Dilema atual: quem vai em fins de semana a bares e restaurantes normalmente tem de comer/beber/conversar aturando um repetidor de sucessos pop/emepebísticos de antanho. Denominam isso de “música ao vivo”. Sua origem é vaga. Evolução natural? Impuseram? Bem, é deglutir o rango eructando desembolsar couvert ou se pirulitar e abocar alhures.
Lá pra 1985 irromperam amadores levando violão ou teclado pra bares e entoando cantares. Inovação “cultural” espontânea ou plano enrustido? A MPB, retirado o monumental investimento que a impelira por duas décadas, fora substituída por formas cancionísticas primárias e regressivas: sertanejo popizado/urbanizado, pagode pasteurizado e lambada paroxística logo virando axé – binário também e igualmente indigente: ritmo quente conduzindo cantoria/pulação sem teores. Vergávamos sob outra injunção, indigesta, retrocessiva.
Poucos bares e/ou restaurantes hoje dispensam “música ao vivo”, rebento bastardo da MPB, empobrecido entretenimento apelintrado. MPB e música ao vivo são canção, subgênero musical. É índole das intervenções embaralhar conteúdos/categorias, receita para subverter culturas.
Imprevista contrafação, gogós dessa “inovação” cantam para comedores/bebedores/conversadores, ficando um boneco tocando e cantando para platéia com seus objetivos. Piorando, a cantoria estorva o falario, gerando embate poluente, porque os comedores/bebedores/falantes avolumam a palra buscando audibilidade.
Cantar pressupõe audiência, presuma-se. Ninguém quer bancar adereço baldo, simples adorno, presença decorativa. Mas essa desunidade parece regra, irrecorrível.
“Música ao vivo” é conceito contraditório; ao vivo significa transmissão radofônica ou televisiva no ar, hoje denominada “em tempo presente”. Quem cunhou a expressão pretenderia alternativa para música fonomecânica.
Adoniran Barbosa, em comercial da Antártica décadas atrás, perguntou, irreverente/divertido: “Nós viemos aqui pra beber ou pra conversar?”. Adaptando aos invasivos cantares decorativos, saímos pra beber/comer/conversar ou pra ouvir gogós chilreantes? Vira patuscada juntar coisas não complementares/orgânicas, o desarranjo é inevitável.
Os menestréis de ninguém suportam sua intransitividade, exceto se aparecerem torcidas eventuais. Não fazem música, apenas palram simulacros/arremedos requentados de sucessos promovidos décadas atrás pela máquina industrial da canção/mercadoria MPB.
Permitindo-se ou aturando cantar para ouvidos contingentes, os menestréis de ninguém fomentam incomunicabilidade. A música verdadeira vai sendo eclipsada/desbancada por ação deles. Parece algo manipulado sutilmente e executado bovinamente.
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