BICENTENÁRIO丨Fragmentos da Independência: a batalha contra o Comandante das Armas

Amanda Peruchi
Amanda Peruchi
Doutora em história e pesquisadora da história do Brasil do século XIX

Em janeiro de 1822, como vimos no texto anterior, D. Pedro pediu “união e tranquilidade” aos brasileiros. E o cenário, aparentemente, se mostrava propício para que o desejo do Príncipe Regente se concretizasse – ao menos num primeiro momento. D. Pedro, porém, parece não ter considerado todas as implicações do seu ato e toda a conjuntura que se formava. Muitos de seus compatriotas portugueses que se encontravam no Brasil, por exemplo, eram contrários à sua decisão; além disso, a maior parte da sua tropa era um corpo destacado do exército português e cumpria ordens diretas de seu pai.

Um dia após o “fico”, membros do Partido Português e tropas da Divisão Auxiliadora de Voluntários Reais de Guarnição deram início a uma agitação a favor dos portugueses. Durante o ano de 1821, a propósito, esses mesmos homens, liderados pelo então Comandante das Armas da Corte e Província do Rio de Janeiro, o General Jorge de Avilez (1785-1845) – responsável por controlar os frequentes tumultos populares depois da partida de D. João VI –, já pressionavam D. Pedro a regressar a Portugal.

General Avilez

Quando o Príncipe Regente tornou conhecida a sua decisão, o General Avilez precisou agir: ao que temos notícias, ele planejava esperar D. Pedro e sua família saírem do Teatro São João, levá-los para Santa Cruz e, depois, para a fragata União, que os conduziria a Portugal. Tal plano, é verdade, não saiu do papel; mas isso não significou que o Comandante das Armas não tenha tentado fazer D. Pedro cumprir as determinações das “Cortes Gerais…” e jurar às bases da Constituição Portuguesa.

No dia 10 de janeiro, o General Avilez ocupou militarmente o morro do Castelo. Em contrapartida, aqueles que eram favoráveis à causa brasileira – o General Joaquim Xavier Curado, o Coronel Luís Pereira da Nóbrega de Sousa Coutinho e o Brigadeiro Joaquim de Oliveira Álvares – convocaram imediatamente os seus comandados para apoiar D. Pedro. Concordando com a iniciativa dos três militares, o Príncipe Regente encarregou-os de reunir regimentos e corpos de milícias e mandou-os aceitar, inclusive, voluntários. D. Pedro, além disso, solicitou reforços às Províncias de São Paulo e Minas Gerais. Em poucas horas, uma legião de cidadãos disputava o direito de alistar-se no exército do Príncipe Regente; mais de 6 mil homens, entre eles alguns padres, desejavam pegar em armas para defender o Brasil.

O General português, no entanto, se viu cada vez mais acuado e precisou se transferir para o outro lado da baía de Guanabara. Ali, ele ficou por quase um mês e só foi embora após D. Pedro ir ao seu encontro, em 9 de fevereiro de 1822. Nessa ocasião, o Príncipe Regente alertou-lhe dizendo:

“Se não partirem logo, faço-lhes fogo e o primeiro tiro quem o dispara sou eu!”

Daí, mansos como cordeiros, como contou D. Pedro, a divisão de Avilez começou a deixar o Brasil. D. Pedro assim resolvia, sem muitos alardes, a primeira batalha enfrentada pelo país que ainda se formava; essa, como ainda veremos, foi a primeira de tantas outras que fundamentaram a nossa Independência.

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