ENTREVISTA | Igor, o apaixonado bibliófilo

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Igor Chacon fala sobre sua estreia na literatura brasileira 

Entre os talentos e gratas promessas na nova geração de escritores brasileiros está Igor Chacon, autor de Sol o sol do meu sangue, recém-lançado pela UBIQU!. Os doze contos que compõem esta coletânea incorporam, entre o fantástico e o macabro, entre o lirismo e a tradição regionalista do Nordeste, influências as mais variadas, que vão de Graciliano e Suassuna a Poe, Hemingway, Tolkien e Lewis, e que marcam profundamente a prosa de um apaixonado por livros desde criança.

Confira a seguir o bate-papo que tive com Igor e saiba mais sobre sua formação como escritor, suas influências, seu processo de escrita e projetos futuros.

Revista Esmeril: Como você avalia o cenário literário brasileiro atual?

Igor Chacon: Tenho ficado mais otimista nos últimos anos. Creio que temos bons nomes ganhando espaço, escritores contemporâneos cuja visão é ampliada por se sentarem nos ombros de gigantes, ou seja, gente com ótimas referências literárias. Num país de Machado, Graciliano, Cecília Meireles e Lygia Fagundes Telles (só para citar alguns dos meus preferidos), é impossível reclamar de falta de inspiração. É possível achar obras muito boas na safra atual — se soubermos separar o joio do trigo, é claro.

Revista Esmeril: Fale um pouco sobre sua formação como leitor e como escritor.

Igor Chacon: Minha primeira lembrança com livros foi no início da alfabetização, quando meu avô materno me presenteou com um livro enorme de contos de fadas. Desde então, a estante só cresce. Eu era a criança estranha (e continuo sendo um adulto estranho) que guardava o troco do lanche (ou às vezes nem lanchava) para depois gastar tudo na livraria ou com HQs. Escrever foi quase um passo natural. Cada história que eu lia me dava mais vontade de criar as minhas, descobrir quais personagens nasceriam da minha cabeça, os mundos que eu poderia fazer florescer.

Revista Esmeril: Em que foram inspirados os contos de seu livro Sob o Sol de meu Sangue, recentemente lançado pela UBIQ!?

Igor Chacon: Existem algumas inspirações mais óbvias para os contos, indo de Ariano Suassuna e do meu conterrâneo, Câmara Cascudo, até Allan Poe, a quem devo o toque macabro de algumas das histórias, e Philip K. Dick e suas distopias futuristas. Mas também existe uma inspiração que, ao meu ver, só é possível notar esmiuçando mais as palavras, como uns sopros de Graciliano Ramos, Ernest Hemingway, José Lins do Rego, Raquel de Queiroz, Gabriel García Márquez, Mário Vargas Llosa e até J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis.

Além dessas inspirações literárias, acredito que todo escritor deve ser um bom observador da realidade, das pessoas e do mundo, então, a minha vivência no Nordeste, principalmente Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba, montaram grande parte das imagens do livro; as histórias contadas por minha mãe sobre a infância dela no interior do Ceará também formaram muito do meu imaginário.

Revista Esmeril: Como é seu processo de escrita?

Igor Chacon: Gosto de planejar bem a escrita antes de iniciar um novo projeto, penso no tom, na função e no efeito que desejo imprimir em cada história, elaboro cada cena e cada personagem com esmero. Todavia, nunca sigo o projeto conforme traçado de início, mas essa fase de antes de escrever é muito importante. Por maiores que sejam os ajustes necessários na fase de execução, vale a pena, porque é o mapa do tesouro.

Na prática, gosto de escrever à mão para evitar me distrair, mas como passar tudo para o digital depois é um processo muito demorado e cansativo, estou construindo minha própria máquina de escrever eletrônica e livre de distrações (quem sabe um dia não patenteio e vendo para outros escritores com traços de Transtorno de Atenção igual a mim).

Revista Esmeril: Quais são suas principais referências literárias, que decididamente influenciam em seus escritos?

Igor Chacon: Gosto de pensar que consigo ver a marca de algumas coisas que li durante a vida em minha escrita. O armorialismo de Ariano Suassuna, o macabro de Edgar Allan Poe, a economia de Graciliano Ramos, a lírica de Cecília Meireles e Clarice Lispector, o fantástico de García Márquez, Tolkien e Lewis, cada um a seu jeito. Enfim, gosto de pensar neles, mesmo que outros não consigam ver esses traços.

Revista Esmeril: Tem novos projetos literários em mente?

Igor Chacon: Como escrevo (ou penso em escrever) desde muito cedo, tenho muitas ideias, o problema é arrumar tempo para colocá-las no papel. Atualmente, estou escrevendo mais um livro de contos e organizando um romance.


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