RESENHA | Idade Média, o que não nos ensinaram

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

A autora do livro foi uma mulher na contramão do consenso acadêmico de sua época

Autores como Alexis de Tocqueville, Johan Huizinga, Eric Voegelin, Christopher Dawson, Ortega y Gasset, Olavo de Carvalho e outros, talvez mais uma meia-dúzia, explicam, cada um a seu modo, como a propaganda anticristã veiculada durante o Iluminismo fora determinante para a formação da opinião pública no Estado Moderno.

A imagem que temos da Igreja Católica e daquela sociedade que cresceu sob a sua autoridade espiritual e moral, a sociedade medieval, é, invariavelmente, negativa. Fundamentados num conjunto carcomido de clichês, os propagandistas anticatólicos e antimedievais tentam, há três séculos pelo menos, dar verossimilhança à ideia de que a sociedade precisa libertar-se das amarras da religião e entregar-se integralmente à administração dos homens de ciência.

Um único fato basta para desconfiar de suas propostas: o Estado Moderno, em nome dos mais esdrúxulos projetos de transformação político-social, encomendou a morte de mais pessoas do que todas as guerras, catástrofes naturais e doenças da Idade Média e da Antiguidade somadas. A conclusão é óbvia: vivemos sob o governo viciado da Democracia, aquele que Aristóteles, no livro III da Política, identificou como Demagogia.

O âmbito acadêmico, gênese de um sem-número de esquisitices que impactam a esfera cultural, funciona como uma espécie de megafone para a propaganda anticatólica. Poucos foram os historiadores sinceros o bastante para denunciar o status quo relativo às narrativas, à formação da opinião pública, à imagem da História veiculada pelas Universidades. Régine Pernoud consta no rol dos historiadores sinceros — e, ipso facto, as bibliografias dos cursos de humanas no Brasil dificilmente subscrevem o seu nome.

Sob a perspectiva dos acadêmicos desta terra, Régine é uma quimera: uma mulher erudita, do meio universitário, mas que não tomou o partido do “empoderamento” feminino. Não. A historiadora francesa dedicou sua longa vida à investigação da Idade Média realizada livremente, sem as amarras dos compromissos ideológicos firmados — desconfiadamente — entre aqueles intelectuais cujo único propósito na vida é a conquista do prestígio acadêmico.

Dona de uma prosa fluida, agradável e clara, Régine trata, no seu Idade Média, o que não nos ensinaram, dos preconceitos que levaram ao descaso, no âmbito do ensino, com a historiografia daquele período. Não só. No livro, a historiadora tece comentários lúcidos sobre o desenvolvimento da arte e o papel da mulher naquela sociedade. Facilmente pode-se supor que o livro não é profundo, talvez seja verdade, mas o valor objetivo da obra está no fato de apresentar novas perspectivas sobre um período histórico tão injustiçado.


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“Residência e peregrinação, realismo e fantasia, tais são os dois polos da vida medieval, entre os quais o homem evolui sem o menor incômodo, unindo um e outro e passando de um a outro com uma facilidade que não voltou a recuperar desde então”.

Régine Pernoud

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