SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Marçal, a Direita, a Crise, e a Cadeira

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Próximo debate será transmitido no Premiere Combate


Esta semana termino falando sobre a cadeirada do Datena no Marçal. Impossível evitar… Antes, contudo, apresento idéias que serão desenvolvidas nas próximas semanas: sobre o Pablo Marçal e a Direita brasileira; sobre a crise política e suas raízes; e sobre o que tais temas teriam em comum.  


Terça-Feira, 03 de Oitavubro de 524

[para saber mais sobre o calendário tupiniquim, clica aqui.]

I.

Na semana passada (antes do final-de-semana), postei no grupo da Esmeril no Zape o rascunho de algumas idéias que me vieram à cabeça. Foi algo assim:

Tenho o Marçal como um “embusteiro profissional”. Ele só saberia fingir. Esse tipo de gente tem prazo de validade curto, na melhor das hipóteses.

Marçal aproveitou um vácuo existente e o está explorando. Sinceramente, ele pode vir a ser qualquer coisa. Pode, inclusive, dar espaço para as pessoas certas. Eu não apostaria em nada. Pode ser até que valha a pena o risco.

É fácil simpatizar com o Marçal: inimigo do inimigo; fala o que se quer ouvir… A novidade que o Marçal apresenta é de postura. Por exemplo, ele não aparece engomadinho e tampouco afirma que política seja um problema de gestão.

Isso tudo é bastante atraente. Contudo, no fundo,
substancialmente, não haveria novidade. Marçal não me parece ter conteúdo. Ele me passa ser alguém que acredita na técnica.

Agora, crer na superioridade da técnica é justamente o fundamento dessa corja tecnocrata que precisamos combater. Trata-se de um alerta. Apesar da imagem que ele passa, Marçal pode ser parte do problema.


II.

Ao que acrescentei um comentário em áudio, dizendo algo mais ou menos nestas linhas:

É preciso entender que o mais importante de tudo que enfrentamos é uma mentalidade. É difícil de enxergar, pois estamos inseridos nessa. Porém, é nessa mentalidade que se encontra as raízes da crise que enfrentamos.

Essa mentalidade está por trás, por exemplo, do “cientificismo” (a crença cega na superioridade das ciências), do “tecnicismo” (a crença cega na superioridade da técnica), do “tecnologicismo” (a crença cega na superioridade da tecnologia), e do “progressismo” (a crença cega no progresso). Todas essas crenças (e outras mais) são interligadas.

Foi-nos vendido que essas seriam a panaceia capaz de resolver nossos problemas. Isso é impossível, mas houve benefícios suficientes para alimentar a ilusão de que não seria o caso. No entanto, a realidade sempre acaba se impondo. Chegou-se num ponto em que a inviabilidade do projeto começou a ficar aparente.

De aí, a crise. Essa crise não assola apenas o Brasil, mas o Brasil tem suas particularidades.


III.

Nota-se se tratar de material para diversas colunas. É impossível falar de tudo de uma vez só.

Resolvi usar esta semana para vos introduzir as questões. Assim, podeis ir pensando nessas junto comigo. Todos os comentários são bem-vindos.


IV.

Para encerrar, não posso deixar de comentar sobre a cadeirada no debate dos candidatos à prefeitura de São Paulo. Serei o mais breve e sucinto possível.

Marçal pediu para apanhar, e Datena errou ao dar para o seu adversário o que esse queria (além de ter sido um ato impetuoso e covarde, convenha-se). O pessoal anti-Marçal gostou, obviamente, mas não são esses eleitores que decidirão a eleição.

Todavia, não estou convencido de que o Marçal tenha aproveitado devidamente o presente recebido. Isso tem a ver com a imagem dele como candidato. Marçal teria se colocado no pleito como o “macho alfa”. Ele seria o homem com a coragem de enfrentar o “regime”, de representar o eleitorado ansioso por mudanças.

Nesse sentido, teria sido melhor, acho eu, ter demonstrado força ao suportar as dores e querer seguir com o debate. Era a oportunidade de passar a idéia de ser um homem difícil de derrubar, capaz de levar “porrada” e seguir na luta. No entanto, acabou saindo de ambulância.

É muito mais fácil falar do que fazer, mas o candidato é ele; não sou eu. Para mim, isso passou uma imagem de fragilidade, inconsistente com o que ele vinha apresentando até aqui. Ele é o especialista na técnica, e eu sou leigo no assunto; mas essa foi, ao menos, a impressão que me deu. É preciso ver como o eleitorado paulista enxergou esse imbróglio todo.


¡Até a próxima semana!

3 COMENTÁRIOS

  1. Concordo em geral com a tua análise, meu caro. Só acrescento alguns detalhes para refletires.

    Quanto ao Marçal… realmente a única coisa que adiciono ao debate é que de fato ele “não tem concorrência”… aqui na minha cidade (Santos/SP): não tem em quem votar! Em São Paulo, pelo menos tem aí este “menos pior”.

    Nos início sobre os “ismos” o fanatismo religioso, também muito em voga, vale ser citado. Ficou também a lacuna então de qual seria o teu critério (basicamente ‘rejeitastes tudo’) afinal.

    • Oi, Vaz. Obrigado pelos comentários.

      Não entendi em que sentido eu teria “rejeitado tudo”. Falei rapidamente sobre um monte de temas. Só me aprofundei mesmo na questão da cadeirada. ¿Sobre o que exatamente é a tua dúvida? Para te responder, eu precisaria mais informações.

      Sobre o fanatismo religioso, ele não é tão problemático agora; apesar de ser um problema. O ponto aqui é de força, mesmo. Não tem o poder de se impor sobre a atual mentalidade dominante. Dito isso, no fundo, seriam faces de uma mesma moeda: manifestações opostas de faltas e excessos. As soluções para um necessariamente enfrentariam também o outro. ¿Faz sentido?

      • Começando pelo final: sim, é isso!
        Quanto ao “rejeitar tudo”, assim: se exclui-se a técnica, a ciência e a tecnologia o que resta? Eis aí o assunto a aprofundar (“gestão”, na minha opinião)

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