Rodrigo Jungmann fala sobre a importância de se conhecer Antonio Gramsci e suas estratégias de hegemonia cultural
Depois de Marx, talvez seja Gramsci o intelectual mais corrente nas bocas de admiradores (à esquerda) e detratores (à direita), sem que seja de fato conhecido pelas pessoas de ambos os espectros ideológicos. Fala-se de boca cheia no gramscismo e nas estratégias gramscianas, sem que, no entanto, se saiba o mínimo sobre o que está em discussão.
Mas, para quem quiser conhecer esse mínimo necessário para entender um dos intelectuais mais influentes do século XX, Rodrigo Jungmann, entrevistado desta semana e autor de O mínimo sobre Gramsci, oferece as ferramentas necessárias em seu livro. E como aquecimento pré-leitura, acompanhe a entrevista a seguir!
Revista Esmeril: A editora O Mínimo recentemente lançou um livro de sua autoria, O mínimo sobre Gramsci. Qual a importância de se conhecer e discutir sobre Antônio Gramsci hoje?
Rodrigo Jungmann: Conhecer as teses centrais de Gramsci é uma das necessidades inadiáveis para toda pessoa séria que se assombra com o domínio acachapante da esquerda na academia e, de modo geral, em todas as instituições do mundo da cultura ou que dele dependem para a formação do seu universo mental – das suas ideias prevalentes.
Revista Esmeril: Fale um pouco sobre as diferenças fundamentais entre Gramsci e a Escola de Frankfurt.
Rodrigo Jungmann: Ambos se interessam pela denúncia da civilização ocidental e cristã. O que coloca Gramsci num patamar superior no que concerne à sua destrutividade é o fato de que ele coloca a sua análise da cultura a serviço de um projeto extremamente detalhado e meticuloso para a tomada do poder político mediada pela ascensão da esquerda à completa dominação da cultura. A obra dos frankfurtianos é uma longa lamentação; já a de Gramsci é um exercício frio e calculado.
Revista Esmeril: Como se dá a tomada de poder pelo “método” de Gramsci?
Rodrigo Jungmann: Pela conquista da chamada hegemonia cultural, como passo preliminar indispensável para a conquista do poder político propriamente dito. No meu livro, examino as noções centrais: a de sociedade civil, a de guerra de movimento vs. guerra de posições, e o papel dos intelectuais orgânicos. Receio que nenhum detalhe que eu forneça aqui poderá fazer justiça ao conteúdo desse brevíssimo livro. Ou será um spoiler ou será insuficiente. Afinal, o livro traz o mínimo que se precisa saber. Não saberia articular aqui o mínimo do mínimo.
Revista Esmeril: Comente a frase que dá titulo ao um dos capítulos de seu livro: “Hegemonia não combina com democracia”.
Rodrigo Jungmann: O conceito de democracia pressupõe o pluralismo de ideias e, sobretudo, de ideias contrastantes. Pois bem, a hegemonia, pela sua própria natureza, destrói qualquer pretensão a tal pluralismo.
Revista Esmeril: Quais métodos de “contra-ataque” podem se revelar eficazes contra uma guerra cultural aos moldes gramscianos?
Rodrigo Jungmann: Desenvolvo esse tema no fim do livro. A noção básica é a de que se combate fogo com fogo. Só se pode equilibrar a luta contra um poder cultural se se cria uma cultura alternativa àquela que se combate.