Os Santos Mártires de Uganda foram vítimas de um rei devasso que odiava a moral sexual cristã
Hoje é dia de São Carlos Lwanga e Companheiros, mártires de Uganda.
Para contar a história desses mártires é necessário voltar ao início da catequização do território ugandense, em 1877, quando os primeiros missionários cristãos, protestantes, foram acolhidos por Mutesa, monarca de Buganda, como era conhecido o reino. Apesar de pagão convicto, Mutesa era tolerante com os missionários de outras religiões, e os cristãos logravam conversões mesmo entre os membros da corte.
Dois anos depois, em 1879, os primeiros missionários católicos, que ficaram conhecidos como “Padres Brancos”, foram igualmente acolhidos pelo rei, e sua evangelização foi ainda mais frutífera que a dos colegas protestantes. Acontece que, a partir de 1884, quando Mwanga II assumiu o trono, passou a promover uma violenta perseguição anticristã. Entre novembro de 1885 e maio de 1886, Mwanga II já havia pessoalmente assassinado um pajem cristão e ordenado a morte de outros sete. Não agradava ao monarca a condenação dos missionários cristãos à escravidão e ao tráfico de escravos (atividade lucrativa para o reino), e muito menos a pregação da moral sexual cristã.
Acontece que Mwanga era um devasso, e mantinha para si um harém masculino composto de diversos pajens reais que deveriam submeter-se a todas as suas vontades. Percebendo que a moral cristã ameaçava seu estilo de vida, em certa manhã de 1886 ele reuniu todos os seus pajens e deu-lhes a seguinte ordem: “Todos aqueles entre vocês que não têm intenção de rezar podem ficar aqui ao lado do trono; aqueles, porém, que querem rezar reúnam-se contra aquele muro“.
O chefe dos pajens, Carlos Lwanga, tomou a palavra, dirigindo-se a seus companheiros cristãos: “Todos os homens de boa consciência não podem renegar seu Deus. Ele sempre pediu para seguir suas ordens e nunca nos omitimos, mesmo quando enfrentando os inimigos. Hoje, novamente, iremos seguir o seu comando.” Foi o primeiro que se dirigiu ao muro, seguido por outros onze. O rei instou-os sobre se aquela era a decisão definitiva deles, ao que Carlos respondeu que iriam continuar rezando até a morte. O monarca então ordenou que fossem todos presos e executados
Os treze pajens católicos e outros nove anglicanos, amarrados uns aos outros, foram levados em uma procissão profana à Colina de Namugongo, a 60 km da capital, onde se encontravam. A viagem demorou oito dias, durante os quais os prisioneiros eram escarnecidos e violentados pelos soldados. Alguns acabaram morrendo no percurso, ou trespassados por lanças ou enforcados em árvores, quando desmaiavam. Os que chegaram até a colina, no dia 3 de junho (dia da Ascensão de Jesus naquele ano) foram todos queimados vivos, em cerimônia sacrificial aos deuses pagãos. Carlos Lwanga foi queimado por último, com uma chama mais branda para que morresse mais lentamente. Ao carrasco que escarnecia dele, respondeu: “Pobre homem bobo! Não entendes o que diz. Estás me queimando, mas é como se estivesse colocando água sobre minha cabeça. Eu estou morrendo por amor a Deus, mas fique atento, pois se não se arrepender, é você que queimará pela eternidade.” Suas últimas palavras antes de morrer foram: “Meu Deus!”.
Carlos Lwanga foi beatificado por Bento XV em 1920. Em 1934, Pio XI proclamou-o Padroeiro da Juventude na África Cristã. Em 1964, Paulo VI canonizou-o, junto com os outros 21 mártires ugandenses católicos (incluindo-se os que foram assassinados entre novembro de 1885 e maio de 1886). Em 1969, Paulo VI foi para Uganda e consagrou o altar-mor do Santuário de Namugongo, construído sobre o local do martírio. Que esses heroicos mártires inspirem os católicos na atual perseguição anticristã.
São Carlos Lwanga e Companheiros, rogai por nós!
O martírio de São Carlos Lwanga e Companheiros
Com ódio a Jesus Cristo e Sua gente,
o devasso ugandense rei Mwanga
ordenou aos cristãos pena inclemente,
resolvido a extirpá-los de Buganda.
Em procissão satânica, amarrados
mandou levar o pajem Carlos Lwanga
e outros doze, pra serem consagrados
a demônios em sórdidos braseiros.
A pé seguiram, sendo torturados
e escarnecidos oito dias inteiros,
e os que acaso caíam exauridos,
já morriam nas mãos dos carniceiros,
na forca ou por lanceiros afligidos.
Os demais, completado o cruel caminho,
um a um foram todos incendidos,
e um carrasco mais sádico e mesquinho,
deixando Carlos Lwanga pro final,
para queimá-lo mais devagarinho,
mais branda a chama sacrificial
deixou, e enquanto o pobre chamuscava,
o cruel ria-se um júbilo infernal.
O heroico pajem todo o tempo orava,
arfando a cada verso da oração
na qual os seus algozes perdoava,
e quando já nublava sua visão,
“Meu Deus!”, desfalecendo ele gritou.
Os cruéis carrascos, de satisfação
urraram, mas nenhum deles notou
que aquele era um bramido de alegria,
um cântico que o mártir entoou
ao ver que o próprio Cristo lhe surgia
para levá-lo ao Seu Eterno Abrigo,
onde ao entrar, alegre, ele já via
seus doze santos mártires amigos.
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