BRUNA TORLAY丨A miséria do político fracassado

Bruna Torlay
Bruna Torlay
Estudiosa de filosofia e escritora, frequenta menos o noticiário que as obras de Platão.

Todo político depende de algo difícil de obter: votos. Não é fácil convencer o próximo de que ele deva depositar fichas em você. Por essa razão, são fatos comuns nos ambientes políticos o apadrinhamento, as alianças de ocasião e o estabelecimento de coalizões. A porção pequena de um se soma à porção do outro até que se alcance o propósito: votos.

Fracassado é todo político que não acha uma forma de angariar os votos necessários para receber a chance de mostrar se foi ou não digno deles. Sim, porque o eleitor deposita o voto sem saber exatamente o que esperar. Deposita a confiança e observa, razão pela qual é outro aspecto da miséria do político tomar um cuidado forte com a comunicação. Uma vírgula errada pode pesar mais que pilhas de trabalho sólido. Uma vírgula oportuna pode angariar mais simpatias que pilhas de trabalho sólido.

É realmente um mundo cão. A posição do político envolve um punhado de misérias, motivo que me leva a ter por eles uma espécie de comiseração – inteiramente permeada de desconfiança, diga-se de passagem.

Se políticos bem-sucedidos vivem às voltas com misérias, os fracassados, por outro lado, enfrentam a pior de todas: não ter os votos mínimos para manter-se no jogo. Se perder um pleito – o equivalente a ir para o banco dos reservas – já é ruim, imagine não ser ao menos cogitado na escalação. Há quem receba votos, mas não consiga o suficiente para vencer a cláusula de barreira, como ocorreu a Paulo Kogos e a Adrilles Jorge ano passado. Há quem não seja nem cogitado para o banco dos reservas, drama que acometeu os irmãos Weintraub.

Diante do fracasso, em vez de repensar os erros estratégicos, insistem na tática perdedora: cavar confusões insossas com toda e qualquer alma que exponha uma visão do cenário político brasileiro contrária àquela que veiculam na esperança de se tornar lideranças reais. Por que perder uma vez, se é possível insistir na derrota? Por que examinar as falhas em colher simpatias, se é possível angariar ainda mais antipatia?

Ulisses conduziu os gregos à vitória porque imaginou uma tática de tomar Tróia completamente distinta do modelo óbvio de guerra: morrer e matar na praia. É a lição mais antiga sobre a dubiedade própria à política, e também à guerra, sua extensão. Oakeshott apontava a diplomacia, dimensão marcada pela dubiedade, como essência da cultura política. Quem entende isso, tem alguma chance. Quem despreza a lição, está destinado ao ostracismo.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns, Bruna! Um belo tapa com luva de pelica. Resta saber se do outro lado há sutileza suficiente para perceber o tapa. Muitos não têm inteligência suficiente para receber a mensagem ou fingem que não é com eles.

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