HOJE NA HISTÓRIA | Henry Ford estabelece a jornada de trabalho de 8 horas diárias

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

O benefício só era concedido aos funcionários que comprovassem boa convivência familiar e abstenção dos vícios em álcool e jogos de azar

Só é possível ganhar dinheiro numa sociedade na qual um nível mínimo de ordem esteja assegurado. Esta compreensão é basilar. Ordem, naturalmente, implica na moral, no respeito aos valores tradicionais, na boa disposição ao cumprimento do dever. No segundo decênio do século XX, Henry Ford, um dos titãs que personificaria o Capitalista por excelência, havia percebido esta realidade.

No longínquo 5 de janeiro de 1914 — seis meses antes do início dos conflitos da I Guerra Mundial — a Ford Motor Company anunciou que a partir daquela data ficaria estabelecida a jornada de trabalho de oito horas diárias para os seus funcionários. Não só. Um significativo aumento de salário de US$ 2,34 para US$ 5 por dia também foi anunciado na mesma ocasião. Essas medidas, que integravam um sofisticado projeto de engenharia social, foram, tão logo postas em prática, consideradas revolucionárias pela indústria automobilística da época.

Acreditava-se que diminuir a carga horária de trabalho — que frequentemente chegava a extenuantes 12 ou 14 horas de labuta diária — afetaria direta e negativamente a produtividade dos operários. Porém, como Ford comprovou, a produtividade manteve-se praticamente a mesma. Depois de adotar o novo padrão para a jornada de trabalho dos seus funcionários, a companhia experimentou um salto significativo dos seus lucros. O benefício, no entanto, seria concedido somente aos funcionários que comprovassem a mais completa abstenção dos vícios do álcool e dos jogos de azar; os empregados da companhia tinham também de apresentar boa convivência familiar.

O século XX viu surgir um fenômeno singular na História: a engenharia social financiada pela elite capitalista a fim de estabelecer novos paradigmas de comportamento. Evidentemente, o objetivo do engendramento de mudanças comportamentais visava tão somente o lucro das grandes companhias — tais como a Ford Motor Company — que passaram a ter uma perspectiva maior das demandas das pessoas. Entretanto, nem sempre a motivação era clara; causas obscuras estão na gênese das grandes mudanças históricas com uma frequência inimaginável para o cidadão comum — isto é assunto para outra matéria.

Henry Ford não foi o primeiro a adotar a jornada de oito horas de trabalho diário para os seus funcionários, mas seguramente sua empresa foi a primeira a popularizar a estratégia. Com o avançar do século XX, o cidadão comum foi submergindo gradativamente num emaranhado de novos paradigmas nos quais a distinção entre benefícios e malefícios, conforto e ausência de liberdade, segurança e coerção tornara-se praticamente impossível. O escritor Aldous Huxley, justamente considerado um profeta, no seu mais importante livro, “Admirável mundo novo” — The brave new world –, de 1932, estabelece uma distinção temporal na História. Na distopia de Huxley, a História tem duas eras, dois testamentos, duas realidades espirituais distintas: a.F. e d.F., antes e depois de Ford.

Com informações da biblioteca digital da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp e do livro Huxley, Aldous, Admirável mundo novo, Globo Editora, 21ª edição, 2001, 11ª reimpressão, 2012, São Paulo, SP, tradução de Vidal de Oliveira e com prefácio à edição brasileira de Olavo de Carvalho.

Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez por isso tão poucos se dediquem a ele.

Henry Ford
Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2023

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor

CONTO丨Agenda

VITOR MARCOLIN | Quaresma