SANTO CONTO | Corações em chamas

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Baseado nas experiências místicas de Santa Margarida Maria Alacoque

Como fazia sempre às quintas à noite, Irmã Maria dirigiu-se à Capela do Santíssimo e lá se pôs a adorá-Lo. Tinha especial amizade com Jesus havia tempos a pequena monja, e naquelas três horas semanais, sofria com Ele as angústias do Getsêmani. E, como em tantas dessas ocasiões, aquela foi uma noite de “visita”.

Segundos antes de Ele chegar, Irmã Maria já havia sentido Sua aproximação. Seu coração acelerou, como costumava acontecer, mas daquela vez ela sentiu uma emoção nova, era como se seu peito queimasse. Então, ali estava Nosso Senhor, túnica branca e manto vermelho, braços abertos, a sorrir-lhe. Convidada por aquele sorriso, ela pousou sua cabeça em Seu divino peito e, por um longo tempo, pôs-se a sentir as maravilhas de Seu amor, os segredos insondáveis de Seu Sagrado Coração.

O tempo que Irmã Maria passou ali foi indefinido. Horas, minutos ou segundos, a ela lhe parecia que estava na Eternidade. Aquele calor que ali abrasava seu coração, a monja o sentia milhares de vezes mais intenso no peito do Divino Mestre. Em determinado momento, Ele falou-lhe:

O meu Divino Coração está tão abrasado de amor para com os homens, e, em particular, para contigo, que, já não podendo conter em Si as chamas de Sua ardente caridade, precisa derramá-las por teu meio, e manifestar-se-lhes para os enriquecer de Seus preciosos tesouros, os quais contêm as graças santificantes e as graças salutares indispensáveis para os apartar de um abismo de perdições.

A monja não pôde conter sua surpresa. Embasbacada, respondeu, baixando a cabeça:

– Senhor, por que eu? Por que tal missão, por meio de mim? Eu, Tua tão indigna serva, não sou merecedora!

Ele então a olhou com carinho:

Escolhi-te a ti, como abismo de indignidade e ignorância, para a realização deste grande desígnio, para que tudo seja feito por mim.

Ela novamente curvou-se, submetendo-se à vontade de Deus, e quando O olhou, viu que Seu Coração estava exposto, a pulsar fora do peito, ardendo numa admirável chama que brilhava mais que a luz do sol, cercado e machucado por espinhos, com uma chaga aberta a sangrar, e, sobre ele, uma cruz. Jesus então pediu à Sua querida filha:

– Dá-me teu coração.

Ela aquiesceu. Ele então retirou-lhe o órgão do peito e o colocou dentro do Seu. Maravilhada, com uma ferida aberta em seu lado, a monja pôde ver seu ínfimo coração a pulsar como um minúsculo átomo, dentro daquela fornalha ardente. Jesus então o devolveu em chamas ao peito da filha amada, e disse:

Eis aqui, minha dileta esposa, um precioso penhor do meu amor, que no teu peito encerra um pequena centelha das mais vivas chamas dele, para te servir de coração e te consumir até o último momento, e cujo ardor não se extinguirá, nem poderá encontrar senão um pequeno refrigério numa sangria, cujo sangue eu marcarei de tal modo com minha cruz, que essa operação te há de trazer mais humilhação e sofrimento do que alívio. E como sinal de que esta grande graça que acabo de te conceder não é fruto da imaginação, e que é fundamento de todas as coisas que ainda tenho a te conceder, a ferida aberta em teu lado, ainda que esteja fechada, doerá para sempre; e, se até agora não tomaste senão o nome de minha escrava, eu te dou o de discípula dileta do meu Coração.

Depois disso, Ele se foi. A abençoada monja ainda permaneceu um longo tempo em transe, maravilhada, e uma alegria indescritível, um certo estado de êxtase ainda a acompanharia por muitos dias, deixando-a alheia ao sono, à fome, à sede, ao frio e ao calor, e indiferente quanto às fofocas, maledicências e ofensas de outras Irmãs maldosas ao redor. Ela levava dentro de si a chama do Amor Eterno, e a dor aguda em seu lado, junto com o ardor em seu peito, faziam-se ocasião de regozijo. Seu coração era semelhante ao d’Ele.


DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor