ENTREVISTA | A cultura pop e a subversão woke

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

A entrevista desta semana é com o talentoso André Alba, que, com seu irmão Gabriel, há quase 5 anos administra o canal Linhagem Geek, no Youtube, que já conta com mais de 400 mil inscritos e cujo foco é, entre outros, a denúncia da invasão woke na cultura pop.

Esse trabalho dos Irmãos Alba gerou, recentemente, o livro Manual da Lacração, em que os dois influenciadores expõem como a Agenda Woke tem promovido uma devastadora subversão de valores em Hollywood, com o sequestro de personagens icônicos.

Confira e entrevista a seguir, e aproveite para adquirir o livro dos Irmão Alba na Black Week da nossa livraria, que termina amanhã!


Revista Esmeril: Você fazia bastante sucesso com seus antigos canais (Spider Concense, e depois Alba Expider). O que o fez abandonar aqueles projetos e mudar de rumos?

André: O que me fez abandonar aquelas iniciativas foi o próprio YouTube. O primeiro canal foi desmonetizado sem qualquer justificativa, e então, criei outro canal. Quando cheguei a 330 mil inscritos, o canal foi hackeado por um russo, que começou a fazer lives vendendo Bitcoin, e nunca consegui recuperar, pois o YouTube não me deu qualquer suporte.

Naquela época eu já estava trabalhando na Jovem Pan, e já havia conversado com meu irmão (Gabriel Alba) sobre começarmos um canal de cultura pop. Isso me fez desistir dos projetos anteriores e me focar no Linhagem Geek.

Revista Esmeril: Qual é a linha editorial do Linhagem Geek.

André: O canal tinha uma linha editorial muito simples, que era eu e o Gabriel falarmos sobre coisas de que gostamos na cultura pop. Nosso combinado era não falar de política, para não deixar o canal “pesado”. Queríamos uma coisa mais light. Porém, nos deparamos com uma invasão gigantesca da cultura woke no universo pop, e acabamos nos comprometendo a denunciar isso.

Uma coisa interessante a se comentar é que muitas pessoas que não têm tanta familiaridade com a cultura pop nem com o wokeísmo veem nossas denúncias e acham que existe exagero da nossa parte, que inventamos a lacração onde ela não existe. Mas quem acompanha e consome a cultura pop, percebe que ela está há algum tempo, sobretudo em um período recente de três anos, completamente entregue à Agenda Woke.

Revista Esmeril: Vocês sofrem cancelamentos (por parte do público, ou das plataformas em que publicam seus conteúdos, etc.)? Como fazem para contornar essa situação?

André: Já sofremos vários tipos de cancelamento.Nós denunciamos as agendas ideológicas nas obras do universo pop por meio de argumentos e evidências, e o que ocorre? Perfil no X, por exemplo, publicam cortes das nossas análises, fora de contexto, para nos colocar os rótulos de machista (quando denunciamos o feminismo forçado e goela abaixo, por exemplo), racista (quando denunciamos o ativismo racial) etc. Isso gerou os cancelamentos, mas que não tiveram tanta força, porque esses cancelamentos partiram da bolha esquerdista para a bolha, ficando sem muito efeito. E suspeitamos, também, que a agenda do cancelamento woke está aos poucos perdendo força.

Revista Esmeril: A Vide acabou de publicar seu livro Manual da lacração: como o progressismo dominou o audiovisual e fez de Hollywood uma agência de militância. Falem um pouco sobre esse livro: como surgiu a inspiração para escrevê-lo, como foi o processo de escrita a 4 mãos, qual o foco principal de suas análises etc?

André: A ideia do livro veio justamente com a experiência do Linhagem Geek. O canal já tinha mais de três anos, e quisemos dar uma “versão impressa” ao nosso conteúdo. Resolvemos catalogar todos os personagens que foram sequestrados pela Agenda Woke, e pensamos em um livro que seria dividido em duas partes: na primeira, expusemos a ideologia woke a partir de suas raízes, quem foram os acadêmicos que criaram essa cultura etc; a segunda parte, listamos 60 personagens (mas há muitos mais) que foram “sequestrados” pela Agenda Woke. E esse sequestro não é apenas estético (por exemplo, um Capitão América negro), mas da essência dos personagens mesmo. Trata-se, na verdade, de uma subversão de heróis clássicos da cultura pop. As histórias são modificadas, com roteiros que transformam os personagens em militantes – e é claro, que consequentemente, as histórias ficam piores, perdem a graça, pois viram pura panfletagem. O foco não é mais a diversão, apresentar boas histórias, mas apenas uma “boa” militância.

Revista Esmeril: Há dois pontos interessantes que vocês exploram em seu livro, e sobre os quais gostaria que vocês falassem um pouco aqui, no contexto das produções hollywoodianas: a cultura do cancelamento e a espiral do silêncio.

André: Hollywood abraçou muito a cultura woke, o progressismo etc. Acabamos de ver, nas eleições americanas, a maioria esmagadora dos artistas de Hollywood engajados na campanha de Kamala Harris, e com intenso ativismo anti-Trump. E se algum desses artistas se declara republicano, ou aforme posicionamentos conservadores, ele sofre com a cultura do cancelamento, são alvo de piadas, ataques, perdem papéis e patrocínios por seus posicionamentos. Veja o que aconteceu, historicamente, com atores como Jim Cavizel e Mel Gibson, por conta do filme A Paixão de Cristo. Isso induz muitos artistas que não são comprometidos com a Agenda Woke, se calarem para não comprometerem suas carreiras – e essa é a espiral do silêncio. A espiral do silêncio existe para inibir opiniões diversas daquelas que um determinado grupo quer que seja a hegemônica. No meio artístico, onde a maioria das pessoas são de esquerda, isso acontece o tempo todo. Aqui no Brasil, temos os exemplos da Jo Jo Toddynho e Cássia Kis.

Revista Esmeril: Quais têm sido as consequências dos excessos do wokeísmo nas produções audiovisuais? Está havendo um real desinteresse do público por determinados filmes e séries? E, ainda que isso esteja acontecendo, em alguma medida a militância progressista têm gerado frutos, sobretudo entre o público mais jovem?

André: A cultura woke destrói completamenteas obras. Como eu disse, não se busca simplesmente uma alteração estética, superficial, mas essencial. Ela se vale de uma militância explícita, e muitas pessoas ingênuas, que não compreendem as intenções por trás dessa subversão, acreditam que essas mudanças são positivas, que estão sendo promovidas com boas intenções.

Sobre o desinteresse do público com essa invasão da cultura woke, isso é uma consequência óbvia, porque as obras ficam ruins. Além disso, canais com o nosso e vários outros estão evidenciando essa militância woke, e, com o tempo, isso também ajuda a abrir os olhos das pessoas mais resistentes. Quando começamos essas denúncias sobre a cultura woke, por exemplo, muita gente dizia que estávamos exagerando. Mas os próprios produtores se encarregaram, com o tempo, de confirmar nossas denúncias, pois a Agenda Woke tem sempre “dobrado a aposta”, ficando cada vez mais evidente. Eles estão investindo, por exemplo, em obras bem infantis…

Então, à medida que o público vem entendendo a militância, ele também está reagindo a ela de forma negativa. As pessoas querem se divertir, e não ser politizadas. É por isso que a grande maioria das obras explicitamente woke não tem prosperado.

E, sobre o público mais, jovem, sim, há um interesse especial sobre eles, pois se acredita que é público mais fácil de ser cooptado.

Revista Esmeril: Ultimamente temos visto muitas empresas deixando de lado as pautas progressistas, e há analistas que preveem que a cultura woke (pelo menos com a força que tem agora) está com os dias contados. Vocês conseguem, a médio ou longo prazo, vislumbrar isso nas produções hollywoodianas?

André: Sim, temos visto essa fuga da cultura woke por parte de muitas empresas e grupos grandes, e esse recuso relativo tem sido visto na cultua pop também. Mas isso não significa que a cultura woke será extinta, mas talvez que mude de estratégias, fique mais esperta. O wokeísmo continua acontecendo, mas de forma menos explícita, mas não menos revolucionária.


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