SANTO CONTO | A cura de Abgar

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Baseado nos registros de Santo Eusébio de Cesareia

Isolado em uma câmara distante de todos, o rei Abgar via seu corpo se deteriorando dia após dia, coberto de pústulas que espalhavam um fedor de podridão à medida que se multiplicavam. Ataduras nas mãos, nos pés e no rosto, que ia se desfazendo. Uma vez por dia seu médico pessoal ia visitá-lo acompanhado de alguns servos que, aterrorizados, levavam-lhe comida e água, que ele conseguia ingerir em quantidades cada vez menores. Pela cidade, espalhavam-se silêncio e tristeza, o povo aguardando a hora da fatal notícia sobre seu querido monarca.

Mas o doente, ao contrário dos súditos, mantinha-se sempre muito alegre. Guardava consigo dois tesouros que lhe davam uma esperança inabalável de que tudo iria terminar bem: uma carta escrita pelo nazareno Jesus, que ele tanto andara procurando semanas antes, e um retrato do Rabi, que, segundo lhe garantira o emissário que o levara para si, fora gravado por Ele próprio. Assim, apesar da doença que ia consumindo seu corpo, ele vivia feliz e orava.

Estava orando quando as cornetas romperam o silêncio da cidade naquela manhã. Pouco depois, entrou ali um de seus emissários trazendo consigo um homem de olhos negros, e cabelos e barba muito escuros:

– A paz seja contigo, Abgar, Senhor de Edessa.

– A paz! – o rei sorria por detrás das ataduras.

– Sou Judas Tadeu, e venho em nome de meu Senhor, Jesus Cristo, que ressuscitou dos mortos e ascendeu ao Céu para reinar sobre nós por toda a Eternidade. Crês nisso?

– Creio! – Abgar sentia seu coração acelerado – E sei também que é Ele o Messias, enviado pelo Pai para nos salvar, conforme nos asseguram as Escrituras, e conforme Ele próprio me escreveu.

– Grande é tua fé homem! – o Apóstolo sorria admirado. Tens ainda a carta que Ele te escreveu?

– Guardo aqui comigo – o rei estendeu com a mão trêmula a carta.

– Ótimo. Agora, desfaz-te de todas tuas ataduras.

 O enfermo obedeceu, não sem certa dificuldade. Em alguns lugares, parte das ataduras grudava nas feridas, e pedaços de pele foram arrancados junto com as faixas. Um corpo todo purulento mostrou-se diante do Apóstolo, que então esfregou a carta no rosto do doente enquanto fez uma oração em voz baixa. Quando terminou, a mensagem havia sido completamente apagada, e Abgar estava restaurado e recomposto, trajando vestes reais. Ele caiu de joelhos e deu graças aos Céus e a Jesus.

Naquele dia, houve enorme festa em Edessa, e toda a cidade foi batizada.


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