ISRAEL SIMÕES | Quem agrediu Ana Hickmann?

Israel Simões
Israel Simões
Terapeuta, filósofo clínico e curioso observador da vida cotidiana.

Quem é o homem que agrediu Ana Hickmann? Alexandre é o nome dele, eu sei, está em todos os jornais. Não sabia que era Correa, sobrenome de origem portuguesa, até resolver que este seria o tema da coluna esta semana. Mas ainda não sei quem ele é. Você sabe?

Desde que surgiu a notícia de que a apresentadora foi agredida pelo próprio marido, encurralada na parede, ameaçada e prensada por uma porta de correr, a internet resgatou uma série de vídeos em que Alexandre demonstra um estilo pessoal bruto, machão. São trechos de entrevistas ou gravações caseiras em que o casal parece viver um certo padrão de interação a-bela-e-a-fera: ele emite críticas rudes, deboches, respostas secas enquanto ela faz cara de surpresa, de mocinha escandalizada. O conteúdo motivou milhares de comentários do tipo “ele nunca me enganou”.

Mas eu ainda não sei muita coisa sobre Alexandre Correa. Sim, ele é grosseiro, mas e aí? Quanto isso diz sobre o episódio lamentável que colocou o seu nome na boca do povo?

O sujeito de energia excessivamente masculina, de comportamento impulsivo, reativo e frequentemente ignorante, pode até ser mais propenso a agredir uma mulher, mas somente quando a sua personalidade é tão pequena, tão atrofiada, que não abrange os seus hormônios, muito menos os seus sentimentos. Agredir a si mesmo inclusive: são indivíduos mais tentados pelo risco, por hábitos viciosos e mesmo confusões que provoquem aquela sensação estimulante de frequência cardíaca aumentada.

De novo, tentados. Se descem à perversão ou se refreiam no meio do caminho é outra história.

Com certeza você leitor conhece bons exemplos de policiais, bombeiros, pedreiros e lenhadores que fazem o tipo bruto e que nunca agrediram uma mulher. Não são gentlemans, mas também não são animais.  

E não faltam personagens masculinos de sucesso que façam o tipo machão nos filmes, nas novelas, no imaginário popular. Quem não se lembra de Petruchio e Catarina, da novela O Cravo e a Rosa, inspirados no clássico de Shakespeare A Megera Domada? Os embates do casal não eram exatamente verbais: havia tapas, empurrões e objetos arremessados para todos os lados. Dentro dos limites, de uma calibragem que permite um embate justo.

Talvez uma das cenas mais repetidas no cinema americano, pelo menos há três ou quatro décadas atrás, são de mulheres sendo agarradas pelo braço e cedendo ao beijo do homem que, o filme inteiro, as tentou conquistar. Não há violência, mas virilidade, capaz de agir rápido para converter a raiva em súplica, sedução, sexo.

Portanto eu pergunto novamente: quem é Alexandre Correa? Não falo do timbre de voz nem dos modos espontâneos, mas do caráter: o que é estável neste homem? Algum tipo de cosmovisão? De fé? Ou apenas o orgulho de ter nascido com um queixo quadrado? O que pensa? No que crê?

Todos os jornalistas e curiosos que se meteram a comentar o caso deveriam, primeiro, ter se perguntado onde este indivíduo se perdeu da voz de Deus, de sua própria consciência, assumindo a face maligna de um agressor dos mais desprezíveis. Com certeza não foi na matéria, que já é caída por natureza, mas nas dimensões superiores que nos constituem.

Aquelas que a modernidade insiste em ignorar para glorificar os corpos e os impulsos, na insistência da imanência, até o momento em que cai assustada ao descobrir do que um homem imoral é capaz.

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