SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Quando a grama do vizinho é mais cinza

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Não se tem registro de um Rio Grande tão grande quanto agora; mas as pessoas têm sido GIGANTES em resposta



Não sei se é por que a tragédia ocorre por aqui, mas tenho me impressionado com a mobilização. Ninguém mandou. Ninguém ordenou. Ninguém forçou ninguém a nada. Isso tudo é simplesmente gente agindo por entender ser o certo a fazer. Até gente que se entenderia caso estivesse preocupada consigo mesma está ajudando. É a tal da “grama do vizinho” mais CINZA…


Terça-Feira, 17 de Tercembro de 524

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Um amigo mora na Palestina. Ele também é gaúcho; de Uruguaiana. Porém, por questões pessoais, acabou se mudando para a terra dos pais. Já está lá há um bom tempo.

Há meses que a região dele é sobrevoada por bombas. Ele está bem, o conflito não é diretamente onde ele vive, mas o país todo sofre. Em meio às notícias de caos e destruição, nós aqui sempre perguntamos como as coisas andam por lá.

Pois as notícias de caos e destruição começaram a ir agora na direção oposta. O Rio Grande do Sul se vê devastado por um desastre ambiental, um dilúvio, de proporções bíblicas. Apesar de a situação lá continuar ruim, foi a vez de ele começar a perguntar como estão as coisas por aqui. Há vezes em que a grama do vizinho parece mais gris.

Estamos bem, a enchente não é diretamente onde vivemos, mas o estado todo sofre.[*] Ao que ele replica: “estamos em contato com as comunidades em Livramento e Uruguaiana, estamos nos organizando para ajudar as vítimas aí.

Há gente neste momento, com o país onde vive em guerra, se mobilizando para ajudar quem sofre pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Claro que isso se faz através de pessoas que moram aqui, mas ainda assim é algo maravilhosamente estarrecedor.

Filhos de imigrantes nascem com duas almas. Eu disse isso para o meu amigo. Ambas as dele, e as de tantos outros como ele, estão sofrendo. E vários deles estão fazendo esforços para aliviar a dor de tantos outros, monoanímicos, que padecem lá e aqui. A notícia da ajuda da comunidade palestina saiu na quinta-feira passada. É uma história que vale a pena ser contada.

Uma. Pois há inúmeras. Não sei se é por que a tragédia ocorre por aqui, mas tenho me impressionado com a mobilização. No futebol, foram inúmeros os exemplos: Sport; Fortaleza; Atlético Mineiro… Nas cidades pelo Brasil, também: no interior de Minas Gerais; em Florianópolis; em Altamira no Pará… E isso só para listar uns poucos casos.

Ninguém mandou. Ninguém ordenou. Ninguém forçou ninguém a nada. Isso tudo é simplesmente gente agindo por entender ser o certo a fazer. ¿Há exemplos em contrário? Claro que há. Mas esses não importam. Humanidade é fazer o Bem por ser o Bem.

Desta tragédia que passamos agora, o relevante a ser registrado é isso.

[*] Minto. Fiz isso só para a frase manter o paralelo com outra no parágrafo de cima. Há enchente também em Uruguaiana. Há mais de 2.200 pessoas entre desalojados e desabrigados. Porém, politicamente falando, a situação é bem menos grave do que noutras regiões do RS.

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