SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Eu, Política, Futebol, e os Estaduais (texto de 2007)

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

É preciso ser Quixote de vez em quando


Como sigo com o braço em recuperação e começaram os campeonatos estaduais de futebol no Brasil, resolvi trazer um texto antigo meu, de 2007, que pega gancho nesta parte da temporada para falar de política e de mim. Pouco mudou desde lá. Isto sou eu sendo Quixote.


Artigo publicado originariamante aos 7 de março de 2007.

Título Original: “Futebol?! Outra vez?!?! Ô, vício…”

Resumo Original:  <<Acho que meu blogue tornar-se-á uma bela dialética entre Futebol e o Aquecimento Global. Até parece que não há mais nada sobre o que se escrever “ogendia”…>>


Indo ao que interessa, sempre fui favorável à globalização e à livre circulação de pessoas, bens e serviços [Serviço circula?! Não sei. O problema é dele; mas se ele quiser, não vou impedir], com concorrência global e planetária para absolutamente ao que desse na telha, desde que respeitados certos limites necessários a convivência pacífica entre os seres humanos [O que a pessoa faz em casa, é problema dela, mas não precisa (nem pode; nem deve!) ficar expondo na rua…].

Dito isso, caio logo em contradição; pelo menos, aparente. Explico!

Tal idéia leva, fatalmente, a uma uniformização das regras impostas a todos. E esse é, precisamente, um dos pontos a se evitar para que a liberdade funcione de pleno.

Ora, uma das maravilhas da liberdade de circulação – o tal “direito de ir-e-vir” – é, precisamente, conceder o direito às pessoas de saírem de um local que não lhes agrada para outro em que se sinta melhor. Se as regras e costumes são uniformes, é IMPOSSÍVEL o exercício dessa liberdade, pois não importa de onde se sai e de onde se chega, o local é exatamente o mesmo…

E, vede bem, regras e costumes vão desde o direito a jogar futebol aos domingos até a poder dar umas palmadas nos filhos; da existência da menoridade penal até a ser possível dirigir automóveis sem “tirar carteira”; de fumar – tabaco ou maconha, o que seja – até a educar os filhos onde se queira – em casa ou em colégio “gratuito”; de a andar pelado na rua até ao casamento homossexual; da ostentação de símbolos religiosos até mesmo a torcer para o Internacional [crime lesa-humanindade, no meu humilde entender]; etc. Só há liberdade quando existe escolha e só existe escolha quando se têm opções…

Portanto, só pode existir liberdade num mundo em que os homens, organizados em pequenas comunidades, possam exercer sua, digamos, soberania de maneiras diversas, distintas, diferentes, mas sem coibir a outros que saiam de lá, ou por lá passem, ou por lá se estabeleçam, desde que respeitem as regras e costumes locais. Lógico! [Lógico?!]

Em suma, essas comunidades não podem proibir o contato com outras culturas; não podem determinar seu auto-isolamento. Afinal, é das experiências que se evolui.

[Se o texto parece confuso, não te preocupes. É confuso. Afinal, reflete pensamento originado numa mente igualmente confusa. Contudo, não me abandones agora. Juro que faz sentido no fim. Segue comigo, por favor.]

Bem, eu falava de futebol. Pois, desse texto, descobri, por enquanto, que sou um liberal, empirista, e defensor do princípio da subsidiariedadeaquele que diz que o Estado não pode fazer aquilo que a municipalidade é capaz de fazer; o Município não pode fazer aquilo que a comunidade é capaz de fazer; a comunidade não pode fazer aquilo que a família é capaz de fazer; e a família não pode fazer aquilo que o indivíduo é capaz de fazer.

Sendo eu assim, portanto, não posso ficar calado, inerte, diante do que estão fazendo com os campeonatos estaduais – OS NOSSOS CAMPEONATOS ESTADUAIS.

O futebol brasileiro nasceu com os estaduais. Ao pegar-se a história dos nossos torneios, sem que houvesse praticamente comunicação entre as federações, os clubes organizaram-se em campeonatos estaduais. Mesmo nos Estados em que a regionalização era ainda mais forte, com ligas internas, os campeões enfrentavam-se para determinar o melhor do Estado!

O Brasil possui Doze Grandes clubes, porque eles despontaram nos Estados mais importantes. Há lideranças regionais no PR, GO, BA, PE, PA, etc., porque eles dominaram o cenário estadual por décadas. O futebol brasileiro é grande do jeito que é por sempre ter sido descentralizado e livre! Por não existir um “futebol brasileiro”, mas um gaúcho, outro paulista, e outro carioca, mais um mineiro, e pernambucano e etc…

Contudo, hoje, o nosso futebol sofre por um processo de apequenação; por um processo de “belgicização”, de “suiçização” de nosso esporte preferido e de nossos clubes. [Nota para quem desgosta de futebol: no contexto ludopédico, isso é ofensivo!]

Os estaduais ainda têm a vantagem que mais clubes estão em funcionamento, levando as cores, a história e a paixão dos habitantes do bairro ou das pequenas cidades por onde passam, gerando mais riqueza, divertindo mais pessoas, descobrindo mais talentos.

A “verdade” propagada é que o torcedor não gosta dos Estaduais. BA-LE-LA. Os torcedores não gostam de ver o rival ganhar, e isso acontece bastante nos estaduais. Só que também acontece de o próprio time ganhar muito também. Aí, os estaduais não têm problema algum.

A verdade é que quem não gosta dos estaduais são: os ideólogos do futebol; quem tenha medo de perder; e quem seja as duas coisas ao mesmo tempo.

Por fim, concluo.

Se algum governo tem que acabar, que sejam os centrais.

Se algum campeonato tem que acabar, que seja o Nacional.

¡Vida longa aos campeonatos estaduais do Brasil!

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