Deus é absolutamente livre, não está sujeito a nada, não responde a ninguém, faz o que quer, quando quer. Seus atos são plenamente conscientes e sua vontade efetiva. Nele, não há impulsos ou reações, apenas determinações que não conhecem obstáculos.
Já os homens são movidos, em grande parte, por seus instintos. A força animalesca da sua natureza é quem determina muitos dos seus atos. Invariavelmente, suas reações são automáticas, frutos do impulso.
Diante da inconsciência de considerável parcela do comportamento humano, alguns pensadores chegam, inclusive, a negar o livre-arbítrio. Eles pensam assim: alguém com tão pouco controle sobre o que faz não pode ser considerado livre. Por isso, colocam-no como refém do Destino, da Providência, da Fortuna, de Deus.
O que eles não entendem é que o homem é um ser híbrido, consciente e inconsciente, reativo e deliberativo, ator e espectador da própria existência. Se em parte está sujeito a forças exteriores que o conduzem, em parte é o dirigente de sua própria sorte; se, por um lado, está sujeito a forças que determinam suas escolhas, por outro, tem livre-arbítrio, pois é capaz de escolher conforme sua vontade.
Foi o conceito de pecado da perspectiva judaica e, principalmente, o conceito de implicação individual do cristianismo que diminuiram a força do destino ao fazerem do homem responsável por suas escolhas. Tornou-o assim imputável e com isso pressupôs sua capacidade de deliberação. Se delibera, então julga; se julga, pensa; se pensa, tem consciência.
Ter consciência é exatamente a porção de liberdade que pertence ao homem. E essa liberdade é que o faz semelhante a Deus. É verdade que um tipo de deus menor, limitado, mas, ainda assim, com sua parcela de divindade.
No entanto, essa mesma liberdade que diviniza o homem, numa contradição perpétua, o faz pecar, fazendo dele santo e demônio. Por isso, essa liberdade acaba sendo sua bênção e maldição; glória e perdição; torna-o amigo de Deus, mas também o seu mais renitente adversário.
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