SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Juíza Eleitoral: “Bandeira do Brasil tem lado”

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

É evidente que hoje, a bandeira nacional, ela é utilizada por diversas pessoas como sendo um lado da política. Hoje, a gente sabe que existe uma polarização. De um dos lados, há o uso da bandeira nacional como símbolo dessa ideologia política… Com exceção dos mastros que estão nos prédios públicos, eu entendo que, a bandeira nacional, ela só vai poder ser utilizada como propaganda eleitoral da mesma forma que as outras bandeiras.” (Juíza Ana L. T. Martinez, em entrevista a rádio sobre decisão de proibir o uso da bandeira do Brasil durante a campanha eleitoral)

Reconheci, na minha primeira coluna [esta é a terceira], não ter “menor condição de salvar a alma política nacional.” Nada mudou desde então. Não venho aqui resolver nada. Só quero registrar o nível em que estamos.

Escrevi no Facebook: “Até onde sei, posso estar enganado, mas a bandeira do Brasil representaria o país como um todo. É IMPOSSÍVEL que represente apenas um lado. Se só um lado a usa, isso é outra questão. E nem isso é verdade. O Movimento 65 do P.C. do B. é um exemplo. O que não deveria surpreender, pois, afinal, NÃO há NADA impedindo o outro lado de usar também.”

Eu escrevi isso, mas na verdade há algo impedindo o uso. É ridículo, mas o que impediria o uso da bandeira pela Esquerda é tão simplesmente o fato de a Direita usá-la!

Conhecido meu publicou o seguinte no Facebook há uns meses atrás: “É terrível o que está me acontecendo. Toda vez que vejo minha amada Bandeira Nacional, me vem à mente a famigerada cara do SUJEITO. Essa apropriação devia ser proibida.” Na mesma época, uma típica pessoa ‘da paz e do amor’, postou diversas súplicas: “Queremos nossa bandeira de volta!”; “Essa bandeira é nossa!”; “Devolve nossa bandeira, vagabundo FDP!”; etc.

Ao meu conhecido, respondi: “Perdão, mas isso é um problema pessoal seu (apesar de ser comum ultimamente). Por que cargas d’água eu associaria a bandeira nacional a um político? Ela é e sempre será maior do que isso.” Um problema tão comum que, aparentemente, afetou também a juíza.

Não há o que ser devolvido, pois nada foi tomado. O uso da bandeira pela Direita em geral, e pelo Bolsonaro em particular, de forma alguma proíbe a Esquerda ou quem quer que seja de a usar. Basta pegar. O problema é que, ao ser tocada pela Direita, a Esquerda entende que a bandeira se tornou abjeta: “…me vem à mente a famigerada cara do SUJEITO.

Isso diz muito menos sobre a bandeira do que a opinião da Esquerda sobre a presença da Direita na política nacional. Há quem prefira a morte a ser confundido com alguém de Direita. Aí, a pessoa não consegue pegar a bandeira, vestir-se em verde e amarelo; quiçá, sequer canta o hino.

Claro! Já perdi a voz e alguns meses, quiçá anos, de vida demonstrando para a Direita por que a Esquerda importa. Infelizmente, nossa Direita é capaz do mesmíssimo comportamento. Não se trata aqui de apontar a superioridade de um dos lados. Não existe isso. A diferença é que atualmente a Direita é o lado inconstitucional nessa disputa.

A juíza só agiu dentro dessa lógica manca; uma lógica absolutamente em contradição ao hino à Bandeira:

Salve lindo pendão da esperança
Salve símbolo augusto da paz
Tua nobre presença a lembrança
Da grandeza da pátria nos traz

– Refrão –
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil
– Refrão –

Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul
A verdura sem par destas matas
E o esplendor do Cruzeiro do Sul

[– Refrão –]

Contemplando o teu vulto sagrado
Compreendemos o nosso dever
E o Brasil por seus filhos amado
Poderoso e feliz há de ser

[– Refrão –]

Sobre a imensa Nação Brasileira
Nos momentos de festa ou de dor
Paira sempre sagrada bandeira
Pavilhão da justiça e do amor

[– Refrão –]

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2023

13 COMENTÁRIOS

  1. Essa bandeira é uma vergonha.
    Toda vez que vejo alguém a carregando, tendo o lado político que for, já reconheço o profundo desconhecimento ou conivência com a própria história dela.

      • Paulo, meu estimado autor! Posso sim, é claro!
        Peço desculpas desde já por fazer o comentário crendo que os leitores da revista tenham a noção do mesmo. Vamos lá! Obrigada por perguntar:

        A bandeira em si, originalmente tem em suas cores o que nos permitimos entender como país independente, em liberdade, algo nosso. Uma espécie de selo inicial.
        Infelizmente, o golpe republicano nos deu essa: não só uma cópia muito mal resignificada, como também um lema positivista não só atrasado, como também duvidoso (essa última parte nem nego uma aversão minha ao positivismo que em nossa história nos norteia).

        Não é uma bandeira como símbolo que crítico. É essa bandeira em si. Uma representação do que somos mesmo não sendo. Algo que nos aproximamos porque nos é familiar de certa forma, mas não nos é assimilado totalmente.

        Talvez o leitor de minha resposta creia que eu seja uma espécie de monarquista saudosista, mas não é nem esse o caso. Leio e creio que, como uma cópia mal feita e meio que “aceita porque senão não és patriota”, esse particular símbolo seja é, desde sua origem, quebrado. Algo que não basta para unir a todos em um momento de crise, tal qual os três tesouros sagrados do Japão, após o fim da segunda guerra.

        Não sei se me fiz compreender. Na verdade, espero que tenha colocado ainda mais caraminholas na cabeça de todos!

        Grande abraço!

        • Mil desculpas pela demora, Marcelly. Te entendi agora.

          Só peço que lembres que a bandeira republicana durou apenas 4 dias. Os republicanos foram obrigados a preservar a bandeira imperial. Assim, o elo simbólico com o passado, apesar de ressignificado, foi mantido.

          O mesmo aconteceu com o hino, em que há uma ligação com o nosso passado histórico. Apesar de novo (o antigo hino nacional virou o hino da Indpendência), a música fora composta para a coroação de D. Pedro II.

          Os revolucionários republicanos não venceram todas as batalhas.

  2. Eu em hipótese nenhuma, deixarei de admirar e honrar a minha Bandeira nacional. Sério absurdo ver e escutar essa falácia de um magistrado(a) tentar de uma forma desesperadoras agir contra o símbolo da nossa pátria. Se ela é de esquerda ou direita o respeito é fundamental ao nosso Brasil e a nossa bandeira . Viva o Brasil e não ao despatriotismo.

  3. Na verdade o que me assusta é uma ideia como esta partir justamente de um membro do judiciário brasileiro, que hoje, em seu ativismo, está sabotando nossa nação! Num futuro não tão longínquo, este ativismo nos trará problemas ainda maiores que este!

    • Sim, mas estamos testemunhando o começo do fim. Ainda haverá muito estrago, mas é o que acontece no início da decadência. É preciso paciência e persistência.

  4. Tenho uma Bandeira estendida na minha sacada a muito tempo…..sempre senti uma ponta de inveja do grande nacionalismo dos Estados Unidos e amor a bandeira fortemente abraçada pela população.

  5. Muito bom texto. É tão óbvio que o uso da bandeira não deve ser proibido que dá até preguiça de comentar esse assunto. Quem quiser que use a bandeira. Se te incomoda, não use. Simples.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor