Era óbvio ululante que Pacheco venceria as eleições no Senado. Era óbvio ululante que Lira, mãos amarradas, chegaria a um acordo com Lula sem enfrentar resistência dos antigos aliados (a bancada de oposição), que resolveram apoiá-lo também.
Mesmo assim, no fundo do vale havia meia dúzia de vaticinadores do inviável. Semelhantes a um pequeno roedor que insiste em ficar deitado no fundo do vale rumo ao qual explode a manada enfurecida, atropelando tudo o que topa pelo caminho, ali repetiam: “a manada não há de nos atropelar; algo tende a interromper sua velocidade antes que nos alcance”. Como se a repetição em voz alta, ampliada pelo eco dos paredões ladeando o desfiladeiro, fosse uma estratégia de ação equiparável à força bruta da tropa cega.
Enquanto isso, houve quem tenha simplesmente escalado o precipício, evitando se deixar esmagar pela manada em avanço sem freio.
E o trem passou. E Pacheco entrou. E Lira se conservou na cobiçada cadeira da casa. E os vaticinadores do inviável foram atropelados pela inevitabilidade das circunstâncias.
As redes sociais são as paredes que ladeiam o desfiladeiro da política, no fundo do qual passa correndo a manada chamada estamento burocrático, atropelando os pequenos mamíferos desavisados, confiantes no eco: “Ouvi dizer que a manada será detida antes de nos alcançar”; “Está louco? Saia daqui e se salve!”; “Você não está ouvindo? Eles serão parados”.
A opinião pública tem o inesgotável poder de manter presas idiotas paradas dentro da armadilha posta para capturá-las. Enquanto os conservadores não tiverem a coragem de sair da armadilha que armaram para o adversário no passado, e na qual acabaram confinados por teimosia em reconhecer que o feitiço virou contra o feiticeiro, serão atropelados por inúmeras manadas ao longo dos próximos quatro anos.
Seguirei trançando a corda ali no alto dos paredões até fazê-la chegar aos mais resistentes. Ainda assim, sabendo que cabe a eles resolver agarrá-la. Enquanto se fiarem na força do eco, certamente não saberão o que fazer com ela.
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