Baseado em um episódio da biografia de São Pio de Pietrelcina
Madrugada. A meio caminho entre Florença e San Giovani Rotondo, o Sr. Biavate começou a cabecear no volante. Podia ter parado no meio da estrada, mas a teimosia o fez seguir adiante até um posto de gasolina onde tomou dois cafés grandes e jogou água fria na cara, na nuca e até na cabeça, emporcalhando bastante o chão do banheiro.
Quando saía, olhou em volta e viu que era um lugar bem tranquilo e seguro, poderia tirar umas horinhas de sono ali mesmo, no carro, com as janelas abertas. No entanto, a teimosia falou mais alto de novo. “São só mais três horinhas”, pensou, “eu consigo!”.
Entrou no carro sentindo-se renovado e muito bem disposto. O cansaço e o sono pareciam ter definitivamente passado. Fez o Sinal da Cruz ao passar por uma capelinha que havia ao lado do posto e pôs-se de novo na estrada, confiante. Alguns minutos de viagem e começou a cabecear outra vez. Não muito depois, dormia a sono solto.
Acordou assustado, sem saber o que havia acontecido. Não lembrava de nada. Estava em San Giovani Rotondo, em frente ao Mosteiro. Era de manhã e os sinos chamavam para a Missa. Meio zonzo, desceu quase que automaticamente do carro e seguiu para a entrada da igreja. Enquanto fechava a porta, teve certeza de ter escutado uma voz que lhe disse:
– Agora, você assume!
Assistiu à celebração distraído, um tanto confuso, outro tanto transtornado. Fuçava em suas memórias, revirava-as, e suas últimas lembranças eram dele na estrada, pouco após ter saído do posto. Depois, era tudo um imenso nada. Notou, algumas vezes, que lá do altar o padre olhava com certa severidade, o que deixava ainda mais desnorteado.
Terminada a Missa, foi atrás do padre, que já o esperava. Pediu-lhe a bênção e recebeu um leve tabefe na cara:
– Bom dia, dorminhoco! Deus te abençoe!
– Padre? – o Sr. Biavate balbuciou meio perplexo, quando foi interrompido:
– Padre o quê, hein? Padre o quê, dorminhoco? Acha que é divertido dar trabalho pro Anjo dos outros?
O homem ia falar alguma coisa, mas o religioso continuou:
– Pois fique sabendo que ainda há pouco, enquanto você dormia igual criança no banco do carro, meu Anjo teve que ir lá ajudar o teu, homem! Dirigiu três horas até aqui enquanto você roncava! Agora, vai pra casa, que a tua mulher e os teus filhos estão lá te esperando e eu tenho mais o que fazer! Mas depois volta pra se confessar, hein? Agora, vai, dorminhoco, vai, vai! E que Deus te abençoe!
Com mais um tabefe na cara, o Sr. Biavate deixou a igreja ainda atrapalhado e confuso, mas obedeceu ao padre. Foi para casa e, mais tarde, voltou ao Mosteiro para se confessar e agradecer.
Essa história é fantástica, mas está sem os detalhes tão enriquecedores da biografia do Padre Pio que eu li. Leônidas, parabéns pelo trabalho.
obrigado, Leonel! o conto é mais um recorte daquela história mesmo.