BRUNA TORLAY丨Comunismo e Social-Democracia: uma engrenagem

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

Ontem deparei uma quantidade considerável de propaganda pró ditadura chinesa no Twitter. Parece que o pessoal do Lula foi encarregado de louvar o Mao, mostrando o quanto esse digno senhor salvou o povo chinês da fome. Momento ideal para eu tirar um fragmento de meu diário pessoal do armário, escrito como exercício de síntese para uso próprio.


Toda política socialista é a expressão de um interesse dos que mandam travestido de concessão às necessidades dos que obedecem.

A oligarquia desalmada que vive para conservar a concentração de poder a duras penas conquistada não abraçou a ideologia socialista por crer piamente em sua finalidade, mas por ter capturado o seu magnífico alcance enquanto instrumento.

A miséria material é a condição geral de todo ser-humano, de modo que as massas sempre vivem fatigadas pelo peso das necessidades mais urgentes. Essa condição geral sendo permanente, permanente será o poder daquele que trabalha, ou afirma trabalhar, para suaviza-la. Permanente também será a fidelidade das classes baixas ao discurso que exaltar com elas o seu compromisso. No fim, o preço para conservar o máximo de riqueza possível não passa de um punhado de migalhas distribuídas aos miseráveis na forma de leis, por meio das quais os não tão miseráveis assim têm sua sombra de riqueza confiscada para manter a máquina girando – eis a função da classe média no mecanismo socialdemocrata: garantir a redução de custos da operação.

O firme discurso, repetido à exaustão por uma “opinião pública” adestrada, exaltando a justiça e excelência dessa fórmula é o meio empregado para que o grupo confiscado aplauda o próprio confisco – eis a razão pela qual dar audiência a GloboNews é sinal da tolice mais obtusa.

A chave do sucesso da social-democracia, portanto, é a transformação da utopia socialista em instrumento político das oligarquias concentradoras de poder. Se você ainda não entendeu, deixo um desenho particular que exprime bem esse fato geral: Tom Shelby, em Peaky Blinders, fazendo do sonho da sindicalista Jessie o meio para obter uma cadeira parlamentar pelo partido trabalhista com a expressa finalidade de sabotá-lo de dentro, de modo a conservar seu plano pessoal de ampliação do patrimônio familiar.

Marx criou para os ricos proprietários que dizia combater a melhor ferramenta de controle social disponível. Não que fosse o seu objetivo. Isso decorre exclusivamente da falibilidade inexorável de sua teoria do mundo – que diz respeito unicamente à ordinária sede de poder entre os homens.


Agora reveja a lógica do discurso pró-China daquele pessoal estranho que associa Mao ao projeto que abriria portas ao parque industrial destinado a salvar os chineses da fome. Todos eles estão chocados com os horrores ocorridos nas vinícolas da serra gaúcha, afinal são contra o trabalho escravo.

Bom dia e boa sorte.

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