermos é ZERO.

Sairmos da frente dos quartéis já seria um grande avanço.

VIII

Mas e aí? Vamos para casa? Aceitamos tudo e pronto?!

NÃO!!!! Lede com boa vontade, por favor. Não peço muito. Só boa-fé. Já basta.

É para protestar, mas para quem efetivamente pode fazer diferença.

Uma ação militar seria “precipitar”. E como ensinou Olavo de Carvalho (citando Paulo Mercadante), “precipitar é retroceder”.

Para avançar, temos que ter paciência. Ser paciente é diferente de “esperar”.

É para agirmos. Os efeitos da ação é que levarão tempo para aparecer.

IX

Prestai atenção: se um dos maiores contribuintes para a nossa causa é o Alexandre de Moraes, nós NÃO podemos dar chance alguma para que ele aja contra nós dentro da lei; ele, ou qualquer ministro ou juiz que seja.

Sempre que houver a impressão de que eles estão agindo sem abuso, eles se fortalecessem. Quando eles se fortalecessem, nós perdemos.

Eles podem se exceder, mas isso tem um custo. Sempre que eles abusam, nós sofremos; mas eles se enfraquecem. Quando eles se enfraquecem, nós ganhamos.

X

O presidente Bolsonaro foi extremamente feliz quando declarou que nosso jogo é “dentro das quatro linhas”; que nós defendemos a ordem.

Esse é o caminho para que vençamos o mais rápido possível. Qualquer atalho pelo que queiramos nos enveredar acabará nos atrasando.

XI

O meu recado parece ir de encontro ao nosso desejo; e, por vezes, pode aparentar ser contrário ao senso comum. Eu sei disso. Mas será sempre o caso quando “precipitar é retroceder”.

O caminho é longo. Nós estamos apenas no começo. Não há como terminar agora. Não há a menor chance de isso acontecer.

 —

XII

O atual regime, contra o qual lutamos, levou 15 anos para ser implementado e consolidado. O processo começou em 1979, com Figueiredo, e apenas terminou em 1994, com Itamar.

A transição do Regime Militar à Nova República durou QUINZE ANOS.

Pensai comigo: se aquele processo levou QUINZE ANOS com o regime antigo querendo acabar, quanto tempo credes levará o atual processo de transição, com o regime vigente relutando em desaparecer?

No mínimo, mais que quinze. Certo?

XIV

A data de início da transição é o impeachment da Dilma em 2016. De lá, até hoje, se passaram apenas SEIS ANOS.

Querer encerrá-lo agora, portanto, seria uma evidente precipitação.

E, de novo, “precipitar é retroceder”.

XV

Por tais razões, repito vos IMPLORANDO:

– lotemos locais icônicos de nossas cidades;
– acampemos na Praça dos Três Poderes;
– postemos incansavelmente nas redes sociais; e,
– por favor, saiamos da frente dos quartéis.

4 COMENTÁRIOS

  1. Perfeito. O próprio “eleito” atual proliferou ordem, tempos atrás, para que militantes fossem justamente provocar políticos em suas residências.
    Não devemos chegar a tanto. O artigo dá a receita correta.

  2. Ótima análise Sr. Sanquixotene de La Pança, temos que apertar os juízos dos políticos e dos iluministros, correta observação.
    Não desistas de nós!
    Forte abraço.

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