O marxismo é o maior empreendimento cultural da modernidade. Digo empreendimento porque o marxismo é, apesar da filosofia que o sustenta, uma proposta social. O que ele oferece é uma mudança radical da sociedade. Se ele ainda não obteve sucesso em transformar o sistema econômico que a dirige, fez muito para transformar as mentes e os corações.
Ainda assim, há uma certa resistência, nos círculos opositores ao socialismo, ao estudo do marxismo, como se tratasse de uma perda de tempo ou desgaste de energia desnecessário. Dizem, inclusive, que o marxismo é irrelevante e pernicioso (dois adjetivos contraditórios) e que, por isso, não vale a pena separar um tempo para entendê-lo.
Sempre que eu ofereço algum estudo mais aprofundado sobre o marxismo, além de ter escrito um livro sobre ele, aparece alguém para acusar-me de propagandista. Na cabeça dessa gente, uma ideia contrária deve ser simplesmente ignorada, jamais aprofundada.
No entanto, essa tática de atacar o comunismo em sua manifestação exterior (seus partidos políticos e sua militância), ignorando a devida compreensão de suas ideias, foi a praticada durante muito tempo no Ocidente. Por vários períodos, os partidos comunistas foram proibidos de atuar legalmente e sua militância precisou agir na clandestinidade. Ainda assim, o marxismo só ganhou força em meio a mentalidade ocidental. O que explica isso senão o fato de que combateram-no politicamente, mas ignoraram sua força cultural.
O fato é que o marxismo se impregnou em praticamente todos os centros de difusão cultural do Ocidente: universidades, círculos intelectuais, grupos de artistas, indústria de entretenimento, jornalismo e na educação. A partir deles, as ideias fundamentais do marxismo foram sendo impregnadas na mentes das pessoas, forjando gradativamente uma nova maneira de pensar, em substituição às formas tradicionais. Hoje, pode-se dizer, todos nós pensamos, em alguma medida, à maneira marxista, sob categorias marxistas e influenciados pela perspectiva marxista. Sendo assim, o marxismo, por toda sua influência, acaba refletindo a maneira de pensar de uma época.
Por esse motivo, escrevo e ensino sobre o marxismo, pois tenho a convicção de que entendê-lo é, de fato, entender minha geração, o meu tempo, e a forma de pensar das pessoas da minha época. Ignorar o marxismo acaba sendo, então, abrir mão de compreender mais profundamente a mentalidade do nosso tempo ─ o que, para quem se diz disposto a estudar a realidade e entender a verdade, é inadmissível.
Obviamente que há os cuidados que devem ser tomados ao estudar o marxismo. Como é a cultura dominante do nosso tempo, muitas vezes, ele vai refletir algumas convicções que assimilamos, dando a impressão que concordamos com o que lemos e que se tratam de verdades incontestáveis. Isso, porém, é uma ilusão. Se, em um primeiro momento, concordamos com o que lemos é porque fomos educados exatamente por aquelas ideias. Por isso, devemos sempre estudá-las criticamente ─ o que, aliás, faz parte do próprio método marxista.
Da mesma forma que o marxismo, há outras ideias que também possuem grande influência na mentalidade contemporânea, como o kantismo, a epistemologia moderna e o existencialismo. E, da mesma maneira que estudamos aquele, precisamos estudar estes também.
A verdade é que se queremos compreender melhor o nosso mundo e as pessoas à nossa volta é imprescindível dedicarmo-nos a compreender as ideias que os formataram, e o marxismo talvez seja a principal delas.
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Uma boa tentativa de piorar a vivência humana.
Se o Fábio Blanco apontar onde esta ideia social econômica deu certo, eu passarei a estudar o marxismo.
Por enquanto, não.
Já bastam os que estudaram e buscam implantá-lo pela força e violência.
Está no texto: “Se [o marxismo] ainda não obteve sucesso em transformar o sistema econômico que dirige [a sociedade], fez muito para transformar as mentes e os corações”.
muito bom, professor Fábio.