RESENHA丨Os Sofrimentos do Jovem Werther

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Escrito em formato epistolar, o romance de Goethe inspirou o fim trágico de muitos leitores

Quando publicou Werther, em 1774, Johann Wolfgang von Goethe tinha por volta dos seus 25 anos. Escrita com elementos autobiográficos, a história surpreendeu os leitores do longínquo século XVIII — e ainda surpreende, é claro — por dois aspectos essenciais: sob o formato de cartas, os capítulos curtos fazem do leitor um confidente, ainda que, na realidade construída pela narrativa, o leitor não seja o destinatário das cartas, ele participa das confidências do narrador. O segundo aspecto surpreendente, de arrancar lágrimas dos mais sensíveis, é o desfecho da narrativa.

Os sofrimentos do jovem Werther é um livro consagrado, qualquer coisa que se diga sobre ele, portanto, será provavelmente repetitiva e, quiçá, enfadonha, desagradável. Não há, entretanto, risco na leitura e releitura desta prosa de Goethe. Tendo a consciência de que a Literatura é o registro das possibilidades humanas, o leitor participa, experiencia aquela realidade. As crônicas jornalísticas da segunda metade do século XVIII falavam, em tom alarmante, de gravíssimos acontecimentos protagonizados principalmente por jovens com uma curiosa vinculação: eram leitores de Werther.

Desde aquela época formularam-se explicações para o porquê de centenas — talvez milhares — de leitores em toda a Europa levarem a participação nos sofrimentos do Werther às últimas consequências. Dois séculos depois da publicação do livro de Goethe, por volta dos anos 1970, um termo técnico fora cunhado para nomear o conjunto daquelas tragédias: Efeito Werther. Uma boa história, do tipo verossímil para a alma racional, é aquela que consegue não somente propor ao leitor um mero conjunto de possibilidades, mas convidá-lo, com irresistível eloquência, a vivê-las na realidade.

É claro que aquilo fora um exagero, uma atitude extremada fruto da imaturidade dos leitores. Dos maus leitores. Ninguém em sã consciência deixar-se-ia levar pelas sugestões absurdas de uma leitura impactante. Contudo, como as crônicas do século XVIII e a tônica das discussões mais banais da atualidade, não só no âmbito da Literatura mas no da Filosofia e, sobretudo, da Política atestam, as pessoas deixam-se levar pelas leituras com trágica facilidade. Leia, sim, o Werther de Goethe, leitor, procurando observar, longe de qualquer propensão histérica, que o valor da obra está em demonstrar que aqueles sentimentos não envelhecem e capengam; eles são eternos.

Primeira edição d’Os Sofrimentos do jovem Werther em alemão, 1774. Fonte: domínio público.

Referência: Johann Wolfgang von Goethe, Werther, Abril Editora, 1ª edição, São Paulo, fevereiro de 1971, tradução de Galeão Coutinho.

“Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira”.

Goethe

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