SANTO CONTO | O Batismo

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

É, irmão, eu era um dos que estavam lá quando aconteceu. Tive esse privilégio. Eu seguia o Batista já fazia um tempo, tinha sido batizado por ele lá no Jordão, e todo dia eu estava lá escutando o que ele tinha a dizer, que ele era um homem santo e inspirado!

E veja só você, um dia antes estavam lá uns fariseus que ficaram importunando o Batista, alguns cheios de malícia, dava pra ver, perguntando como é que ele podia batizar as pessoas se não era o Cristo, nem Elias, nem o profeta, e então o Batista respondeu com aquele olhar que chicoteava e aquela voz – a voz que clama no deserto, ele dizia – que parecia um rugido:

Eu batizo na água, mas no meio de vós está quem não conheceis. Esse é o que há de vir depois de mim, ao qual não sou digno de desatar a correia das sandálias!

É eu sei, arrepia mesmo. E imagina então pra quem estava lá. Mas, como eu ia te falando, no dia seguinte foi que Ele apareceu. Era dia movimentado lá no rio, tinha muita gente, o Batista inspirado, e então Ele chegou. E vou te confessar que não dei lá muita importância não, pra mim era só mais um que vinha seguindo a voz do Batista, mas aí ouvi alguém cochichando que era primo dele, e o próprio Batista apontou e falou:

– Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo!

Os dois se abraçaram sorrindo, e conversaram lá entre eles, mas eu não estava tão longe, apurei o ouvido e consegui escutar a conversa. O Batista parecia contrariado, dizia que era ele que tinha de ser batizado pelo primo, mas o Rabi falou:

– Deixa por agora, pois convém que cumpramos toda a justiça.

E só com essa frase o Rabi se convenceu, e se deixou batizar, e vou te contar, eu que ando com Ele já tem um bom tempo, e que já vi tudo quanto é prodígio e milagre que Ele faz por aí, eu  te digo, nunca vi coisa mais bonita na minha vida toda até agora: quando Ele saiu da água, de repente desceu um clarão do céu, bem em cima d’Ele, no formato de uma pomba, e de lá de cima veio uma voz que disse:

– Eis meu filho muito amado, em quem ponho toda a minha afeição.

E depois disso o clarão foi embora, mas o Rabi ainda ficou iluminado um tempo, todo mundo podia ver, alguns até tinham caído de joelho, e oravam pro céu, na direção de onde a luz tinha vindo. Aí os dois se abraçaram de novo e o Rabi seguiu o caminho d’Ele, mas já com um monte de gente indo atrás. Eu fiquei lá meio aparvalhado, o coração batendo forte, meio sem fôlego.

Voltei pra casa naquele estado, e não dormi. Mas no dia seguinte eu estava lá de novo, e vi o Tiago e o João – é, eles mesmos, os do Zebedeu, que estão lá do lado d’Ele agora -, os dois conversavam com o Batista, pareciam meio tontos, igual eu. Só vi que o Batista apontou pro Rabi, que andava por aqueles lados de novo. Escutei de ele falando outra vez “Eis o Cordeiro de Deus”, e então os dois saíram correndo atrás do Rabi. E eu, que, você sabe, nunca fui lá muito esperto, cheguei pro Batista e perguntei o que é que eu devia fazer. Ele me deu aquele olhar de chicotada e falou:

– Estulto! Não acabaste de ouvir? Eis o Cordeiro de Deus! – E apontou pro Rabi, que já ia longe com uma pequena multidão junto, o Tiago e o João já ali junto d’Ele, cada um de um lado.  

Saí correndo também, desajeitado, envergonhado. E estou nessa desde então, seguindo pra todo lado o Rabi, o Cordeiro de Deus, conforme o batista, o Messias, conforme muita gente por aí – eu, inclusive! -, e agora é tanta gente seguindo o homem, que, se você fica pra trás, só enxerga Ele pequenininho, lá longe, mas com essa voz que chega alta e clara, e tão bonita, pra todo mundo.

Pois é, irmão, é isso mesmo. Eu vi o Batismo do Messias…


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