Por Frederico Mendonça de Oliveira
Foi intervenção, veio de fora. De cara, MPB – Música Popular Brasileira, 1962/ 1984 – não é música, é canção, subgênero da música, e de mercado, causando adiante o fim de nossa música plena. A Bossa Nova, estilo anterior, era música e canção casados, era samba impressionista. Samba hoje está no gueto, impuseram o soul, disso veio o funk. Milton, Chico, Caetano, Gil, Gal, Bethânia, Elis, Djavan, Belchior – que despertou – , Zé Ramalho, Fagner, Alceu, Ivan, Gonzaguinha, João Bosco, Lulu, Rita, embora com lindos trabalhos, aceitaram o jogo: fama e fortuna garantidos. O custo viria, irremediável.
A esquerda, infiltrada, cooptou a canção-mercadoria, usando essa ferramenta para inocular/disseminar sua mensagem contra os governos militares, dos “gorilas”. Os cancionistas, deslumbrados, viraram “canários da libertação”, paladinos da “resistência ao arbítrio”. Transcendiam a condição de ícones ungidos, enquanto as multinacionais do disco faturavam a ponto de sermos o 4º mercado fonográfico mundial.
A MPB fechou espaços de nossa arte musical, comprimiu tudo na canção. Esvaziou artes plásticas a capas de discos. Nossa poesia virou letras das canções impelidas pelo lobby disco/rádio/ TV. O livro foi preterido pela força comercial irresistível do disco.
O cantor-compositor-intérprete, petrecho indispensável para impelir canção, dependeria da submissão dos instrumentistas, há uma década valorizados até mundialmente, empeços ao lobby. Tais profissionais foram exilados em seu reduto, submetidos a acompanhar canários gigantizados pela MPB. Ou mudassem de profissão. Desamparados, instrumentistas sofreram perdas pesadas por inatividade, subalternizados à condição de acessórios anuláveis caso ousassem ressurgir. Assim tombaram Francisco Tenório Jr., Vitor Assis Brasil, J.P. Meirelles, José Antônio Alves entre outros, e amargaram perverso ostracismo imposto não só esses gênios, mas Luís Eça, Adalberto Castilho, Edson Machado, Edson “Águia” Maciel, sumidades musicais esmagadas pela tirania implacável da canção-mercadoria.
A MPB não frutificou: substituíram-na pelo pantanal de sertanejos fajutos emitindo guais e ao axé regressivo/patogênico, enquanto o pagode pasteurizado definharia sob sua indigência original.
Hoje, arte musical evolutiva e cultura real respiram, mas por aparelhos. E da MPB restou um troço fantasmal: preterida, transfigurou-se em “música ao vivo” em bares/restaurantes, para ouvidos leigos, alheados, quando não moucos.
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Prezado Frederico,
Fostes no alvo. Pertenco a categoria de instrumentistas supra citados.