ENTREVISTA | Luto: dor, amor e crescimento

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Dra. Rebecca Athayde, autora de O mínimo sobre o luto, fala sobre os desafios da dor que pode se transformar em amor

A Editora O Mínimo lançou há duas semanas um de seus títulos mais importantes e bem escritos, O mínimo sobre o luto, em que a Dra. Rebecca Athayde, Doutora em Psicologia Social e especializada em Logoterapia e Psicologia Tomista, a partir de sua experiência profissional e sobretudo do processo de perda de seu filho Matheus, apresenta dicas essenciais para qualquer um que precisa enfrentar o luto, um dos desafios mais difíceis para as pessoas.

A partir de uma apurada visão sobre o sentido da vida, o sentido da morte e da caridade cristã, Dra. Rebecca sinaliza, sobretudo, para o caminho que, no enfrentamento do luto, transforma a dor em amor.

Confira abaixo a entrevista que ela nos concedeu.

Revista Esmeril: Fale um pouco sobre sua atuação como psicóloga e professora.

Dra. Rebecca: Eu me formei em Psicologia em 2010, pela Universidade Federal da Paraíba, aos 20 anos. Nesse mesmo ano, comemorava o prêmio de jovem pesquisadora do CNPq, por um trabalhado sobre Altruísmo, e a aprovação no Mestrado. Em 2015, saía daquela universidade, com os títulos de Mestre e Doutora, aos 25 anos.

Todo o foco da minha carreira, até então, havia sido o universo acadêmico e de pesquisa. Ao terminar o Doutorado, passei em uma seleção para dar aulas no sertão da Paraíba. Ali, fiz aquilo para o qual havia me preparado: além das aulas, montei meu grupo de pesquisa e comecei a orientar os alunos.

Certo dia, estava aplicando uma prova, e notei um aluno um pouco estranho. Fui lá conversar com ele, mas ele não disse nada. Pouco depois, ele jogou a prova no meu birô e correu. Em todos os itens da prova, ele escreveu: “me ajude enquanto há tempo!”

Aquele fato e o desenrolar dele contituíram um pontapé para que eu me voltasse para a clínica. Queria poder ajudar as pessoas de modo mais direto, e comecei a estudar com afinco, especialmente, a Logoterapia e a Psicologia Tomista. Depois, comecei a fazer cursos e supervisões voltados para Psicologia Clínica e fui me direcionando cada vez mais a esta área.

Hoje, atendo na clínica pacientes do mundo todo, e,uma das minhas maiores demandas é mesmo o luto, desde que a vida me convocou a aprender a lidar com ele. Também tenho um grupo de mentoria e supervisão chamado Mentoria Princípio, dou aula no Instituto de Ciências da Mente e lanço cursos na internet, como o curso Caminho – que visa a conduzir a pessoa ao amadurecimento da sua personalidade, o curso dos Quatro Temperamentos, e o curso Luz na Escuridão, voltado especificamente ao momento do luto.

Revista Esmeril: Fale sobre seu livro O mínimo sobre o luto, recentemente lançado pela Editora O Mínimo.

Dra. Rebecca: O livro reúne os conhecimentos teóricos e toda a minha vivência com o luto do meu filho Mateus. Nele, abordo o sentido da vida, da morte, do sofrimento, trazendo muitos dos ensinamentos de Viktor Frankl sobre isso, e dou inúmeras estratégias para que o leitor possa passar pelo luto e encontrar luz no meio da escuridão, encontrando sentido no sofrimento e não se deixando sucumbir por ele.

Revista Esmeril: Há dois capítulos centrais em seu livro, e em torno dos quais me parece estar a essência de sua obra: “O sentido da vida” e “O sentido da morte”. Comente um pouco sobre essas duas questões quando relacionadas ao sofrimento pelas perdas e ao luto.

Dra. Rebecca: Entender o sentido da vida e o sentido da morte é fundamental no processo do luto. Se eu entendemos que o sofrimento faz parte da vida, que não somos livres dele, mas que somos livres para escolhermos como queremos passar por ele, podemos, então, traçar a nossa escolha. No livro, eu também abordo o que faz com que a gente continue lutando, mesmo diante do sofrimento, e o que dá sentido à vida,e falotambém como a morte é aquilo que nos acorda para a vida, nos chacoalha e nos lembra que temos uma missão. Falo ainda sobre o sentido cristão da morte, direcionando o nosso olhar para a vida eterna.

Revista Esmeril: Selecionei alguns trechos em destaque no 3º capítulo de seu livro, que gostaria que comentasse aqui: “O tempo não cura tudo”; “Minha dor me faz querer viver em direção a uma promessa de vida eterna”; “Precisamos ter como objetivo diminuir a dor do outro”; “Diante do amor, qualquer sacrifício parece insignificante”.

Dra. Rebecca: Quanto à primeira citação, de que o tempo não cura tudo, a questão é que temos a impressão errada de que, diante do sofrimento, todos crescem. A verdade é que o sofrimento, especialmente o inevitável, como a morte, ou nos acanalha de vez, nos tornando mais amargurados com as tragédias da existência, ou nos enobrece e nos forja diante da dor. Quantas pessoas conhecemos que escolheram exatamente o caminho da amargura e da lamentação? O que cura é encontrar um sentido em meio ao sofrimento!

“Minha dor me faz querer viver em direção a uma promessa de vida eterna”: na experiência da morte do meu filho Mateus, percebi que o Céu – e tudo o que o envolve – adquiriu uma beleza muito maior. A promessa da vida eterna enche o nosso coração de esperança e nos faz ter na saudade, uma espécie de estrelinha de Belém que direciona o nosso olhar pra vida eterna e na espera do abraço que, se Deus permitir, daremos na eternidade.

“Precisamos ter como objetivo diminuir a dor do outro” é porque, quando nos esquecemos um pouco, quando esquecemos da nossa dor, enos abrimos ao outro que também sofre ao nosso lado, o amor que brota dali transborda e nos alcança. Vai sarando as nossas feridas também. Focar na própria dor só a torna maior. Ver os outros que sofrem e tentar ajudá-los, isso vai curando a ele e a nós!

“Diante do amor, qualquer sacrifício parece insignificante”: como diz Nietzsche, “quem tem um para que/para quem viver, suporta quase todo como”. É o amor que nos faz suportar as maiores dores e sacrifícios! Ele dá sentido a tudo! Lembro quando Mateus estava na UTI e eu me via capaz de fazer qualquer sacrifício por ele. Pensava, por exemplo, nas comidas de que eu mais gostava. Ficar sem elas para o resto da vida, tendo ele, não era NADA! E viver essa experiência de jejuns, orações e sacrifícios foi muito importante para ajudar a organizar a hierarquia de bens dentro de mim! O amor está mesmo no topo de tudo!

Revista Esmeril: Poderia deixar indicações de obras para aqueles que quiserem se aprofundar em leituras sobre o luto?

Dra. Rebecca: Dra. Rebecca: Indico o livro que escrevi, contando toda a história de Mateus, “Pronto para o céu”. Indico também alguns livros que não são diretamente sobre luto, mas que ajudam muito no entendimento da vida e da morte, como o livro “Em busca de sentido” e “A divinização do sofrimento”.

Conhecer biografias de pessoas que passaram por essa dor e deram a melhor resposta possível à situação também é inspirador. Neste sentindo, indico o livro “Nascemos e jamais morreremos”, de Chiara Corbella.


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