BRUNA TORLAY丨O melhor do mundo

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

No exato instante em que Lionel Messi, capitão da seleção argentina, levantou a copa do mundo, a estrutura superior externa do estádio que sediou a partida final irrompeu num espetáculo pirotécnico extraordinário, memorável, marcante. Se a busca pelo primor não significasse a maior das realizações humanas, seria impossível explicar porque o mundo inteiro acompanhou atentamente aquele momento.

Copa do mundo, Olimpíadas, campeonatos regionais, nacionais, continentais, mundiais. A continuidade dos jogos gregos, com todo o significado que lhes é inerente, comprova a persistência de um ingrediente chave da civilização: destacar-se pelo primor; ou simplesmente revelar, diante do próximo, superioridade em algum aspecto.

Competições esportivas nos permitem viver esse traço civilizatório de forma espontânea e aberta, com direito a participação de torcedores, envolvidos na busca pela vitória por prezar sua conquista, e consequentemente, apoiar aqueles que a procuram com força e persistência.

Felizmente é assim. Se os seres-humanos não almejassem ser melhores, a essa altura, já estaríamos todos no inferno.

Uma coisa que perdura até nos momentos mais decadentes de uma cultura, nas civilizações mais abatidas, é a premiação. Quem mostra capacidade de fazer alguma coisa com primor destacável é premiado, aplaudido, admirado. Essa possibilidade nos emociona profundamente porque o fato de um ser-humano ser capaz de vencer (no jogo, na luta, na guerra, na vida) nos mobiliza a manter o foco e não desistir. Ela nos revela que é possível fazer melhor – e vencer por isso.

Há essa moda imbecil de louvar gratuitamente os feios, sujos e mal-acabados; os contra-exemplos da excelência. Uma tendência estúpida porque é fácil demais não se destacar, não conquistar o primor, exibir a mediocridade própria a todo ser-humano que assiste à vida passar sem tirar a bunda da cadeira. Ser comum, medíocre, rasteiro, descuidado, inepto a obter sucesso não é digno de admiração; é só o cotidiano de todos nós. E não é o cotidiano que faz sonhar.

A moda socialista de louvar quem não conquista nada por um calculado “respeito aos oprimidos” é tão falsário que nem Macron conseguiu fingi-lo, em se tratando de uma final de copa do mundo; momento em que tendências imbecis voltam pra vala da insignificância e o ser-humano permite exprimir sinceramente o que de fato o realiza: a ascensão; a vitória; a conquista; o alcance do pico duramente alcançável, após muito sofrimento e esforço.

Lionel Messi mereceu especialmente levantar a taça em meio à comemoração geral por representar o traço civilizatório que nos salva de nossa perpétua miséria: lutando pelo título há vinte anos, revelou nessa quinta tentativa a gana concentrada da última chance de ser, finalmente, o melhor do mundo.

E chegou lá. Com louvor e distinção.

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