Resenha: “Discurso sobre a História Universal” — Jacques Bossuet

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Conhecido pela defesa enérgica da monarquia absolutista e, exatamente por isso, alvo das mais viscerais críticas por parte dos pensadores modernos, Bossuet revela toda a medida da sua genialidade nos seus “Discursos

Publicado originalmente em 1681, o Discurso sobre a História Universal fora redigido com o propósito de servir à educação do Delfim — primogênito do rei — da França. Nesta obra, Bossuet apresenta, através de um conjunto de coerentes concatenações, todos os períodos da história humana. O evidente crivo religioso — objeto do mais completo desprezo da crítica moderna — estabelece, contra a tendência superficial e enviesada das análises niilistas, uma interpretação lúcida da história do homem em face do nascimento e morte dos impérios e das civilizações.

A lucidez de Bossuet é produto do seu entendimento da força motriz, da causa das realizações humanas: a realidade da religião. Qualquer análise histórica que suprimisse, em nome de uma escola de pensamento materialista, a direta — e permanente — implicância da religião no surgimento e consolidação das sociedades humanas, com toda a complexidade inerente a elas, não alcançaria uma compreensão razoável dos fatos. A religião é o substrato mesmo sobre o qual a existência acontece. O clérigo francês, escrevendo para o filho do rei, delineia os períodos, as épocas, as fases; as conquistas, os sacrifícios e os triunfos desta existência.

O pecado original, os profetas, juízes e reis do Antigo Testamento; a encarnação do Verbo, a vida, morte e ressurreição de Christo; os primeiros cristãos, as perseguições, os mártires; a progressiva aceitação e, finalmente, a oficialização do Cristianismo nos âmbitos político e cultural do Império Romano; as lutas contras as heresias; a queda do Império Romano; a conversão dos bárbaros e, por último, a consolidação do Sacro Império Romano Germânico sob Carlos Magno. Bossuet concatena todos esses fatos históricos com a história profana também: Hermes Trismegisto, contemporâneo de Moisés; as civilizações que se desenvolveram às margens dos rios Tigre e Eufrates; a Babilônia; o Egito; a Grécia.

Jacques Bossuet discorre sobre como a Providência Divina conduz todas as coisas, todos os apetites políticos, todos os movimentos filosóficos e culturais, em suma, todo o engenho humano com a finalidade de cumprir com o plano da salvação das almas. O filho de Luiz XIV, para quem Bossuet originalmente escrevera os discursos, fora assim instruído sobre a História. E é desta instrução, portanto, que nós, leitores de Bossuet, somos convidados a participar.

O livro foi publicado pelo Centro Dom Bosco graças a uma campanha de financiamento coletivo.

“La sagesse humaine apprend beaucoup, si elle apprend à se taire”. “A sabedoria humana aprende muito se aprender a calar-se”.

Jacques Bossuet

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