O acontecimento marcou o início da consolidação da infraestrutura no Brasil
Um dos fatos que marcaram para sempre a história do Brasil fora, certamente, a transferência da côrte portuguesa de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1808. A viagem iniciara-se precisamente no dia 29 de novembro do ano anterior. O deslocamento de uma côrte europeia inteira para as suas possessões em ultramar representou uma singularidade na história moderna: a astúcia do rei português deixou Napoleão boquiaberto.
Em fins de novembro de 1807, 14 veleiros apinhados de livros, joias, prataria, porcelanas, armamentos e víveres para cerca de 15 mil pessoas zarparam, sob a guarnição da marinha inglesa, de Lisboa rumo ao Brasil. A decisão da transferência da côrte portuguesa fora tomada como última alternativa contra o expansionismo de Napoleão Bonaparte — que literalmente engolia a Europa. O imperador da França anexara aos seus domínios boa parte do mundo civilizado; porém, quando o seu exército atravessara a fronteira entre a Espanha — já dominada — e Portugal, a estrutura administrativa deste já estava a caminho do Brasil.
Um dos grandes empecilhos aos projetos de expansão de Napoleão fora a marinha inglesa que, mais sofisticada, oferecia resistência efetiva às investidas francesas nos mares da Europa. Como retaliação, Napoleão impôs o Bloqueio Continental, uma série de restrições ao comércio inglês com as nações europeias. Esta medida desfavoreceu enormemente a coroa portuguesa que celebrara, há séculos, acordos de mútua ajuda com a Inglaterra. Enfrentar os exércitos de Napoleão era mais arriscado do que, sob a proteção dos ingleses aliados, empreender uma longa viagem através do Atlântico — aonde Napoleão dificilmente iria.
A côrte desembarcou no Brasil no dia 22 de janeiro de 1808, na costa da Bahia, após o que, no dia 8 de março, estabelecia-se definitivamente no Rio de Janeiro. A presença da côrte portuguesa no seu território de ultramar — o Brasil — trouxe benefícios objetivos para a população que aqui vivia: abertura dos portos brasileiros às nações amigas — leia-se Inglaterra –; a criação do Banco do Brasil, da Cada da Moeda e dos Correios; a criação de um jornal, a Impressa Régia; as instalações de fábricas; criação do Jardim Botânico, da Biblioteca e do Teatro Real; a criação das escolas de medicina da Bahia e do Rio de Janeiro.
A estrutura político-administrativa-cultural que, em 1822, transformaria o Brasil numa monarquia autônoma, desembarcara com os membros da côrte em 1808. Quem fez o Brasil foi D. João VI.
Com informações do portal History UOL; de Marques, A.H. de Oliveira, Brevíssima História de Portugal, Tinta da China Editora, Rio de Janeiro, RJ, 2018; de Gomes, Laurentino, 1808, Globo Livros Editora, Rio de Janeiro, RJ, 2014; Lima, Oliveira, Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira, Folha de S. Paulo, São Paulo, SP, 2000.
“Ele foi o único que me escapou”.
Napoleão Bonaparte sobre D. João VI
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Não foram para Cayenne, Guyane française.?