MURALHA DE LIVROS | A 50ª Muralha!

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Edição especial de 50º “aniversário” da coluna

Esta 50ª edição da Muralha de Livros está mais que especial, toda ela com autores clássicos e contemporâneos consagrados: Dostoievski, Rodrigo Gurgel, Giovanni da Salara, Brunetto Latini, Monteiro Lobato e Oscar Wilde. Além deles, a pré-venda de uma provável obra-prima de um dos melhores poetas da literatura brasileira atual, João Filho.  

Prepare-se para grandes obras, e um excelente sábado!

Destaques

O primeiro destaque da semana vai para ninguém menos que Dostoievski, cujo romance Os demônios ganhou edição especial pela Sétimo Selo. Inspirado pelo brutal assassinato de um estudante cometido por um grupo de niilistas que chocou toda a Rússia em 1869, Dostoievski escreveu esta história ao mesmo tempo sombria e profética, na qual pinta todo o cenário dos males morais e espirituais, dos “demônios” que afligiam a cultura russa do século XIX: o niilismo revolucionário de uma sociedade aparentemente culta e liberal, o socialismo ateu, o problema religioso, o poder autocrático e as suas ramificações.

O alcance de seu quadro e sua capacidade incomparável de dar vida e encarnar em personagens as mais profundas e complexas questões morais e filosóficas e ideias sociais, fazem de Os demônios talvez a criação mais deslumbrante e atual de Dostoievski. E a edição da Sétimo Selo ainda conta com a consagrada tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra (indicada pelo Professor Rodrigo Gurgel a todos os que desejam aproveitar melhor esta obra monumental de Dostoievski), além de notas e uma introdução do renomado filósofo russo Nikolai Berdiaev.

Leia abaixo um trecho do primeiro capítulo da segunda parte da obra:

“Passaram oito dias. Agora que já tudo acabou e estou escrevendo a crônica, sabemos o que aconteceu; mas na altura ainda não sabíamos nada, e é natural que nos parecessem estranhas certas coisas. Pelo menos, eu e Stepan Trofímovitch, nos primeiros tempos, encafuamo-nos e, assustados, observávamos de longe. Eu, aliás, de vez em quando ainda saía e, como antes, levava-lhe as notícias, sem as quais ele não podia viver.”

O outro destaque vai para um lançamento da Editora O Mínimo, O mínimo sobre literatura, de Rodrigo Gurgel. Fundado em sua experiência de leitor, crítico literário, escritor e professor de literatura e escrita criativa, Gurgel introduz ao leitor o mínimo (que já é muito) a literatura pode fazer por ele: conhecer-se a si próprio. Afinal, é esta arte que contribui para fundar civilizações, por meio de seus grandes autores, a que melhor nos ajuda a compreender as paixões e comportamentos do homem em todos os tempos. E, se o objeto da literatura é a própria condição humana, aquele que lê as grandes obras e as compreende se tornará um conhecedor de si próprio e também do ser humano. 

Confira abaixo um trecho do livro:

“Quando digo literatura, refiro-me à literatura enquanto objeto de leitura — e leitura como maneira de compreender, de interpretar, de decifrar um texto. Refiro-me à literatura enquanto criação do texto, enquanto tentativa de, por meio da escrita, compreender o mundo em que vivemos. Ou seja, quando falo em literatura, penso no sentido do leitor e do escritor — no sentido daquele que frui o texto e daquele que produz o texto.”

Outros lançamentos

Pela Benedictus, o 6º volume da série “Inverno”, de Giovani da Salara, Inverno global. Nesta obra, o historiador, filósofo e conferencista analisa os movimentos e esforços de grupos variados para reordenação da geopolítica global, desde as ações culturais e políticas que têm cada vez mais configurado o mundo a uma utopia à 1984, passando pelos embates e avanços do islamismo e do comunismo mundo afora, até as mais recentes ações em direção ao que se convencionou chamar Globalismo.

Pela Editora 34, A Retórica, de Brunetto Latini. O autor, literato e político de Florença e contemporâneo de Dante Alighieri, foi igualmente exilado de sua pátria por razões políticas. É durante o exílio que ele compôs A Retórica, obra em que traduz e comenta minuciosamente trechos do De inventione, do filósofo Marco Túlio Cícero, sobre a arte da retórica. Brunetto dedicou-se a traduzir Cícero do latim para o vernáculo florentino, a língua do homem comum, não erudito. Assim, acabou por influenciar o próprio Dante, que depois escreveria algumas de suas principais obras, como Vida nova, Convívio e Divina Comédia, também num registro mais próximo ao vernáculo de sua cidade. Esta tradução de Emanuel França de Brito, a primeira feita no Brasil, vem acompanhada de notas e de um alentado estudo introdutório do tradutor, professor de língua e literatura italianas na Universidade Federal Fluminense.

Por ocasião do Dia Nacional do Livro Infantil, celebrado em 18/04,  o IBESEC lançou duas das grandes obras de Monteiro Lobato, pioneiro da literatura infantil no Brasil: A menina do narizinho arrebitado e Jeca Tatuzinho. Os dois livros vêm compilados na mesma edição, de capa dupla, em que se mentem as gravuras originais, somadas às novas ilustrações do artista Carlos Baku. Ainda, o volume conta com um capítulo extra, em que há um caderno de atividades pedagógicas, perfeito para quem deseja aplicar um reforço educacional ou praticar a Educação Domiciliar (Homeschooling).

E para os pequenos, ainda, uma bela novidade da Editora Texugo (antiga Pelicano): O Rouxinol e a Rosa, de Oscar Wilde. O conto infantil relata a história de um pássaro que sacrifica sua vida para ajudar um jovem apaixonado e conseguir-lhe uma rosa vermelha para que ele desse à sua amada. A edição é enriquecida pelas ilustrações de Sharlene Braga.

Pré-venda

E esta edição especial terminada com o anúncio da pré-venda do novo livro de João Filho, um dos melhores e mais importante poetas da atual literatura brasileira: Rezas. O livro é dividido em três partes: a primeira com trinta e três sonetos que têm, como tema, uma caminhada espiritual – suas quedas, descidas e subidas, o pecado, o exame de consciência, a tentativa de um vínculo com Deus e com o próximo etc. Na segunda seção há quinze sonetos intitulados Nosso Senhor dos Passos, e cada um deles trata de uma das Estações da Via Sacra de Nosso Senhor Jesus Cristo; a terceira e última, intitulada “Fazer da vida uma oração”, é uma ponderação em prosa de pontos cruciais de quem procura ter uma vida espiritual.

Segundo o próprio poeta, “o livro todo é uma caminhada espiritual. Vocês vão encontrar poemas tratando do exame de consciência, das questões morais em relação ao Deus e ao próximo – os Dez mandamentos estão todos ali de algum modo, subentendidos.”

A pré-venda está sendo feita no site do próprio João Filho (link aqui) até o da 11 de junho, com preços promocionais nesse período. Para que o leitor fique com um gostinho da obra, deixamos aqui o soneto que abre o livro:

 

Esquece que és fracasso e turbação,
balança desmedida que se preza
e menospreza – apruma o coração,
e reza, reza, reza, reza, reza...

Esquece que és cansaço e escuridão,
que a hora mais volátil também pesa.
Faze da ladainha o teu arpão,
e reza, reza, reza, reza, reza...

Dentro do carro, à noite, sem cenário,
desertos ou dilúvios, calmaria,
a cada dia conta teu rosário.

O corpo, a voz, o rosto e a volição
refunde para a longa travessia –
faze da tua vida uma oração.

 

 

 

 

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