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Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

No dia 30 de outubro de 2022, a nova direita emergente no cenário político brasileiro foi confrontada a um amargo resultado: seu candidato perdia o pleito para o maior nome da esquerda política nacional: Luiz Inácio da Silva, o desagradável e velho Lula. Os imaturos enlouqueceram, os histéricos acorreram à porta das Forças Armadas pedindo socorro, e os reflexivos se perguntaram: como sobreviver aos próximos 4 anos?

É para essas pessoas que criamos essa revista.

A dignidade humana está inexoravelmente atrelada à consciência de si, de modo que voltar as costas à reflexão corresponderia a uma facada na própria alma, fosse a alma passível de sofrer tal coisa. Cuidar da alma, por outro lado, corresponde à busca permanente pela saúde do espírito, que se manifesta em reflexão e recolhimento, diante da adversidade.

As próximas páginas contêm 19 textos, em diferentes registros literários, do artigo filosófico ao ensaio livre, da crônica ao diálogo, da biografia ao debate opinativo; todos eles frutos de reflexões que certamente nos ajudam a responder à pergunta que se impõe: como sobreviver ao governo Lula?

Após o ensaio introdutório, que procura analisar a natureza do patriotismo brasileiro, percorremos seis domínios da atividade espiritual humana, cada qual representado por três textos, todos eles extraídos das edições da Revista Esmeril publicadas entre outubro de 2019 e dezembro de 2022, além de amostras do conteúdo diário publicado pelos colunistas fixos deste portal. 

No domínio da cultura, abordamos o valor das artes e o sentido profundo da apreciação do belo na vida cotidiana das pessoas de carne e osso, e ainda prestamos tributo a uma difícil e clássica obra dos anos 90 que trouxe à luz as origens e natureza do projeto de poder moderno, entre os quais o petista é mais uma nota de rodapé.

Nada pode garantir a sobrevivência da alma às adversidades temporais sem a fé voltar-se ao absoluto, cabendo a tudo o que é transitório (a política em primeiro lugar) apenas o ceticismo. No ciclo moderno da história, porém, as coisas se invertem: inúmeras almas são céticas em religião e crentes em política. Nesta inversão está a origem de uma doença espiritual grave, origem das piores histerias: o fanatismo ideológico. Marx errou feio ao identificar a religião como um ópio do povo. A cocaína do povo, pelo contrário, é a fé no Estado, manifesta na identificação entre ideologia política e sentido da vida. As histórias de um anjo, de um santo e de uma mãe — nossos três protetores celestes –, uma crônica de costumes e um ensaio buscam mostrar a profundidade desse problema entre nós na segunda parte deste livro.

O domínio da história estabelece um fio da cultura grega ao presente brasileiro, tanto por meio de um ensaio biográfico sobre o filósofo brasileiro que retomou o legado de Pitágoras em solo pátrio, quanto num artigo cujo propósito é responder se o espírito democrático nascido na antiga Atenas sobreviveu, ainda que aos farrapos, na versão brasileira da democracia representativa. O último texto dessa seção faz do futebol uma lente de aumento por meio da qual analisar as picuinhas e os tumores mortais da política, desafiando o medíocre ditado segundo o qual religião, política e futebol não se discutem.

Se a imaturidade é um dos males mais evidentes do debate político brasileiro, é de educação que precisamos. Nesta seção, o tema é explorado num ensaio sobre os caminhos da maturidade, num brilhante diálogo sobre a intrincada – e necessária – tensão entre infância e vida adulta na alma humana, e numa verdadeira aula sobre o fantástico mundo real, negado pelos amantes inveterados de sonhos vazios. Não existe amadurecimento possível sem autoconhecimento e reconciliação com o mundo como ele é; reflexo de nós, tal como insistimos em permanecer. Agir sobre o mundo para melhorar nossa vida é a fórmula do fracasso da qual é obrigatório se libertar.

De longe a seção principal deste nosso manual de sobrevivência, o domínio do humor, insisto hoje e sempre, apenas ele pode salvar o Brasil. Por que o Brasil precisa de falta de seriedade? E o que faz do humor o componente predominante da identidade nacional? Se por um lado ninguém amadurece sem rir de si mesmo, a solução existencial para suportarmos a mesquinhez da política local tem sido o humor, do qual não podemos prescindir, se quisermos sobreviver ao inevitável inferno em que estamos mergulhados. 

Feita a peregrinação pelos territórios da arte, da fé, da história, da educação e do riso, chegamos ao palco da política, representado por três artigos diferentes de tudo o que você já leu: uma investigação filológica do termo direito, recompondo o sentido verdadeiro da palavra, vital quando se fala de política; um ensaio sobre a vida na era que recusa Aristóteles e aclama a mediocridade sorrateira dos sofistas, isto é, algumas notas explicativas quanto a invenção comunista chamada império da desinformação; e um inusitado diálogo sobre a certeza política e seus inimigos, no qual direita e esquerda são postas contra a parede e a oposição amigo/inimigo que nos divide, acirra e aprisiona no sétimo círculo do inferno é, finalmente, honestamente revisitada. 

Não estamos aqui para lhe enfiar notícias goela abaixo, mas para dar a você os melhores instrumentos de polimento da alma e conquista de equilíbrio mental. Se você quiser sobreviver aos 4 anos de governo Lula, acredite, é justamente disso que você vai precisar. 

Pense. Estude. Reformule. Seja livre – no único domínio em que a liberdade não pode ser destruída. 

Boa leitura e boa sorte ao longo da estrada de espinhos que, a todos, nos espera.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2023

7 COMENTÁRIOS

  1. o difícil para um povo que em sua história não tenha enfrentado nenhum grande problema, saiba como se livrar do comodismo que está acostumado.
    esse momento da história, é o grande aprendizado para o povo brasileiro o despertar.

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