DOSE DE FÉ | Inês

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Martirizada aos 13 anos, Santa Inês é símbolo de pureza e amor sacrificial

Hoje é dia de Santa Inês, virgem e mártir.

De família nobre, nascida em Roma, em 291, Inês descobriu logo cedo sua vocação e consagrou-se como virgem de Cristo aos 12 anos. Aos 13, devido à sua beleza, tinha muitos pretendentes, sendo o mais poderoso deles o jovem Fúlvio, filho de Simprônio, prefeito de Roma. Encantado por Inês, Fúlvio pediu-a formalmente em casamento e, diante de sua recusa, denunciou-a como cristã.

Simprônio tentou convencer Inês a renegar sua fé primeiro com palavras doces e, depois, com ameaças. Deu à jovem duas opções: prestar culto a Vesta ou ser exposta em um prostíbulo. Diante da corajosa recusa de Inês, o prefeito de Roma cumpriu a ameaça, condenando-a a ser exposta em um prostíbulo no Circo Agnolo.

A condenação contra a virgem adolescente, no entanto, não estava nos planos de Deus: assim que exposta, Inês foi protegida por seu cabelo, que cresceu a ponto de cobrir sua nudez, e por uma luz intensa que não permitia que os homens se aproximassem dela. O primeiro que tentou, ficou cego e, depois que Inês orou por ele, recuperou a visão e se converteu. Isso aconteceu com vários outros. O próprio Fúlvio tentou assediá-la, mas foi fulminado pelo anjo que protegia a jovem, cuja oração o trouxe de volta à vida, convertido. Por causa destes milagres, no lugar onde era o prostíbulo foi erigida a Basílica de Santa Inês.

Interior de Sant Agnese fuori le Mura, a Basílica de Santa Inês, em Roma

Diante de tais prodígios, Simprônio preferiu “lavar as mãos” e entregar a custódia de Inês ao vice-prefeito de Roma Aspásio, que, muito mais cruel e impiedoso, mandou queimá-la. As chamas, no entanto, não a atingiram, mas se separaram e mataram vários dos soldados que a circundavam. Inês passou por vários outros suplícios, como ser esticada em uma roda de tortura, mas nada parecia afetá-la, e a jovem continuava tranquila a louvar a Deus. Por fim, Aspásio ordenou que a decapitassem. Era 21 de janeiro de 317. Seu crânio, hoje, encontra-se na Igreja de Santa Inês em Agonia, na Praça Navona, em Roma.

Igreja de Santa Inês em Agonia, em Roma

A aparição de Inês a seus pais

Oito dias após sua morte, seus pais choravam desconsolados sobre seu túmulo. Então, a menina apareceu, cercada por várias outras virgens, e os consolou com as seguintes palavras: “Não chorem minha morte, ao contrário, rejubilem-se comigo e felicitem-me por eu ocupar um trono de luz com todas as que aqui estão.”  Isso os alegrou e os encorajou a perseverar na fé.

A imagem de Santa Inês

Na aparição a seus pais, Santa Inês trazia consigo um lírio, que é símbolo de pureza, e um cordeirinho, que simboliza o amor sacrificial de Jesus. Esta foi a imagem que se consagrou da santa. É interessante pensar que Inês, em grego, significa “pura”, e, em latim, remete a “agnus”, que significa “cordeiro”. São José de Anchieta, notório devoto de santos mártires, compôs a Santa Inês seu poema mais célebre, em que o santo jesuíta se refere a ela como “Cordeirinha”.

Madonna e Criança com São José, Santa Catarina e Santa Inês, c.1570 (óleo sobre tela) de Antonio Campi
Nesta tela de Antonio Campi, de 1570, Nossa Senhora encontra-se em companhia de Santa Catarina de Alexandria e Santa Inês, próxima do Menino Jesus, que brinca com seu cordeirinho. Ao fundo, São José.

Modelo de jovem cristã que desde a adolescência deseja se consagrar a Cristo, Santa Inês é invocada como protetora da castidade feminina. Que ela possa proteger nossas meninas contra os ataques do maligno sobre o mundo em suas mais diversas e perversas ideologias.  

Santa Inês, Cordeirinha de Deus, rogai por nós!

 

O martírio da Cordeirinha

 

Aos doze anos, Inês, a Cordeirinha,

se consagrou a Deus Nosso Senhor,

e quando treze aninhos ela tinha,

 

apaixonado por seu esplendor,

o jovem Fúlvio, todo-poderoso,

a ela declarou o seu amor.

 

Porque foi rejeitado, rancoroso,

por ser cristiana, o jovem a entregou

a seu pai, o prefeito prestigioso

 

que Inês a renegar seu Deus tentou,

por meio de ameaças e temores,

mas nada disso à jovem alarmou.

 

Apossado de sórdidos furores,

suas piores ameaças valer fez,

e a um circo de lúbricos horrores

 

enviou o prefeito a pobre Inês.

Porém, por santos anjos protegida,

sequer se pôde expor a sua nudez,

 

e a jovem, por sagrada luz ungida,

cegou a todos que se aproximaram,

e com suas visões restituídas,

 

também todos a Cristo se entregaram,

e mais ninguém ousou assediá-la.

No entanto, quando a Fúlvio relataram

 

a história, ele não creu, e desafiá-la

quis o fidalgo, e, cético e descrente,

arremeteu-se à jovem, e ao tocá-la

 

por um raio foi morto incontinenti.

Ao ver o pobre Fúlvio fulminado,

e seu pai a chorar copiosamente,

 

com seu coraçãozinho apiedado,

orou Inês a Deus e, grande susto,

o jovem fez nascer ressuscitado,

 

e o pai, no entanto, ingrato e assaz astuto,

a custódia da jovem transferiu

a um assistente seu, que, resoluto,

 

ao fogo condená-la decidiu.

No entanto, quando posta na fogueira,

o mínimo calor sequer sentiu

 

das chamas, que arrasaram toda e inteira

a corja dos carrascos que a acenderam,

e muitos mais suplícios à Cordeira

 

tentaram aplicar, mas não valeram,

até que o vil propósito lograram,

quando decapitá-la resolveram,

 

e a Cordeirinha Santa ao Céu enviaram.

 

A aparição de Inês

 

Oito dias depois que Inês morreu,

choravam-na seus pais desconsolados,

e foram de surpresa arrebatados

quando a luzir a filha apareceu

 

e suas mágoas todas consolou,

a pedir que com ela se alegrassem

e que no amor de Cristo de fiassem,

e animados, enfim, ela os deixou,

 

retornando, pra sempre iluminada,

à sua eterna celestial morada.


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