SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Nascer de Novo

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Retorno à velha planura p’ra ser gaúcho de novo” (Jayme Caetano Braun)

O Dia do Gaúcho acabou virando uma oportunidade para falar da importância de sermos quem somos e do significado de “nascer de novo”.

Meu filho precisava levar para a escola uma poesia gaudéria, possivelmente para um trabalho em comemoração ao 20 de Setembro, o Dia do Gaúcho.

Passei para ele a última estrofe de Galpão Nativo, do inigualável Jayme Caetano Braun. Os versos dizem o seguinte:

Mas se não houver campo aberto
Lá em cima quando eu me for
Um galpão acolhedor
De santa-fé bem coberto
Um pingo pastando perto
Só de pensar me comovo
Eu juro pelo meu povo
Nem todo o céu me segura
Retorno à velha planura
P’ra ser gaúcho de novo

De bobagem, mandei para uns grupos de Zape. Dentre as mais diversas reações, houve uma que disse: “se eu fosse nascer de novo, pediria para ser americano ou australiano.

Ah! Esses meus amigos vira-latas…

Buenas, respondi para ele algo mais ou menos assim:

“Chê, há muitas vezes em que me sinto um bosta; em que eu gostaria de ser outra pessoa. Muito além de um limite saudável, inclusive. Mas, sinceramente, se me fosse dado o direito de escolher nascer de novo, eu escolheria voltar como eu mesmo outra vez.

“Eu detesto minhas imperfeições. Ademais, minha família tem problemas, minha cidade é cheia de defeitos, meu estado é horroroso, e tu bem sabes como é o Brasil; e tudo isso contribui para fazer de mim quem eu sou.

“Só que, ao fim e ao cabo, estaria trocando dificuldades por outras. As que eu tenho, ao menos, eu conheço. Pior, eu, minha família, minha cidade, meu estado, e meu país, nós temos coisas boas – eu estaria as abandonando.

“Não há nenhuma garantia que eu seria uma pessoa melhor nascendo diferente. O que eu preciso fazer é abraçar as qualidades que recaíram sobre mim.

“Nascer de novo diferente não mudaria em nada o desafio. Seguiria sendo tentar descobrir e desenvolver aquilo que há de bom, belo, justo, e verdadeiro no que sou.

“Ouvi um sermão de um padre, certa vez, que me deixou boquiaberto. Ele falou o seguinte: ‘Imaginai tudo de glorioso que Deus criou. Qualquer coisa que amais de verdade: os rios, as florestas, as montanhas. Aí, entendei isto. Após tudo o que Deus criou, ele ainda estava insatisfeito. Afinal, Ele ainda precisava de cada um de vós.’

“Pois é isso. Nós não somos insignificantes. Não podemos abrir de mão de quem somos.”

Escrevo isto de casa. Meu outro filho veio e me deu um abraço do nada. Não pude lhe dar atenção por estar terminando esta coluna. Chato, mas acontece. Porém, esse abraço não tem preço. Eu quero ser um melhor pai.

Sei que não sou perfeito. Só que todo o momento é uma chance de conseguir ser mais.

Estamos sempre nascendo de novo…

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