SANTO CONTO | A consolação

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

À memória de Santa Inês de Roma

Os guardas que passavam preferiam disfarçar e fazer que não viam o casal cristão que chorava desconsolado havia já oito dias diante do túmulo da filha nas imediações de Roma. Eram os pais da pequena Inês, menina que ainda aos doze anos atiçara a lascívia dos nobres pagãos e, aos treze, enfim, fora lançada ao martírio por se recusar a trair Aquele a quem jurara fidelidade eterna.

A pequena fora submetida a todo tipo de provação, do esticamento em cordas até o fogo, da tortura psicológica às várias tentativas de estupro, e de tudo isso fora preservada por seu anjo protetor, por meio de prodígios e mais prodígios. Os pais da pequena acompanharam maravilhados cada tentativa frustrada de execução, mas, quando enfim Inês foi sentenciada à decapitação sem que houvesse outro milagre salvador, desabaram. Viram aterrorizados a cabeça de filha ser separada do corpo, seu sangue encharcar o chão e seus restos serem rolados com indiferença pelo pé do carrasco, para que se desse prosseguimento às execuções.

Agora, ali estavam, surdos aos consolos que lhes levavam parentes, amigos e conhecidos, sem comer e sem dormir, chorando quase o tempo todo, num misto de tristeza e raiva. A mulher, entre soluços, tremia e batia no peito, olhava para o céu e pedia para que Deus a levasse também. O homem chorava quieto, olhava em silêncio para o túmulo da filha, e então tinha explosões de raiva, socava a terra, maldizia os pagãos e imprecava contra Deus, furioso.

Mas no fim daquele dia, no momento em que a tarde e a noite se confundem na penumbra, quando o casal parecia já extenuado e seco de lágrimas, um clarão se fez de repente ali. Os dois olharam espantados, e da luz viram surgir a filha, acompanhada de muitas outras moças e meninas, todas trazendo consigo ramos de palmeira. Inês também trazia lírios, cujo perfume se espalhou dali por toda Roma por dias, e uma pequena ovelha entre seus braços.

Ficaram atônitos, a mulher quis correr para abraçar a filha, mas não conseguiu mover-se. Inês sorriu para os dois:

– Mãe, não se preocupe, que estou bem. Pai, acalma o seu coração. Eu estou com Nosso Senhor agora, e não poderia estar melhor. Foi Ele quem guardou minha pureza e me preservou dos sofrimentos que meus algozes quiseram me infligir. Ele esteve o tempo todo comigo, até meu último segundo nesse mundo, e foi Ele próprio quem foi me buscar e me levou para o Céu. Agora sou d’Ele pela eternidade, como sempre desejei. Mas também quero que vocês estejam comigo aqui, quando for a hora, então peço: sejam fiéis a Jesus, não briguem com Ele. É o que Ele quer: sejam fiéis a Ele, e orem sempre. Agora, fiquem em paz. Eu os amo pela eternidade. Adeus!

A menina e suas companheiras então desvaneceram. O casal, de joelhos, abraçou-se e chorou um novo choro. Oraram em ação de graças e, com seus corações consolados, foram embora, felizes.


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