PAULA MARISA | A direita brasileira fez uma manifestação histórica. E agora?

Paula Marisa
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Especialista em educação, palestrante e comentarista política. Meus pronomes são Vossa Majestade/Vossa Alteza.

No último domingo, dia 25, a Avenida Paulista ficou tomada por mais uma manifestação da denominada direita brasileira. Centenas de milhares de pessoas vestidas de verde e amarelo, de maneira ordeira e pacífica, atenderam ao chamado de Bolsonaro.

O ex-presidente, acuado após as últimas investidas do consórcio PT+STF contra ele e políticos de sua base, chamou o povo para comparecer ao ato que, segundo ele, tinha como objetivo lutar pelo Estado Democrático de Direito e proporcionar uma oportunidade para que ele se defendesse das acusações que lhe são imputadas.

Passada a empolgação com o absoluto sucesso de público do evento, creio que se faz necessária uma reflexão sobre tudo o que aconteceu. As reações na rede social vão desde o mais completo êxtase até o total pessimismo. De um lado vemos o grupo do “a esquerda está desesperada”; do outro, o grupo do “nada vai mudar”. Afinal, qual deles está certo?

A primeira coisa que eu gostaria de esclarecer é a diferença entre comício e manifestação, pois vejo que existe uma grande confusão atualmente quanto à forma e aos objetivos de cada um deles. Ambos têm sua importância, embora sejam coisas diferentes.

Comício é um ato realizado para que um político, partido ou candidato possa expor suas ideias ao povo. Já a manifestação é um ato popular que serve para fazer uma reivindicação ou defender uma causa. Em ambos os casos, há uma demonstração pública de poder a depender da quantidade de pessoas mobilizadas.

O que aconteceu na Avenida Paulista no último domingo foi um comício para mostrar o poder que a liderança de Bolsonaro ainda exerce sobre o eleitorado brasileiro. O ato também foi importante para mostrar à opinião pública que o ex-presidente consegue aglutinar muitos nomes da classe política em sua defesa. Se este foi o objetivo dos organizadores, podem considerar que o ato foi um estrondoso sucesso. Agora, se o objetivo era fazer uma manifestação para que o Brasil volte a ser uma democracia de fato, com liberdade de expressão, e cessar a sanha persecutória do consórcio PT+STF, a avaliação é bem diferente.

Como eu disse anteriormente, a manifestação serve para fazer reivindicações ou defender uma causa (ou ambos). O primeiro empecilho para que isso ocorresse foi o pedido que Bolsonaro fez para que os participantes do ato não levassem cartazes. E só para deixar bem claro aqui: eu compreendo perfeitamente a delicada situação em que o ex-mandatário se encontra, em especial após os atos de vandalismo do 8/1, apenas quero fazer uma análise honesta do episódio. Para que uma manifestação consiga atingir o objetivo de cessar a opressão estatal, é necessário ter um objetivo claro e específico.

Vamos pegar como exemplo as manifestações que ocorriam em nosso país lá pelos idos de 2015, 2016. As pessoas que iam às ruas estavam pedindo “Fora Dilma” e “Lula na cadeia”, e além dos cartazes e gritos de ordem havia também os bonecos gigantes e o famoso “Pixuleco”. Qualquer pessoa, do analfabeto ao PhD, consegue compreender perfeitamente o que significa “Fora Dilma” ou “Lula na cadeia”, já a “Defesa do Estado Democrático de Direito” é um objetivo bem mais complexo e difícil de assimilar. Concordam?

Além dos objetivos, slogans e símbolos, também havia um planejamento de longo prazo combinado com uma articulação política dentro do Congresso. Não entrarei no mérito da qualidade desta articulação, para fins desta análise apenas quero lembrar que ela existiu.

Eu realmente não tenho nenhuma informação privilegiada de bastidor quanto ao planejamento estratégico a respeito do ato do dia 25, se é que existiu algum. Mas, com base nos argumentos que apresentei e nos estudos que tenho feito nos últimos anos, posso concluir que o ato foi extremamente importante para demonstrar que a direita continua viva e tem um incrível poder de mobilização popular. É indiscutível que a mais importante liderança política no campo da direita brasileira atualmente é Jair Bolsonaro e que ele sofre uma perseguição completamente abjeta por parte do sistema. Não só ele como todos que não tenham feito o L na última eleição. Também vejo que este pode ser o início de uma movimentação para barrar os avanços autoritários do consórcio, porém, para que este objetivo seja alcançado, precisaremos de ações coordenadas e muito planejadas.

A história nos mostra que demonstrações de força da oposição a um regime autoritário, muitas vezes, geram como resultado o endurecimento do regime. Isto ocorre quando a mobilização se dá de forma isolada, sem um bom planejamento estratégico de curto, médio e longo prazos. Por outro lado, quando uma manifestação gigantesca, como a ocorrida no último domingo, é combinada com outras ações (articulação dentro do Congresso, calendário de ações etc.), podemos ter uma mudança no cenário político.

Qual será o desdobramento do ato do dia 25? Esta é a pergunta de milhões que todos estão se fazendo no momento. Eu sinceramente espero que tenha sido o início de uma nova etapa na luta pela liberdade do povo brasileiro, que o planejamento e a articulação das nossas lideranças consigam alcançar êxito, que o Brasil pare de ser o país do futuro e passe a ser o país do presente. Não acredito em uma solução mágica e rápida que venha de cima para baixo. Estamos em meio a uma guerra cultural e, neste caso, as pequenas ações feitas pelo próprio cidadão que influencia o entorno do seu bairro é tão ou até mais importante do que o que ocorre nos bastidores de Brasília. Cada um de nós é importante, façamos a nossa parte e confiemos no Senhor.

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