BRUNA TORLAY丨Bolsonaro e o Partido Novo

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

Não é que sobrou pro Partido Novo “representar a direita” na maior capital do país? Pois é, o assunto me deprime tanto quanto o decepciona, leitor. Mas fato é que Maria Helena Santos, a pré-candidata pelo Novo, repetindo em outra ordem um jargão político meio tucano (“segurança pública”, “geração de empregos”, “instalação de câmeras de segurança”), apresenta-se como a voz da direita nas próximas eleições municipais por São Paulo. O que pensar?

Em primeiro lugar, na incompetência de quem já esteve em condições de articular uma presença sólida na disputa política, mas não o fez. Se trabalho e inteligência fossem o forte da família Bolsonaro, é evidente que não precisaríamos engolir um quadro do partido Novo encarnando a direita e fazendo a crítica necessária a Ricardo Nunes, que nasceu centrão e vai se aposentar, politicamente falando, centrão. Mas não é. O forte do pessoal que se apresentou como esperança em 2018 foi seguir a lei do menor esforço, conclamando seguidores a desprezar quem lhes cobrasse um pingo de boa vontade.

Quando Olavo de Carvalho caracterizou a incipiente direita política como uma “ejaculação precoce”, acertava em cheio. Imaginem um adolescente cheio de si, crente de que é a pessoa mais importante e esperta do mundo largado no meio do Kremlin para fazer estágio. Obviamente, ele não levaria a melhor. A tal ponto se enroscaria na própria inépcia que seria posto de canto pelo estagiário em Administração pública da FGV, que sabia pelo menos grampear o bilhete certo no documento secreto solicitado pela diretoria quando chegou lá. Esta é a situação da política municipal na cidade mais rica do Brasil, cuja prefeitura, no final das contas, será disputada pelas tradicionais forças operantes da política brasileira: a esquerda e o centrão. O adolescente vai ficar do lado de fora do baile sonhando em tirar a dona da festa, ou orçamento paulistano, pra dançar, e morrer jogando dadinho – pra não dizer na praia.

Enquanto isso, as lojinhas de souvenires anunciam a Black Friday; influenciadores diretamente ligados à família Bolsonaro seguem vendendo ilusões (para si mesmos ou apenas ao próximo, só Deus sabe); deputados ligados por laços de lealdade ao grupo vão trabalhando sem despertar suspeitas de uma possível insatisfação com a liderança maior (afinal, quem quer ir pra torradeira?), e o eleitorado vai aos poucos ocupando-se da própria vida, seja desenganando-se em definitivo, seja observando os grãos de trigo que talvez se salvem nos sacos de joio empossados na esteira do ex-presidente. O centrão manda nas decisões de uma liderança virtual, mas totalmente insignificante, e faltam personalidades fortes o suficiente para assumir o leme na calmaria que precede o naufrágio. Nesse cenário, sobra espaço para o Partido Novo, alvo de piadas favorito dos conservadores, mas que parece ter uns líderes não tão avessos a trabalho assim, a ponto de, com uma agenda atraente como pudim de pão em mesa de manjares, pelo menos lutar por espaço nas eleições do maior orçamento municipal do país.

Eu tive paciência com o pessoal da direita política por saber que algumas pessoas desse meio têm valor. Mas quando vejo o Novo apresentando candidato, e o Bolsonaro se escondendo debaixo do paletó do partido que paga seus advogados e articula acordos para minimizar-lhe as represálias, percebo que é uma grande perda de tempo. Não há adolescente que vire gente em poucos anos, sem sofrimento o bastante e um mínimo de disposição para interpretar os sinais da providência divina. Quem fecha os olhos diante da paisagem, não enxerga nada mesmo. É como o pessoal que exerceu a burrice em nome da tranquilidade bancária e agora desconversa, ao ver o Sr. Aleksander Dugin apontando o provável apoio russo ao Hamas, sob a máscara de “apoio aos palestinos”. Ejaculação precoce no embate político; ejaculação falha no campo cultural. A história do menino que não está pronto pro amor e se mete a jactar-se da performance sexual pífia com prostitutas pacientes, ou mulheres desesperadas. É o cúmulo do ridículo.

Enquanto uma guerra de proporções cada vez mais significativas, envolvendo justamente as três forças globalistas em disputa (Califado, Elites financeiras e Bloco Russo-chinês, ou comunismo repaginado), vai se articulando diante de nossos olhos, a mediocridade da direita política associada a Bolsonaro colhe migalhinhas assistindo ao seu paulatino desaparecimento.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2023

5 COMENTÁRIOS

  1. 2018 foi um ponto fora da curva. criou a ilusão de a política seria feita somente nas redes sociais. o grande problema do discurso contra o sistema é que o vencedor anti-sistema vai ser tornar o representante do sistema. acho que a direita colocou muitas esperanças na política. política é redução de danos pq sempre quem se ferra é a gente, o povo.
    bolsonaro nunca foi estrategista. bolsonaro era o símbolo q junto o saco de gatos q era a e ainda é a direita política.
    sobre a eleição… boulos é o favorito pq justamente tá fazendo política. o novo é muito tucano… o atual prefeito de SP é um político de Gabinete elevado a enessima potência… o Sales poderia ser um bom nome mas acha q redes sociais ganha eleição… o cenário de SP é devastador. sinceramente, qual a diferença entre a candidata do novo, o boulos e o prefeito de Gabinete? é muito mais no campo do discurso do que na prática política.
    a tucanizacao é o jeito sp de governar. o próprio Tarcísio é assim. um tucano. se vende como técnico, como se o político técnico não tivesse ideologia. enfim, é aquele velho dilema weberiano… na política de massas o q o político é ou deveria ser: carismático, vocacionado ou profissional? qual desses perfis, o eleitor quer ou qual desses ele acha o melhor pra governar?

  2. o Novo é mais do mesmo, ou seja, o Novo já está velho tal qual os demais. As siglas até podem mudar, no entanto, aqueles que as compõem são os velhos lobos em pele de cordeiro. Política é pura oligarquia aqui no Brasil.

  3. O Novo vem mudando nos últimos tempos; e para melhor. Se vai conseguir amadurecer por completo e se consolidar, isso já não sei.

    Provavelmente, não. Porém, é preciso reconhecer os bons sinais.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor