VITOR MARCOLIN | É normal, mas injusto

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Uma crítica à mídia

Convido o leitor a acompanhar-me numa crítica à mídia. Inicialmente, é imprescindível, pela força do senso das proporções, estabelecer o ponto de vista do crítico: eu. Sou um mero CPF desprovido de qualquer meio de acesso aos bastidores da política brasileira. Ponto. Isto implica dizer que, quando disponho de uma dose extra de paciência, só posso analisar os fatos que chegam até mim da mesmíssima forma como chegariam a qualquer outro mero CPF: por meio da linguagem midiática, com direito integral a todos os seus consagrados chavões, entonações, pausas, tiques nervosos, vícios e dubiedades.

Já me livrei daquela ânsia cretina, típica da adolescência, de apresentar propostas – frequentemente indecentes – para o estabelecimento de uma sociedade perfeita. Basta estudar um pouquinho de filosofia, história e religião para constatar que, dada a realidade da condição humana decaída, uma sociedade perfeita é uma impossibilidade que só não surge no horizonte de percepção de doentes mentais. A realidade é mais simples: dado que a política é a disputa permanente pelo poder, uma conjuntura política favorável à boa vivência social é precisamente aquela que garanta a manutenção do sistema de pesos e contrapesos, da vigilância permanente sobre o exercício do poder.

Daí o papel fundamental da mídia — que é o que vamos criticar neste artigo. Quando ela — por compromissos ideológicos, interesses econômicos ou uma mistura abjeta das duas coisas – favorece, explícita e desavergonhadamente, um dos concorrentes ao poder, arrasta consigo a opinião pública. Dito de outra forma: a mídia pode facilmente favorecer à desestabilização da ordem política vigente; à ruptura disto que ela chama, com a boca cheia, de “Estado Democrático de Direito”.  Mas, nota-se, não se trata de um engajamento em prol da “democracia”, da lei, da ordem ou da justiça — acho que fui suficientemente claro quando falei dos compromissos ideológicos e interesses financeiros. Não. Hoje no Brasil os principais veículos da mídia, na TV e na Internet, claramente favorecem um lado. E não é o lado que o povão defende quando sai, em peso, às ruas.

A situação, como disse o amigo colunista Sanquixotene de la Pança, é normal, porém injusta. Normal porque esta é a dinâmica do jogo político; e injusta porque o prato da balança que sustenta os discursos redigidos para os políticos e jornalistas pelos universitários pesa mais para um lado. Quando eu era mais jovem, e vivia limitado pelo horizonte cultural e religioso do confortável ambiente familiar, achava estranhíssimo o fato de praticamente todas as ideias que eu ouvia na escola, na rua ou na própria mídia serem perfeitamente contrárias àquelas do meu mundo. Por que ninguém defendia o que eu defendia? Por que ninguém tinha apreço pelo que eu tinha apreço? Por que ninguém simpatizava com o que eu simpatizava? Por que raios as minhas ideias eram tão estranhas à classe falante no Brasil? Era normal, mas injusto.  

É injusto que haja um monopólio ideológico. Como explicou o professor Olavo de Carvalho — filósofo brasileiro mais conhecido pelos seus palavrões no YouTube do que pelos seus livros, infelizmente –, desde a década de 1960 os comunistas, e revolucionários de toda espécie, começaram a ocupar espaços nos campus universitários e nas redações dos jornais, fazendo com que a tônica das opiniões proferidas pela classe falante guinasse para a esquerda – e lá permanecesse ad aeternum. O mal, perceba o leitor, não é propriamente a existência da esquerda; mas o seu domínio completo das narrativas sobre a vida política, cultural e social do país. Tudo o que não advém das redações progressistas é negativo. Ora, vá enganar a mãe!  

Desde que entramos neste infernal tempo eleitoral, percebo as pessoas a defender, ainda que de modo desorganizado e frequentemente histérico, valores bem objetivos: responsabilidade, honestidade, justiça, respeito aos valores da religião e da família. E a mídia ouve a voz das ruas, a voz do “poder que emana do povo”, e oferece a devida ressonância? Obviamente não. Pelo contrário: impõe a mordaça, agora com o devido respaldo jurídico do Supremo T.F. Mas os antidemocráticos são os pais de família, as vovós, os jovens que saem às ruas num esforço patriótico — mas desesperado – de fazer valer, pelo menos, o artigo 5º da CF Nacional. É normal, mas injusto.  

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