BICENTENÁRIO丨Fragmentos da Independência: o “Fico” de D. Pedro

Amanda Peruchi
Amanda Peruchi
Doutora em história e pesquisadora da história do Brasil do século XIX

Após a partida de D. João VI, D. Pedro não ocultou o desejo de regressar logo a sua terra natal, e tampouco escondeu a lealdade aos seus compatriotas do lado de lá do Atlântico – sobretudo nas diversas cartas que passou a trocar com seu pai ao longo do ano de 1821. Em uma correspondência de 4 de outubro, por exemplo, ao comentar alguns “motins e boatos muito fortes” que se espalhavam pela cidade do Rio de Janeiro a favor de uma certa separação política, D. Pedro reafirmou a sua fidelidade.

Nas palavras do Príncipe Regente, “a Independência tem-se querido cobrir comigo e com a tropa; com nenhum conseguiu, nem conseguirá, porque a minha honra e a dela é maior que todo o Brasil; queriam-me, e dizem que me querem aclamar Imperador; protesto à Vossa Majestade que nunca serei perjuro, e que nunca lhe serei falso; e que eles [até] farão essa loucura, mas será depois de eu e de todos os portugueses estarmos feitos em postas, é o que juro à Vossa Majestade, escrevendo nesta com o meu sangue estas seguintes palavras: juro ser sempre fiel à Vossa Majestade, à nação e à Constituição portuguesa”.

Pedro não contava, porém, que os moradores do Brasil se mostrariam cada vez mais insatisfeitos com o abandono de D. João VI e, principalmente, com o plano das “Cortes Gerais…” para a antiga colônia portuguesa – como vimos no texto anterior. Após a notícia da ordem para o retorno de D. Pedro e de sua família chegar ao Brasil em dezembro de 1821, habitantes das diversas províncias (especialmente da região meridional) começaram a enviar apoios a sua permanência.

Redigida em 24 de dezembro de 1821 – e contando com mais de 240 assinaturas –, a Representação da Junta de Governo Provisório da Província de S. Paulo, a S. A. R., o Príncipe Regente do Brasil, foi apresentada pelo vice-governador geral dessa província, o senhor José Bonifácio de Andrada e Silva, aos 3 de janeiro de 1822. Por meio de tal documento, a Junta pedia claramente para que D. Pedro se demorasse e não deixasse “a este Reino em mísera orfandade”.

Também em dezembro, no dia 29, ao Príncipe Regente foi entregue o Manifesto do Povo do Rio de Janeiro sobre a residência de Sua Alteza Real no Brasil, dirigido ao Senado da Câmara. Já em 9 de janeiro do próximo ano, no decorrer de uma audiência do Senado, um documento com mais de 8 mil assinaturas foi lido por José Clemente Pereira – então Procurador Geral da Província do Rio de Janeiro – e levado ao conhecido de D. Pedro.

Daí, a D. Pedro só restou atender aos pedidos dos moradores do Brasil, contrariando as “Cortes Gerais…” e a sua própria vontade. Em 9 de janeiro de 1822, o Príncipe Regente vociferou a primeira das suas duas frases mais importantes ditas naquele ano: “Como é para o bem de todos, e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao povo que fico. Agora só tenho a recomendar-vos união e tranquilidade”. Enquanto para D. Pedro, tal ato parecia uma boa estratégia para acalmar o ânimo dos locais, para esses, uma vez que o Príncipe Regente tinha desacatado uma ordem da sua própria nação, o caminho para outros planos estava aberto…

 


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